Águas subterrâneas são sistemas hídricos que levaram milhões de anos para se formar e deram origem a grandes reservatórios, como o Aquífero Guarani.
Considerado o segundo maior manancial de água doce subterrânea do mundo, abrange terras internacionais nos territórios da Argentina, Uruguai e Paraguai e terras brasileiras nos estados de Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
Qualificado por vezes como um gigantesco “lago subterrâneo” do Mercosul, pois se estende pelo subsolo dos quatro países formadores desse bloco econômico, o aquífero Guarani tem uma área de 1,2 milhão km2 e é constituído por derrames de basaltos, sedimentos arenosos e arenitos.
Sua espessura média é de 250 m, chegando a ultrapassar 800 m em alguns pontos; estima-se que a reserva de água seja de 45 mil km3, ou seja, 45 quatrilhões de litros, mais do que todos os rios do planeta transportam ao longo de um ano. Por tudo isso, constitui uma reserva de valor inestimável para a América do Sul, para o abastecimento da população e para o crescimento econômico dos países envolvidos.
Formação
A água armazenada no Aquífero Guarani é proveniente de chuvas que caem na superfície e se infiltram no subsolo. Nesse processo, o líquido passa por rochas porosas formando esse importante lençol freático, que pode ser encontrado a milhares de metros de profundidade.
A formação geológica do terreno favoreceu a formação do Aquífero Guarani, visto que, na área, ocorre uma rocha sedimentar porosa – o arenito – que permite a infiltração da água.
Ao mesmo tempo, abaixo da superfície, existe o basalto – rocha magmática – que é impermeável, evitando que a água que atravessa o arenito se disperse em regiões mais profundas, funcionando como uma “parede”, que mantém a água entre o arenito e ele.
Outros aquíferos brasileiros
No Brasil, devido ao relevo antigo, encontram-se muitas rochas porosas, como arenitos, siltitos e argilas, que facilitam a formação de aquíferos no território.
Além do Guarani são encontrados aquíferos em quase todas as regiões do Brasil, inclusive nas semiáridas, como o interior do Nordeste. Quase 50% do território corresponde a domínios sedimentares, com rochas permeáveis, nos quais as águas no subsolo são relativamente abundantes. Tais rochas encerram cerca de 4 trilhões m3 de água doce subterrânea, ao abrigo das secas periódicas que assolam a região semiárida.
Estados como Maranhão e Piauí, por exemplo, estão assentados sobre a grande bacia sedimentar Parnaíba-Maranhão, com um volume estimado de água disponível de 17,5 mil km3. Outras grandes reservas de água doce no subsolo são a bacia Tucano-Jatobá, na fronteira da Bahia com Pernambuco; a chapada do Araripe, entre Ceará, Pernambuco e Piauí; a chapada do Urucuia, na fronteira da Bahia com o Mato Grosso do Sul, e a chapada do Irecê, na Bahia. E mesmo nos terrenos cristalinos existem trechos sedimentares, nos quais é alta a probabilidade de ter acesso a aquíferos.
Outro gigantesco reservatório subterrâneo, que é considerado o maior do mundo, foi denominado de aquífero Alter do Chão, localiza-se nos estados do Pará, Amapá e Amazonas e tem quase o dobro da quantidade armazenada do aquífero Guarani, 86 mil km3 ou 86 quatrilhões de litros.
Ameaça aos aquíferos
Desde o princípio da civilização, a humanidade utiliza e explora as águas subterrâneas para consumo próprio e para irrigar suas lavouras. Contudo, com o aumento da população mundial, principalmente após a revolução industrial iniciada no século XVIII, o consumo tem crescido de modo tão intenso que o potencial hídrico do globo pode tomar-se insuficiente para atender às necessidades mais básicas.
O grande crescimento econômico, sobretudo no sudeste brasileiro, como na região de Ribeirão Preto por onde o Guarani aflora, aumentou a demanda por água. O resultado é que o aquífero vêm diminuindo, já que a demanda ultrapassa a oferta.
Os técnicos também advertem para os riscos da contaminação dos aquíferos por agrotóxicos ou combustíveis, em especial através de poços abandonados ou de construção precária.
Por: Paulo Magno da Costa Torres