Adquirido da Bolívia pelo Tratado de Petrópolis, assinado em 1903, o Acre foi a última área a ser integrada ao território brasileiro. Na época, essa incorporação atendeu aos interesses de setores envolvidos na exploração da borracha.
Até o século XIX, o Acre pertencia à Bolívia e era habitado exclusivamente por grupos indígenas. A partir de 1877 começaram a chegar migrantes nordestinos fugidos da seca e arregimentados para trabalhar na extração do látex da seringueira e na produção da borracha, artigo muito valorizado na época. Milhares de brasileiros atingiram essa área, seguindo pelos vales dos rios Acre, Purus e Juruá.
Preocupados com a presença brasileira, os bolivianos fundaram a cidade de Puerto Alonso para ser a sede administrativa que cuidaria da cobrança de impostos sobre a borracha. Houve conflitos armados e os brasileiros ocuparam a cidade, mudando seu nome para Porto Acre.
Decidido a recuperar posições, em 1901 o governo da Bolívia entregou o Acre aos cuidados de um grupo norte-americano, The Bolivian Syndicate, que se encarregaria da exploração econômica do território. A medida provocou reações não só dos seringueiros, mas também do governo brasileiro, que protestou contra a presença estrangeira na região.
Em 1902 houve nova investida dos seringueiros, liderados pelo gaúcho José Plácido de Castro, que ocuparam Puerto Alonso e declararam a independência do Acre. Nessa fase de grande tensão, a diplomacia brasileira se mobilizou e indenizou os norte-americanos em 110 mil libras esterlinas pela quebra do contrato de exploração na região. Paralelamente, negociou a compra do Acre com o governo da Bolívia.
Assinado em novembro de 1903, o Tratado de Petrópolis previa o pagamento de dois milhões de libras esterlinas à Bolívia e a construção da ferrovia Madeira-Mamoré em troca das terras acreanas. A estrada de ferro tinha o intuito de facilitar o escoamento de produtos da Bolívia, que não tem saída para o mar, até a bacia Amazônica e dali até o Atlântico.
A ferrovia Madeira-Mamoré
Construída entre 1907 e 1912, tinha por objetivo fazer a ligação com as áreas produtoras de látex, nas proximidades dos rios Madeira, Mamoré, Guaporé e Beni, este situado na Bolívia. A obra era vista como extremamente arrojada para a época, pela dificuldade de construir uma ferrovia daquele porte em plena floresta. Na prática, a construção mostrou-se ainda mais árdua do que o previsto, devido ao isolamento da área e à dificuldade de chegada de equipamentos.
Estima-se que 30 mil pessoas trabalharam na obra, das quais seis mil teriam morrido em decorrência de acidentes de trabalho ou de doenças tropicais, como a malária. Ironicamente, o avanço dos trilhos da chamada “Ferrovia da Morte” coincidiu com a decadência da produção nacional da borracha. Devido às dificuldades enfrentadas em sua construção, a Madeira-Mamoré nunca foi concluída, mas funcionou até 1972, quando foi desativada.
Por: Paulo Magno da Costa Torres
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