Os vários ciclos econômicos e as políticas nacionais voltadas ao setor industrial criaram um cenário heterogêneo no panorama industrial brasileiro. Ou seja, a distribuição das indústrias no território brasileiro não obedece a uma padrão e não possui um caráter homogêneo, espalhando-se de modo irregular e com disparidades existentes entre as diversas regiões.
No horizonte temporal, essas disparidades ao menos apresentaram um padrão de mobilidade. Até meados da década de 1990, instalações industriais brasileiras, salvo raríssimas exceções, concentravam-se na Região Sudeste do país. De 1990 até a atualidade, diversos setores e empreendimentos se voltaram a estados das Regiões Sul e Nordeste.
À parte de alguns pólos e instalações específicos, ainda existem áreas no país onde a produção industrial é incipiente. Nelas, o que se vê é sobretudo uma preponderância da base produtiva no setor primário: agricultura, pecuária, mineração, indústria florestal, entre outros. Isso ocorre sobretudo nas Regiões Norte e Centro-Oeste.
O processo de industrialização brasileiro criou, assim, três grandes regiões marcadas no país: uma região de industrialização clássica (Sudeste); outra, de industrialização mais recente (Nordeste e Sul); e uma grande área com pouca atividade industrial (Norte e Centro-Oeste).
Áreas de industrialização clássica
As áreas de industrialização clássica são aquelas que passaram pelo primeiro grande processo de instalação da atividade industrial no Brasil, durante a segunda metade do século XX, no processo de substituição de importações. Corresponde, principalmente, à região Sudeste.
A industrialização levou a região, com destaque para o estado de São Paulo, a um intenso aumento populacional e um rápido avanço da infraestrutura de serviços, telecomunicações, transportes, energia e afins.
Claro que, mesmo no contexto dessa região, a industrialização apresentou enorme concentração em determinados pontos dos estados. Por exemplo, o interior paulista ainda possui uma economia agropecuária forte, assim como Minas Gerais e Rio de Janeiro ainda dependem de maneira considerável de atividades extrativas – mineração de ferro, bauxita, níquel e afins, no caso mineiro, e petróleo e gás, no caso fluminense.
As cidades de São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte destacaram-se na atração da atividade industrial do país durante esse primeiro processo de industrialização. Outros pólos merecem destaque, como as regiões de Campinas e São José dos Campos, em São Paulo, e Barra Mansa e Volta Redonda, no Rio de Janeiro.
O estado de São Paulo e a liderança industrial brasileira
Apesar do movimento de desconcentração industrial durante a década de 1990, que incentivou a instalação industrial em outras regiões brasileiras (em geral por meio de isenções ou remissões tributárias), São Paulo ainda é o estado brasileiro que apresenta a maior atividade no segundo setor, sendo responsável por mais de 30% de todo o PIB industrial gerado no Brasil.
Cerca de um quarto das indústrias brasileiras ainda opera no estado de São Paulo, o que explica de maneira direta os 30% contabilizados.
Em relação ao porte das unidades industriais do estado de São Paulo, verifica-se que, embora as empresas de pequeno e médio porte sejam a maioria em termos de contribuição para a geração de renda no estado, as grandes empresas apresentam uma contribuição maior.
Quanto à especialização, a Região Metropolitana possui uma indústria diversificada, mas outras regiões do estado apresentam pólos que por vezes se mostram bastante específicos. Assim como a indústria aeronáutica é um dos pontos fortes em São José dos Campos, o setor de autopeças é destaque no entorno de Campinas, mas também há cidades que criaram pólos em segmentos específicos: calçadista, moveleiro, químico, etc.
As regiões de industrialização mais recente
Como meio de tentar distribuir de forma mais homogênea as atividades industriais do Brasil, incentivos e programas governamentais criaram benefícios para o desenvolvimento de pólos industriais em outras regiões brasileiras. O pólo de Camaçari, na Bahia, ou as indústrias nas cidades circunvizinhas de Curitiba são bons exemplos disso. Assim, as indústrias passaram a se estabelecer em maior número nas regiões Nordeste e Sul.
Esse processo de desconcentração também foi acompanhado por um processo de instalação de infraestruturas de transporte e escoamento produtivo: rodovias novas ou duplicadas, portos (como o de Pecém, em Pernambuco), novas hidrelétricas e até mesmo ferrovias.
Na Região Sul, houve um planejamento estratégico da distribuição industrial, com o direcionamento das atividades desse setor para cidades de pequeno e médio porte. Essa lógica permitiu uma maior proximidade das indústrias e respectivos insumos, sendo a Klabin de Telêmaco Borba, no Paraná, um exemplo claro disso.
Com essa estratégia, o Sul conseguiu diminuir os gastos com a logística de seus produtos. Modernizações e ampliações nos principais portos da região tornaram muitas atividades viáveis. Entre as áreas com maior concentração industrial dessa região estão as áreas metropolitanas de Porto Alegre e Curitiba, além de Blumenau e Joinville em Santa Catarina, Londrina, Maringá e Ponta Grossa no Paraná e Caxias do Sul, Pelotas e Santa Maria no Rio Grande do Sul.
No caso da Região Nordeste, dois foram os grandes atrativos da atividade industrial para lá: o baixo custo da mão de obra da região e as isenções fiscais promovidas pelos estados como meio de atração empresarial. As regiões metropolitanas de Salvador, Fortaleza e Recife foram as grandes vencedoras nesse movimento, mas há focos de industrialização recente também em outros estados locais.
Diferente do que ocorreu com a região Sudeste, no Nordeste não houve uma grande distribuição das atividades industriais, o que gerou grandes diferenças nessa atividade econômica entre as regiões litorâneas e as regiões interiores.
As regiões de pouca industrialização
As regiões Centro-Oeste e Norte são as regiões brasileiras com menor grau de industrialização. Enquanto a região Centro-Oeste representa apenas 5% de toda a produção industrial nacional, no caso da região Norte esse valor corresponde a apenas 3%. A baixa contribuição industrial desses locais está atrelada a uma série de fatores:
- Falta de infraestrutura: o isolamento geográfico e a falta de alternativas viáveis, especialmente na questão logística, dificultam o ganho de escala de empresas e indústrias que venham a se instalar nas regiões.
- Estratégias econômicas: a tradição econômica dessas regiões afasta de certo modo as atenções dos investidores locais. O Pará, por exemplo, tem na mineração praticamente uma vocação, e isso concentra boa parte da nova infraestrutura que o estado recebe. No Centro-Oeste, a indústria agropecuária é uma das poucas que recebe atenção.
- Falta de investimento em tecnologia: com pouco investimento e escala, essas regiões carecem de uma base tecnológica mais desenvolvida, o que acaba por afastar possíveis projetos do segmento industrial.
Mesmo assim, a industrialização acaba ocorrendo na região como uma estratégia de valor agregado para a produção agropecuária ou extrativa. Setores como o de alimentos processados e beneficiados, biocombustíveis e metalurgia têm se destacado nessa duas regiões.
Na região Norte, a atividade industrial destaca-se na região da Zona Franca de Manaus, mas a zona é uma iniciativa antiga que cria outros tipos de disparidades, algumas delas criticáveis, no sentido de oferecer concorrência por vezes desleal a indústrias tecnológicas de outras regiões e consistir, em grande parte, em instalações de montagem e não desenvolvimento de tecnologia.
Por: Carlos Artur Matos
Veja também:
- O Processo da Industrialização do Brasil
- Fatores que favorecem a localização industrial
- Concentração e Desconcentração Industrial no Brasil
- O processo de desindustrialização no Brasil
- Tipos de Indústria