A eletricidade é conhecida pela humanidade desde tempos remotos, embora somente tenhamos tornado ela parte do cotidiano a partir da segunda metade do século XIX. Estudos mais sistemáticos sobre o tema começaram a partir do século XVI e, a partir disso, aplicações e aprimoramentos passaram a ocorrer após a Revolução Industrial.
A rápida expansão da eletricidade inicialmente se voltou às necessidades de iluminação, e logo em seguida ao abastecimento de indústrias e setores produtivos, que passaram a possuir uma forma não apenas de garantir turnos mais extensos, mas também uma alternativa de energia para máquinas e equipamentos.
Como surgiu
Foi na Grécia Antiga que o filósofo Tales de Mileto (624 a.C.-558 a.C.) observou o processo de eletrificação dos objetos. Tales observou que ao serem submetidos ao atrito, alguns objetos adquiriam capacidades magnéticas temporárias, podendo atrair como os imãs. Os gregos relacionavam esse fenômeno ao magnetismo, e acreditavam que esses materiais tinham alma, por serem capazes de movimentar outros objetos.
A palavra eletricidade provém do grego eléktron, que significa “âmbar”. O âmbar é uma resina fóssil petrificada constituída a partir da seiva de algumas espécies de plantas – e foi um dos materiais utilizados para estudos com o fenômeno da eletricidade na Grécia Antiga.
Sabe-se que Tales de Mileto esfregou um pedaço dessa resina no couro de um animal, e observou que ela adquiria a capacidade de atrair outros objetos durante algum tempo. Foi assim que ele descobriu o processo de eletrificação (eletrização), ato de dotar um material de propriedades elétricas.
História e evolução da eletricidade
Embora a arqueologia tenha colhido indícios de conhecimento da eletricidade em regiões como o Oriente Médio e a China ainda antes da Idade Moderna, no Ocidente algum avanço em relação ao conhecimento empírico dos gregos só ocorreu a partir do Renascimento.
No século XVI, o físico e médico inglês William Gilbert (1544-1603) publicou um estudo que diferenciava polos magnéticos, força elétrica e resistência. Esses conceitos seriam fundamentais para os grandes pais do eletromagnetismo posteriormente. Foi Gilbert que começou a utilizar com maior frequência a palavra eletricidade, resgatando os conhecimentos dos gregos.
Otto von Guericke (1602-1686) foi um físico alemão que aprofundou seus estudos em eletrostática. Em suas experiências, desenvolveu um aparelho que era formado por duas esferas de enxofre, que giravam ao comando de uma manivela. O movimento criava o acúmulo de eletricidade estática que era então descarregada produzindo faiscamentos.
Mas talvez seja Benjamin Franklin (1706-1790) um dos mais famosos estudiosos da eletricidade. Franklin é um dos fundadores e grandes nomes da independência norte-americana, e como cientista realizou estudos em diversas áreas, com atenção especial aos fenômenos elétricos.
Franklin descobriu a existência de cargas positivas e negativas em raios, demonstrando que eles são fenômenos de natureza elétrica. Esse conhecimento permitiu que ele inventasse o para-raios, uma estrutura que atrairia e encaminharia as descargas elétricas diretamente para a terra, protegendo assim as edificações e suas redondezas. O conceito básico do pára-raios de Franklin é utilizado até hoje em estruturas de proteção em edifícios.
Luigi Galvani (1737-1798) foi um médico e pesquisador italiano. Entre suas inúmeras contribuições para a medicina, pesquisou sobre fenômenos elétricos associados aos seres vivos − a bioeletricidade. Galvani percebeu, ao dissecar rãs, que ao tocar nervos nos membros do animal com um bastão metálico energizado, criava movimentos nas rãs sem vida. Embora Galvani concluísse erroneamente que os músculos é que produziam eletricidade – e não o cérebro e o sistema nervoso – concluiu corretamente que o movimento, nos seres vivos, está associado a impulsos elétricos. Foi nessa época que os cientistas começaram a discussão sobre o fato de a eletricidade ser um fenômeno químico e físico.
Alessandro Volta (1745-1827) foi um físico italiano, colega de Luigi Galvani. Volta refutou a tese dos músculos que geravam eletricidade e concluiu de forma acertada que eram sim os metais os elementos capazes de tal façanha.
Analisando o comportamento dos metais, concluiu finalmente que a eletricidade poderia ser gerada a partir de reações químicas entre substâncias metálicas – conclusões que o levaram a criar a pilha voltaica, a primeira bateria a fornecer, de maneira contínua, corrente elétrica a um circuito.
A pilha de Volta utilizava discos metálicos de cobre e zinco, empilhados e separados por uma camada de feltro. O feltro era embebido em uma solução capaz de conduzir corrente. Em homenagem à Volta, denomina-se volt a unidade de tensão elétrica.
Michael Faraday (1791-1867) foi um físico inglês que se aprofundou na área da eletroquímica, trazendo importantes contribuições para a ciência moderna. Foi um notável físico experimental, e conseguiu, ao longo de sua vida, criar experimentos responsáveis por explicar vários fenômenos elétricos, entre eles a gaiola de Faraday. Faraday organizou e publicou estudos sobre conceitos como a “rotação eletromagnética”, princípio que levou ao motor elétrico, e a indução eletromagnética, fundamental para a criação posterior de geradores e transformadores elétricos.
Faraday ainda estudou amplamente os campos magnéticos, abrindo caminho para toda uma gama de aplicações e desenvolvimentos.
Thomas Edison (1847-1931), tido como o maior inventor da história e famoso pela invenção da lâmpada elétrica incandescente, não apenas fez descobertas e evoluiu o que a humanidade entendia sobre a eletricidade – mas fez fortuna com isso.
A lâmpada elétrica foi o primeiro dispositivo que permitiu utilizar eletricidade para produzir luz, fazendo Edison explorar esse produto de maneira comercial. Prestigiado nos Estados Unidos, usou não apenas a lâmpada, mas centenas de invenções ganharem projeção e notoriedade, sendo um dos grandes nomes que criaram as bases da distribuição de energia elétrica nos EUA.
A primeira lâmpada foi acesa no dia 21 de outubro de 1879, e brilhou por 45 horas seguidas. Dentre os muitos acertos do inventor e empreendedor, o grande erro talvez tenha sido a aposta da corrente contínua como alternativa para a distribuição de energia – tipo de corrente que cedeu lugar à alternada posteriormente, produto dos estudos de seu grande “rival”.
Nikola Tesla (1858-1943) foi um inventor contemporâneo de Edison que deixou diversas contribuições revolucionárias nos campos da eletricidade e do magnetismo, tais como conceitos envolvendo corrente elétrica e o fornecimento de energia.
Tesla desenvolveu sistemas de potência elétrica em corrente alternada, que seriam uma alternativa para a transmissão de energia elétrica em grande escala – que comprovadamente possuía eficiência superior à corrente contínua de Thomas Edison.
A história da eletricidade tem seu ponto de virada final com a descoberta do britânico Joseph John Thomson, já na primeira década do século XX. Thomson detectou e descreveu o comportamento da primeira partícula subatômica a ser descoberta – o elétron – o que lhe rendeu o Prêmio Nobel e o título de Cavaleiro na Inglaterra. A partir da descoberta de Thomson, o “misterioso” fenômeno da eletricidade tinha a sua origem revelada.
Por: Carlos Artur Matos