Inserido na proposta filosófica socrática, Platão (427-347 a.C.) desenvolveu um amplo e complexo sistema filosófico, que contempla, articuladamente, diferentes questões da filosofia, como ontologia, cosmologia, conhecimento, linguagem, ética e política.
Seus escritos tornaram-se fundamentos do pensamento filosófico, referência fundamental para a cultura ocidental e para os estudiosos da filosofia. As diversas perspectivas teóricas desenvolvidas na história do pensamento, da filosofia clássica grega à atualidade, preservam o contato, ainda que muitas vezes conflitivo, com o repertório filosófico platônico.
Platão redigiu a maior parte de seus textos na forma de diálogo, o que se explica por seu compromisso com o método socrático e por seu entendimento de que a exposição dialógica é o caminho mais adequado ao exame de todos os aspectos envolvidos em um tema, construindo, com segurança, o percurso da multiplicidade de opiniões à verdade universal. Comprometido com a pesquisa filosófica, fundou uma instituição de ensino, a Academia, caracterizada pela metódica investigação das temáticas filosoficamente relevantes.
Com seu projeto de readequação do logos ao ser, a filosofia platônica compreende uma sofisticada tentativa de superação dos impasses legados pelos pensadores pré-socráticos no tocante às relações entre ser e devir. Tal conflito pronuncia-se claramente no contraste entre o eleatismo e o heraclitismo.
Sabe-se que a concepção eleática, iniciada com Parmênides de Eleia, rejeita o fluxo e a mobilidade, ou seja, as transformações do mundo que recepcionamos com nossos sentidos, sob a alegação de que o vir a ser é incongruente com as exigências racionais do ser: uno, eterno e imutável.
Em sentido oposto, Heráclito recusa a noção de estabilidade do ser, afirmando a realidade como transformação incessante de todas as coisas, a racionalidade como o fluxo permanente do devir na harmonia dos contrários.
Platão identifica méritos tanto na filosofia de Parmênides quanto na teoria de Heráclito, avaliando que ambas colocam em relevo importantes aspectos da realidade, no entanto atribui insuficiências ao eleatismo e ao heraclitismo.
De acordo com sua reflexão, a filosofia heraclitiana não supera o plano das sensações e, ao resumir a totalidade do real no devir, inviabiliza o conhecimento das essências, dos seres que são sempre iguais a si mesmos. Quanto à ontologia de Parmênides, seu equívoco reside na suposição do ser uno e na recusa do não ser, desconsiderando-se, assim, a pluralidade de seres.
Platão tampouco se satisfaz com as explicações conciliatórias apresentadas pelos últimos pré-socráticos, dedicadas à conjugação do ser com o devir. Para esse filósofo, é necessário avançar dialeticamente para além de Parmênides e de Heráclito, identificando racionalmente os seres e as causas da geração e da corrupção observadas no devir. Orientado por esse propósito, Platão empreende um itinerário especulativo no interior do qual se elabora sua teoria das ideias ou das formas.
Referência:
- Coleção Os Pensadores, Diálogos / Platão. 5 ed. São Paulo: Nova Cultural, 1991.
Por: Kathleen Almeida