Êxodo rural é a transferência da população das áreas rurais para as áreas urbanas. É consequência da consolidação do capitalismo moderno na agropecuária, ou seja, a adaptação do setor agropecuário a uma economia complexa, polarizada nos centros urbanos e às necessidades e demandas de um mercado cada vez mais globalizado.
Para atender a essas novas demandas, o setor agropecuário busca maior produtividade por meio da adoção do modelo de produção em monoculturas (commodities agrícolas). Como consequência ocorre a desvalorização na produção de gêneros alimentícios, valorização desigual da terra, expulsão de moradores e pequenos produtores familiares das áreas rurais e impacto direto no preço dos alimentos no mercado.
A produção não atende mais às necessidades da região ou circunvizinhança onde está inserida, mas ao mercado, muitas vezes internacional. Nesse contexto, as consequências são a substituição de trabalhadores por máquinas (presença maior da tecnologia e automação na produção agropecuária); utilização de mão de obra mais qualificada, proveniente de áreas urbanas; e expulsão da população rural para as periferias das cidades.
Nos países desenvolvidos, os acontecimentos que ocasionaram essa dinâmica marcaram a história do século XIX e as primeiras décadas do século XX — ou seja, houve uma urbanização relativamente progressiva, gradual.
Já nos países subdesenvolvidos e de industrialização recente o ritmo do êxodo rural foi muito mais acelerado: no Brasil, por exemplo, a maioria da população deslocou-se para o meio urbano em poucas décadas, pois o processo industrial iniciou-se em 1930 e acelerou-se na década de 1950 (com o governo de Juscelino Kubitschek e a penetração maciça de investimentos internacionais), logo formando um mercado nacional centralizado no Sudeste, particularmente em São Paulo.
Causas do êxodo rural
A rápida transição de uma economia agrário-exportadora para um modelo econômico urbano e industrial instituiu ou acirrou, no campo, uma série de fatores de expulsão dos trabalhadores para as cidades. Dentre eles, destacam-se:
A mecanização agrícola
A mecanização do campo é um dos principais aspectos da modernização da agricultura. Trata-se da implantação de máquinas como tratores, semeadeiras, colheitadeiras e ceifadeiras, em substituição a técnicas consideradas rudimentares, como tração animal, uso da enxada e plantio manual. Isso significou grande aumento da produtividade em larga escala e foi um forte indicador da transformação no campo.
Entretanto, essa mecanização trouxe uma série de mudanças nas relações de trabalho no meio rural. Criou-se uma demanda por mão de obra qualificada para a utilização adequada dessas máquinas. Além disso, muitos trabalhadores rurais perderam seus empregos, uma vez que uma única máquina é capaz de substituir o trabalho de 100 ou mais pessoas. Isso foi um fator relevante para o êxodo rural no Brasil.
Apesar disso, a princípio, a mecanização ocorreu, principalmente, no processo de preparação do solo e de plantio, e pouco na colheita. Isso aumentou a quantidade de contratos de trabalho temporários no campo e deu surgimento aos chamados “boias-frias“, trabalhadores rurais que migram de uma região agrícola para outra, acompanhando o ciclo produtivo das diversas culturas.
A concentração fundiária
Fenômeno geralmente paralelo ao crescimento da mecanização das atividades agrícolas. No Brasil, vêm ocorrendo ondas sucessivas de concentração de latifúndios em áreas antes ocupadas por pequenas propriedades.
Nesse processo de ocupação dos espaços pioneiros, os pequenos proprietários são desalojados pela grande propriedade e empurrados para fronteiras mais distantes ou para os centros urbanos.
A alteração das relações de trabalho na agricultura
Parceiros e meeiros, pequenos rendeiros, colonos e moradores das fazendas são rapidamente substituídos por assalariados temporários (volantes e boias-frias), que residem nos centros urbanos e trabalham sazonalmente, nas épocas de colheita ou plantio.
Essa categoria cresceu muito, não só com a modernização agrícola do país, como também com a promulgação do Estatuto do Trabalhador Rural (em 1964): estendendo aos trabalhadores do campo os direitos garantidos para os trabalhadores urbanos, esse documento legal, destinado a beneficiar os moradores das fazendas, acabou por acelerar sua expulsão, por fazer deles uma mão-de-obra mais cara.
Também áreas em que predominam o minifúndio e a produção para subsistência costumam repelir populações, à medida que as propriedades vão sendo sucessivamente subdivididas, até atingirem um parcelamento extremado. Exemplo significativo de área desse tipo é o vale do rio Jequitinhonha, no norte semiárido de Minas Gerais, de onde saem migrantes sazonais que se empregam como boias-frias nas safras de cana-de-açúcar, amendoim, laranja e soja de São Paulo e do Paraná. A população excedente dessas áreas dirige-se para outros centros urbanos.
Por: Renan Bardine
Veja também:
- Revolução Verde
- Sistemas Agrícolas
- O Carma da terra no Brasil
- Origens do Latifúndio no Brasil
- Estrutura Fundiária Brasileira
- Agricultura nos países desenvolvidos e subdesenvolvidos