Dono do segundo maior parque industrial do Brasil, Minas Gerais é um dos três estados mais ricos do país. Os setores mineral e siderúrgico se destacam, ao lado do turismo histórico. Berço do ciclo do ouro, Minas traz as marcas do passado.
Aspectos históricos
Até meados do século XVII, a presença luso-brasileira no atual território mineiro limitava-se a algumas fazendas de gado estabelecidas por grupos que, vindos da Bahia, haviam avançado pelo vale do São Francisco. Os sertões também eram percorridos pelas bandeiras paulistas, em busca de metais preciosos e de nativos para escravizar.
No final do século XVII, os bandeirantes descobriram as primeiras jazidas auríferas. Iniciou-se então a ocupação efetiva do atual território mineiro, intensificada na década de 1720 com o encontro de diamantes na região que corresponde hoje ao município de Diamantina. O ouro e os diamantes eram encaminhados a Portugal pelos portos de Parati e do Rio de Janeiro.
As notícias da descoberta dessas riquezas atraíram um grande contingente populacional para a área, o que gerou inúmeros conflitos pela posse das minas. Um dos mais significativos foi a Guerra dos Emboabas, que durou de 1707 a 1710. Consistiu num confronto pelo controle das regiões auríferas entre os paulistas, que haviam descoberto as jazidas e, por isso, consideravam-se seus legítimos donos, e os emboabas, termo com que os paulistas designavam os “estrangeiros”, especialmente os grupos de portugueses e baianos.
Os paulistas saíram derrotados e buscaram novas regiões de prospecção. A Coroa portuguesa iniciou então o controle sobre o metal extraído, com a cobrança de impostos e maior vigilância sobre as lavras.
Os arraiais brotavam como cogumelos nas regiões de garimpo e logo foram elevados à categoria de vilas. As mais importantes foram Sabará, Vila Rica (atual Ouro Preto) e Ribeirão do Carmo (atual Mariana). Esta última foi sede da capitania de São Paulo e Minas de Ouro, criada em 1709. Depois de 11 anos da subordinação dos sertões auríferos a São Paulo, a metrópole criou a Capitania das Minas Gerais.
Nas décadas seguintes, cresceu nas vilas mineiras a revolta contra os altos tributos cobrados por Portugal sobre o ouro extraído. Em 1789, organizou-se o movimento conhecido como Inconfidência Mineira, que objetivava a independência de Minas Gerais. Descoberta devido à traição de um de seus membros, a conspiração foi duramente reprimida. Seus líderes foram sentenciados ao exílio ou à morte.
O mais famoso deles, o alferes Joaquim José da Silva Xavier, conhecido como Tiradentes, foi enforcado e teve seu corpo esquartejado.
No final do século XVIII, o ouro começou a se esgotar e o território mergulhou num processo de estagnação econômica. O quadro só começaria a se reverter no século XX, com a pecuária e a exploração de jazidas de minério de ferro.
No entanto, o chamado ciclo do ouro deslocou definitivamente o eixo econômico brasileiro do Nordeste para o Sudeste. Esgotadas as lavras, muitos mineiros foram os pioneiros no cultivo de café no Rio de Janeiro e em São Paulo.
Bandeira
A bandeira de Minas Gerais traz escrito o lema da Inconfidência Mineira: “Liberdade ainda que tardia”, extraído de um verso em latim do poeta romano Virgílio. O triângulo simboliza a Santíssima Trindade.
Aspectos naturais
Maior estado do Sudeste, Minas Gerais tem uma extensão de 586.528 km2. Limita-se ao norte com a Bahia, a noroeste com Goiás, a oeste com Mato Grosso do Sul, a sudoeste com São Paulo, a leste com Rio de Janeiro e Espírito Santo. Não dispõe de saída para o mar, mas desfruta de importante centralidade geográfica. É o estado com maior número de municípios, 853 no total, agrupados pelo IBGE em 12 mesorregiões geográficas.
Vegetação
O cerrado constitui a cobertura vegetal predominante no território mineiro, ocupando cerca de 50% dos trechos situados principalmente ao longo das bacias dos rios Jequitinhonha e São Francisco. Caracteriza-se por surgir em áreas de clima com alternância de uma estação seca e outra úmida, num mosaico de espécies arbustivas e arbóreas.
A Mata Atlântica ocupa as áreas de clima mais úmido; apresenta grande biodiversidade, com o predomínio de espécies latifoliadas. Nos trechos de relevo mais elevado, marcados por menores médias térmicas e baixos índices pluviométricos, a paisagem é recoberta por espécies herbáceas, formando campos rupestres.
No norte de Minas Gerais, no vale do São Francisco, aparecem espécies espinhosas com poucas folhas na estação seca e que florescem durante o período chuvoso. É a chamada Mata Seca.
Relevo
Em termos geomorfológicos, as terras mineiras são as de maior altitude média do território nacional. Há inúmeras escarpas cristalinas com altitudes superiores a 600 metros. Destacam-se as serras da Mantiqueira, do Caparaó, da Canastra e do Espinhaço. Esta última apresenta elevada concentração de minérios de ferro e de manganês, que estão entre as maiores riquezas do estado.
Hidrografia
Minas Gerais destaca-se em relação aos recursos hídricos, com muitas nascentes em suas diversas áreas escarpadas. A serra da Canastra abriga grande número de cabeceiras dos rios da bacia do São Francisco, entre elas a do “Velho Chico”. No sudeste do território nasce a bacia do rio Doce, e no nordeste a do Jequitinhonha.
Há também as três sub-bacias dos rios Grande, Paraíba do Sul e Pardo-Mucuri. Devido à abundância hídrica, o estado chegou a ser chamado de “caixa d’água do Brasil”.
A população de Minas Gerais
O estado de Minas Gerais tem cerca de 21 milhões de habitantes, Em 2013, ocupava a nona posição no ranking do IDH nacional, com um índice de 0,731. A expectativa de vida ao nascer era de 77,7 anos e a taxa de analfabetismo atingia 6% da população em 2018.
Do total de habitantes, cerca de 90% vivem nas áreas urbanas. A capital, Belo Horizonte, fundada em 1897, nasceu como uma cidade planejada. A transferência da sede administrativa de Ouro Preto para outra cidade surgiu de um projeto forjado pelas elites mineiras que desejavam “romper com o passado decadente”, resultante do esgotamento da produção aurífera.
Os brancos, descendentes dos portugueses, e os negros, trazidos da África para trabalhar na extração do ouro, são os dois principais grupos que contribuíram para a formação étnica da gente mineira, e sua miscigenação deu origem a um grande contingente de pardos. Durante o ciclo do ouro o território chegou a ter o maior contingente de negros de toda a América.
Estima-se que cerca de cem diferentes grupos indígenas vivesse em terras mineiras. Porém, eles foram sistematicamente dizimados durante o processo de ocupação das terras. Restam hoje cinco grupos mais importantes: xacriabá, krenak, maxacali, pataxó e pankaran. Os nativos enfrentam inúmeras dificuldades para sobrevive’ e não raro estão doentes, desnutridos e sofrendo pressão sobre suas terras.
A grande presença de negros
Durante o ciclo do ouro, estima-se que Minas Gerais tenha recebido cerca de quinhentos mil escravos, número que colocou a região entre as que mais tiveram população de origem africana no país – desde o século XVIII, a população negra de Minas Gerais foi estimada em 30% do total. O historiador britânico Kenneth Maxwell definiu a sociedade mineira como “um complicado mosaico de grupos e raças, de novos imigrantes brancos e de segunda e terceira gerações de americanos natos, de novos escravos e de escravos nascidos em cativeiros”.
A formação de quilombos como forma de resistência à escravidão era bastante comum. No entanto, esses núcleos viviam numa clandestinidade relativa, porque vendiam produtos de suas lavouras de subsistência para comerciantes locais que preferiam comprar dos quilombolas devido aos preços mais baixos. Os ex-escravos também faziam trabalhos esporádicos para fazendeiros locais que temiam invasões de suas terras. Assim, os quilombos situavam-se, muitas vezes, junto a áreas urbanas, contribuindo substancialmente para seu abastecimento. A proximidade com as cidades e os vilarejos era tanta que muitos quilombos foram incorporados à mancha urbana desses municípios.
Nesse cenário, as mulheres negras desempenhavam um papel estratégico. Encarregadas comumente do comércio de gêneros alimentícios em quitandas, também eram informantes dos negros fugidos sobre eventuais campanhas empreendidas para sua captura. Apesar das tentativas de repressão, os negros de Minas Gerais foram muito hábeis na luta por sua liberdade.
A economia mineira
Em 2018, o PIB mineiro foi de R$ 598 bilhões, o que o leva à condição de terceiro estado mais rico do país. Detentor do segundo parque industrial brasileiro, Minas Gerais tem sua economia impulsionada pelo setor extrativo-mineral, seguido da siderurgia.
Há uma rica jazida mineral situada no Quadrilátero Ferrífero, na área compreendida pelos municípios de Belo Horizonte, Santa Bárbara, Mariana e Congonhas do Campo. Essa área coincide com a antiga região aurífera e o minério extraído abastece tanto o mercado interno quanto o externo; os maiores compradores são China, Japão e os países da Europa Ocidental. Dela retiram-se também ouro e manganês, mas o papel de destaque é ocupado pelo minério de ferro.
O escoamento da produção acontece pelas estradas de ferro Central do Brasil e Vitória-Minas, ligando a área extrativa aos portos de Sepetiba, no estado do Rio de Janeiro, e de Tubarão, no Espirito Santo.
Apesar da riqueza obtida com o extrativismo mineral, são muitos os impactos ambientais gerados por essa atividade, entre eles a contaminação das águas, do solo e das plantas com metais pesados usados na extração. Atualmente adotam-se medidas para tentar recuperar o ambiente. O solo, já estéril em minerais, é depositado em outros lugares; a água gasta é reutilizada para impedir a contaminação do solo e dos aquíferos. As áreas mineradoras são constantemente monitoradas por órgãos de defesa ambiental para minimizar os impactos da atividade.
A proximidade com as jazidas de minério de ferro, matéria-prima fundamental à fabricação do aço, ocasionou uma importante concentração industrial de siderúrgicas no estado. Desse modo surgiu o Vale do Aço, considerado a maior concentração desse setor industrial do país. As siderúrgicas possuem tanto fornos aquecidos a carvão mineral quanto vegetal. A concentração industrial acompanhou principalmente o traçado da estrada de ferro Vitória-Minas.
Além dos setores metalúrgico e siderúrgico, o estado destaca-se na produção automobilística, mecânica, têxtil e alimentícia.
Em relação à produção agropecuária, Minas Gerais lidera a produção de café e de leite, além de possuir produção significativa de feijão e milho.
O café mineiro assumiu a primeira posição no ranking brasileiro logo após a crise do petróleo. (Nessa época, as áreas plantadas de café em São Paulo foram substituídas por cana devido ao Pró-Alcool, Programa Nacional do Álcool.) O café movimenta uma parcela significativa da economia estadual, respondendo por cerca de 52% da produção nacional. Geograficamente, a atividade distribui-se por quatro importantes regiões do estado: sul, Matas de Minas (Zona da Mata e vale do rio Doce), Cerrados de Minas (Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba) e Chapadas de Minas (alto e médio vale do rio Jequitinhonha e rio Mucuri).
Turismo e cultura nas cidades históricas
O período aurífero desencadeou importantes transformações espaciais em Minas Gerais. As marcas dessa época ficaram impressas na arquitetura das diversas cidades históricas do estado, que têm no Barroco mineiro sua maior expressão.
Ouro Preto, originária de um arraial fundado em 1698, foi tombada pela Organização das Nações Unidas para a Cultura, Ciência e Educação (Unesco) como Patrimônio Histórico da Humanidade em 1980 por abrigar um dos conjuntos de arquitetura barroca mais preservados do mundo. A cidade desempenhou a função de capital do estado antes da construção de Belo Horizonte.
Em 1985, foi a vez do Santuário de Bom Jesus dos Matosinhos, situado no município de Congonhas do Campo, ser reconhecido pela Unesco como Patrimônio Cultural da Humanidade. Erigido no topo de uma montanha, o santuário reúne uma igreja, onde predomina o estilo rococó, e 78 esculturas em tamanho natural, elaboradas em cedro ou pedra-sabão – entre elas, a obra-prima de Aleijadinho (1730-1814), uma representação da Paixão de Cristo, que se encontra distribuída em seis capelas dispersas ao longo do morro.
Outro município mineiro cujo centro histórico foi reconhecido como Patrimônio da Humanidade é Diamantina. Fundada em 1729, obteve dos diamantes sua grande riqueza até a segunda metade do século XIX, quando o esgotamento das lavras trouxe a decadência econômica. Além da importância histórica, a cidade orgulha-se também de ser aterra natal de um dos presidentes do Brasil, juscelino Kubitschek.
São muitas as localidades surgidas durante o ciclo do ouro que guardam toda a riqueza histórica de uma época. Além das reconhecidas internacionalmente, há inúmeras outras como Sabará, Mariana, Tiradentes, Barão de Cocais, Santa Bárbara, São João Del Rey, Conceição do Mato Dentro etc.