Geografia do Brasil

A Cidade de Salvador

Emoldurada pela baía de Todos os Santos e por praias de grande beleza natural, Salvador, patrimônio cultural da humanidade, preserva um conjunto arquitetônico que representa um pedaço vivo da história do Brasil, de que foi a primeira capital.

Salvador, capital do estado da Bahia, e do Brasil até 1763, situa-se no Recôncavo Baiano, às margens da baía de Todos os Santos, que se abre para o oceano Atlântico. A média térmica anual é de 24o C, e o total anual de precipitações alcança 2.200mm. A estação seca é pouco pronunciada e o período mais chuvoso corresponde aos meses de outono-inverno.

História

Salvador foi fundada pelo primeiro governador-geral do Brasil, Tomé de Sousa, em 1549, por ordem de D. João III, que resolveu ali instalar a sede do governo da colônia a fim de promover seu desenvolvimento e coordenar a defesa contra índios e piratas.

O núcleo original da cidade surgiu na colina da Sé, parte plana do alto da escarpa, e estendeu-se para oeste, até o vale que corresponde à atual Baixa do Sapateiro. No século XVI, Salvador limitava-se à área hoje compreendida entre o Pelourinho e a praça Castro Alves.

Cidade de Salvador
Elevador Lacerda – Salvador

Nos primeiros tempos de sua história, Salvador viveu momentos dramáticos. Em 1624 foi atacada pelos holandeses, que capitularam no ano seguinte; em 1627 ocorreu nova investida dos holandeses, e em 1638 o conde Maurício de Nassau chegou com tropas destinadas ao assalto da cidade. As forças do último invasor holandês foram expulsas em 1654. No século XVIII a cidade tornou-se palco de diversos movimentos pela independência nacional; houve levantes armados, que foram sufocados pelas forças imperiais.

A expansão da lavoura canavieira no recôncavo teve reflexos no desenvolvimento da cidade, que experimentou forte surto de crescimento até meados do século XVIII. Nesse período construíram-se palácios e solares, conventos e igrejas que ampliaram os limites da cidade em direção ao alto das colinas: para o norte, o convento do Carmo e a capela de Santo Antônio; para o sul, o convento de São Bento; e para oeste, o do Desterro.

Em 1763 a capital do Brasil foi transferida para o Rio de Janeiro e teve início uma fase de queda gradativa do ritmo de crescimento de Salvador. Até o século XIX, a cidade baiana limitava-se a leste pelo dique de Tororó, construído durante a ocupação holandesa, ao sul pelo forte de São Pedro e ao norte pelo forte do Barbalho.

No final do século XIX, o ritmo de crescimento foi retomado e se acelerou na segunda metade do século XX, graças sobretudo à exploração do petróleo — com a instalação da refinaria de Mataripe e de outras unidades da Petrobrás — e à implantação do Centro Industrial de Aratu. Ampliou-se a oferta de empregos, assim como a formação de mão-de-obra e a circulação de riqueza. A partir de então, a cidade consolidou suas funções de metrópole regional e cresceu na direção das praias e colinas.

Desenvolvimento urbano

Salvador desenvolve-se em dois níveis distintos: a Cidade Baixa, na estreita planície litorânea, e a Cidade Alta, localizada no platô que se ergue em escarpa abrupta, a sessenta metros do porto.

A Cidade Baixa é núcleo das atividades portuárias e comerciais, sobretudo do setor atacadista. Na Cidade Alta os bairros residenciais contornam o centro histórico, que se caracteriza pelo comércio varejista. Essa área da cidade foi a que mais se modernizou e onde se localizam os prédios da administração pública, embora se conservem casarões, sobrados, igrejas e palácios característicos da cidade antiga.

Os dois níveis estão ligados pelo elevador Lacerda, um marco da cidade, em funcionamento desde 1873, e pelo plano inclinado de Gonçalves, também servido por elevador e construído numa rampa de montanha aberta pelos jesuítas no século XVII.

A modernização viária de Salvador, realizada na década de 1960, aproveitou os vales para a abertura de amplas avenidas que facilitaram o trânsito entre o centro e os novos bairros e locais de veraneio. Anteriormente, essa ligação se realizava mediante o contorno da orla marítima.

O crescimento da cidade, porém, agravou os problemas sociais. A população mais pobre concentra-se em bairros que se estendem em direção norte, geralmente sem infra-estrutura urbana. Em Salvador está a maior favela sobre palafitas no Brasil, Alagados.

Sede de duas universidades, a Federal da Bahia (UFB) e a Católica de Salvador, Salvador viu nascer o primeiro centro de estudos médicos criado no país, a Faculdade de Medicina, hoje integrada à UFB.

Economia

Predominam em Salvador as atividades de serviços, turismo e comércio, mas é marcante o crescimento da industrialização. O Centro Industrial de Aratu, criado em 1967, incentivou a instalação de unidades fabris, que têm crescido em número e diversificação de produtos.

As principais indústrias são do setor têxtil, alimentício, de construção civil, e de transformação de couro, fumo e cacau. O polo petroquímico de Camaçari, que industrializa o petróleo do recôncavo, funciona como centro de atração para diversas atividades da área industrial e comercial. No quadro econômico destacam-se ainda a pesca e a agricultura, em especial a de frutas como coco, laranja, banana e manga.

Importante núcleo de comunicações, Salvador tem um porto tradicional e movimentado, que serve às cidades do recôncavo e à região cacaueira do sul da Bahia. Uma linha de ferry-boat liga Salvador à ilha de Itaparica. Além do movimentado aeroporto, a cidade conta com estações ferroviárias e é intenso o movimento rodoviário para o Sul e o Nordeste.

Cultura e turismo

Um dos maiores centros turísticos do país, Salvador se beneficia de características muito específicas. Tem clima quente e ensolarado o ano todo; a beleza natural de praias, como Ondina, Arembepe, Farol da Barra, Amaralina, e de lagoas, como a do Abaeté; as manifestações variadas da cultura negra, como culinária rica e exótica, música, ritmos quentes, sincretismo religioso, terreiros de candomblé e exibições de capoeira; as festas como as do Senhor do Bonfim e o carnaval, com seus trios elétricos; e um cenário magnífico de arquitetura histórica.

É um grande centro cultural, com museus, igrejas, monumentos de arte e históricos e conjuntos arquitetônicos singulares como o Pelourinho, tombado pela UNESCO em 1983 e considerado patrimônio histórico da humanidade. Esse núcleo colonial, situado na Cidade Alta, é o mais antigo centro histórico da cidade, com construções dos séculos XVII e XVIII. No fim do século XX, foi recuperada a paisagem do Pelourinho, até então composto de prédios em ruínas ou em franca decadência, e devolveu a beleza a mais de cem de seus quase mil casarões seculares.

Entre os monumentos históricos da cidade se incluem diversas igrejas, como a de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, de estilo barroco, que faz parte do conjunto do Pelourinho; a catedral-basílica (1572-1657); a igreja da Ordem Terceira, cujo convento foi transformado em hotel; a igreja de São Francisco, revestida com talha de ouro; a igreja de Nossa Senhora da Conceição da Praia; a abadia de São Bento; a igreja e convento de Nossa Senhora do Carmo; a igreja do Bonfim, cuja festa tradicional ocorre no mês de janeiro; e a do Desterro.

Destacam-se também fortes da antiga linha de defesa da costa, como os de São Marcelo, Santo Antônio da Barra, Monte Serrat, São Pedro e Santa Maria.

Entre os museus, são famosos o Museu de Arte Sacra — com um acervo que reúne mais de 1.500 peças, entre imagens, esculturas, azulejos, alfaias, painéis, objetos de ouro, prata, pedra-sabão e barro cozido — e o Museu Carlos Costa Pinto (prataria e mobília), conhecido como Museu da Prata, e o Museu de Arte da Bahia.

A Cidade Baixa tem ainda como atrações o Mercado Modelo, com lojas de artesanato, restaurantes e bares, o solar do Ferrão, o solar do Unhão, totalmente restaurado, e a feira de Água dos Meninos, ponto de afluência dos saveiros típicos que levam produtos do recôncavo para Salvador.

Autoria: Francisco Mauricio Teles

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