Desde o final dos anos 1990, o Brasil vem passando por um processo sistemático de redução da atividade industrial, quando em comparação com as duas décadas anteriores. Por outro lado, o setor de serviços tem aumentado sua participação do PIB nacional. Esse processo, já visto em países desenvolvidos em décadas anteriores, é conhecido como processo de desindustrialização.
A desindustrialização é um processo econômico hoje considerado natural, como evolução e amadurecimento de uma economia, decorrente da inserção das tecnologias entre os meios de produção e da maior demanda por serviços.
No Brasil, durante o período da ditadura militar, ocorreu um investimento massivo na área industrial, especialmente em indústrias de base. Com a reabertura econômica e a entrada de medidas neoliberais, abertura comercial e privatizações de estatais, a industrialização primeiro tornou-se mais diversificada, para depois atenuar e apresentar um recuo.
Apesar da desindustrialização ter sido iniciada em países desenvolvidos, como os europeus, a verdade é que o ritmo desse processo varia. Na Europa, mesmo com economias mais maduras, o processo é lento – mas no Brasil esse fenômeno tem seguido ritmo acelerado
Nas décadas de 1970 e 1980, a indústria contribuía com cerca de 35% do PIB brasileiro. Atualmente, a produção industrial representa não mais do que 12% do PIB global do país.
Com a substituição da mão de obra por maquinário e processos tecnológicos, o ganho de escala ainda ocorre, mas há uma redução no valor de produção. Produtos mais baratos e mais eficientes aceleram a competitividade e concentram a produção em um número mais reduzido de players. A concorrência, como fenômeno econômico natural, premia aqueles que automatizam e barateiam a produção.
O ritmo mais lento na Europa se deve à migração quase que exclusiva da economia industrial para o setor de serviços. No caso brasileiro, além do avanço dos serviços, há uma certa retroação em termos econômicos. A insuficiência de valor agregado no produto industrial torna vantajoso o recuo para o setor primário – ou seja, ao invés de acelerar a produção de bens finais, há mais vantagem em manter alta a produção de commodities.
Crises internacionais, que fazem o mercado recuar sua produção, os altas taxas de inflação, que podem desestabilizar a segurança econômica do país, também dão o seu contributo à desindustrialização. Vale lembrar, contudo, que nesse caso o processo é “vítima” de intempéries econômicas, e não um avanço natural do contexto.
Outro reflexo negativo da desindustrialização, sobretudo nos países em desenvolvimento, é o aumento do desemprego. Empregos recuam na escala industrial e a massa de trabalhadores de baixa qualificação não é capaz de migrar para as vagas com exigência de especialização no setor de serviços, criando uma massa de desempregados no processo.
No contexto macroecômico, parte desses trabalhadores, ao menos em países desenvolvidos, acaba sendo absorvida por outros segmentos da economia: como o setor público ou o terceiro setor. No Brasil, esse processo é dificultado novamente pelo reduzido nível de qualificação da massa trabalhadora industrial em relação ao que é exigido pelos demais setores.
Recentemente, um avanço na proliferação de micro e pequenas indústrias tem obtido algum sucesso no sentido de reposicionar a mão-de-obra em êxodo no setor industrial, assim como setores essenciais para o avanço da economia primária, como o logístico, têm sido capazes de absorver parte dos desempregados do setor secundário.
Por: Carlos Artur Matos
Veja também:
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- O Processo da Industrialização do Brasil
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