Da tradição “Made in USA” ao paradigma agroecológico
1- INTRODUÇÃO
A extensão rural, no Brasil, foi introduzida a partir de 1948, com o apoio econômico de organizações públicas e privadas dos Estados Unidos, como parte dos programas de ajuda ao desenvolvimento do Terceiro Mundo. Outra parte deste apoio se consumaria através de assessoria de experts estadounidenses, formados no seio da Sociologia institucionalizada naquele país, o que determinou a influência do pensamento social dominante nos USA, naqueles tempos, sobre a conformação do extensionismo brasileiro.
Portanto, para se entender o desenvolvimento da atividade de extensão em nosso país, bem como as razões que levaram-na a seguir uma determinada – e muitas vezes equivocada – estratégia de ação, é importante ter claro que os modelos, objetivos e prática da extensão rural brasileira não nasceram de uma demanda local e, ademais, também não se desenvolveram apoiados em uma base teórica que correspondesse à realidade do meio rural e do desenvolviemento agrário brasileiro.
Só para recordar, a extensão rural institucionalizada nasceu nos Estados Unidos à raiz da crise agrária que se seguiu à Guerra Civil, em um contexto de desenvolvimento acelerado das forças produtivas e de mudança profunda nas relações capitalistas de produção, passando a constituir-se numa das ferramentas de política destinadas a diminuir os efeitos prejudiciais que aquele modelo de desenvolvimento causava nas comunidades rurais. Ademais, respondia a demandas das organizações de agricultores, que procuravam o apoio do Estado para deter os problemas gerados pelo avanço do capitalismo no campo: problemas de mercado, de alta dos preços dos insumos, de êxodo rural, etc…
Ademais, como é sabido, a extensão rural nos Estados Unidos nasceu sob a orientação da “sociologia da vida rural”, com clara inclinação pelos “estudos de comunidade”, o que estabeleceu as bases teórico-metodológicas para o posterior Serviço Cooperativo de Extensão Rural. Cabe assinalar que o modelo que seria institucionalizado partia de alguns presupostos determinados pelas políticas gerais do desenvolvimento capitalista que estava em marcha. Entre estes se destacava a lógica do modelo de desenvolvimento urbano-industrial, segundo a qual se faria necessário uma forte transformação na agricultura para que este setor pudesse oferecer suporte ao desejado crescimento industrial. Este modelo adotava a suposição de que a urbanização era um caminho único e irreversível, de modo que o meio rural deveria intregar-se ao meio urbano, como forma de se alcançar um desenvolvimento homogeneizado.
Assim, e partindo desta base, o modelo de extensão rural criado nos Estados Unidos da América foi transferido para o Brasil, em uma época em que o debate sobre a problemática do desenvolvimento estava centrado na procura de elementos capazes de explicar o atraso do nosso país, relativamente aos centros desenvolvidos, de modo a permitir que fossem estabelecidos mecanismos para superar o subdesenvolvimento. Nas dicotomias clássicas, muito ao gosto dos teóricos daquela época, o meio rural brasileiro era visto como o setor atrasado e era responsabilizado pelos problemas do desenvolvimento. Dada esta visão, pensava-se que o meio rural deveria ser transformado, adaptando-se ao modelo geral de desenvolvimento, que propunha uma política deliberada de desenvolvimento industrial, também no Brasil.
Seguindo as recomendações dos manuais da época, se desconsiderou o fato de que o subdesenvolvimento era um dos resultados do desenvolvimento e da acumulação capitalista, que se acelerava nos centros industrializados (fora e dentro do país). Nesta perspectiva a política para o agro partia da compreensão de que o setor rural era atrasado e que, necessariamente, deveria se “modernizar”. Além disso, os problemas políticos, econômicos e sociais dos anos 50 ( crise do modelo agro-exportador, déficit na balança comercial, etc…) abriam espaços para abrigar estratégias que supunham a necessidade de qualificar e expandir a produção agrícola, razão pela qual era benvinda a ideia de um serviço de incentivo e suporte à modernização da agricultura.
Foi assim que, a partir de 1948, foram criadas no Brasil as organizações de extensão rural, sob o nome de Associações de Crédito e Assistência Rural – ACAR. Até o final da década dos 50, estas organizações já estavam presentes em quase todos os estados brasileiros. No Rio Grande do Sul, como parte do mesmo movimento, foi criada, em 1955, a ASCAR – Associação Sulina de Crédito e Assistência Rural, hoje conhecida como EMATER/RS – Associação Riograndense de Empreendimentos de Assistência Técnica e Extensao Rural, criada em 1977, e que funciona em conjunto com a ASCAR.
Por: Francisco Roberto Caporal