Geografia do Brasil

Pantanal

O Pantanal é uma unidade geomorfológica do interior do continente sul-americano, embora esteja principalmente no Brasil, e é caracterizado por uma vasta planície alagadiça que se estende do oeste mato-grossense, passando pelo Mato Grosso do Sul, e alcançando os territórios da Bolívia e do Paraguai.

Com uma biodiversidade única e diferente dos demais biomas brasileiros, o Pantanal é hoje um Patrimônio Natural da Humanidade e Reserva da Biosfera. Seu ecossistema mistura traços do cerrado, campos de planície e também florestas tropicais.

A região é igualmente rica em termos de biodiversidade animal. Na região há pelo menos 650 espécies de aves, mais de 260 espécies de peixes e mais de 80 espécies de mamíferos. Tratam-se de espécies endêmicas, ou seja, apenas existem no bioma do Pantanal.

Localização

Pantanal possui uma área de aproximadamente 250 mil quilômetros quadrados, cobrindo parte considerável do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, porém avançando no sul da Bolívia e norte do Paraguai, além de um pequeno trecho na Argentina.

A área é uma planície que passa a maior parte do tempo inundada. Estudos indicam que o Pantanal, ao contrário do que se pensava, não parece ser um remanescente dos oceanos, por conta de modificações geológicas. O fenômeno parece mais relacionado à demora na drenagem das águas na Bacia do Paraguai. Centenas de afluentes encontram-se na região, elevando o peso hídrico e criando os típicos alagadiços. Entre os rios mais importantes estão o Cuiabá, o Taquari, o Capivari e o Negro.

Mapa do Pantanal.
Áreas compreendidas pelo Pantanal e suas contribuições hídricas

Características

Basicamente, o Pantanal é formado por uma planície alagável em forma de concha. O clima tropical perpetua o alagado da região, com chuvas pesadas e abundantes no verão. A hidrografia da região possui rios com muitas curvas, o que propicia o acúmulo de água e a formação de lagos e pântanos.

Entretanto, ao contrário de um pântano comum, as águas no Pantanal estão em constante movimento, o que destoa de brejos e alagadiços mais lamacentos, onde a água parada cria espaço para um bioma totalmente diferente.

A pouca mais de 100 metros de altitude média, a região está praticamente nivelada com os rios que drenam as águas das chuvas, como o Paraná. No verão, quando rios transbordam com facilidade, a água das enchentes naturais cobre até dois terços da área total pantaneira.

Foto do Pantanal com sua planície alagada.

A área é vasta e alguma diferença na altitude e proximidade dos principais rios cria três áreas distintas na superfície do Pantanal:

  • Uma permanentemente alagada
  • Uma alagada durante a época das chuvas e das cheias dos rios
  • Uma sempre em terra firme, livre das enchentes.

Durante a época das chuvas, apenas 20% das terras ficam livres das águas. O Pantanal é mais navegável do que nunca e pecuaristas e fazendeiros da região se locomovem de forma mais frequente através de barcos. É o período, também, para melhor observar a fauna local – excursões e passeios tomam as águas dos lagos e lagoas formados na enchente.

Trata-se de um ecossistema frágil. O assoreamento dos rios que atravessam ou contribuem para as cheias, ou a construção de barragens, pode alterar de um ano para o outro a configuração do Pantanal, criando menos áreas alagadas e afastando ou concentrando a fauna em determinados locais.

Clima

O clima no pantanal é tropical continental e apresenta temperatura média entre 23°C e 25°C. As noites são mais temperadas e até mesmo frias, com mínimas que podem chegar aos 12°C. Ao mesmo tempo, em dias mais ensolarados, o calor pode atingir 34°C. A precipitação de chuvas local possui uma média anual ao redor de 1.000mm. O ano se divide basicamente em duas estações: a chuvosa, que vai de outubro a março, e a seca, que se estende de abril a setembro.

Vegetação

Por ser considerado uma região de contato entre o cerrado e a floresta tropical e equatorial, o Pantanal Matogrossense reúne alguns dos ecossistemas mais diversificados do Brasil. A flora possui ao mesmo tempo florestas densas, áreas mais esparsas do cerrado e campos de gramíneas – onde é comum a criação de gado. Espécies de outros biomas se misturam no Pantanal: ipês, palmeiras, mas como ocorre com a fauna, há dezenas de espécies endêmicas também.

As áreas alagadas possuem uma várzea com mata ciliar e vegetação mais arbustiva, além de gramíneas. Nas águas, é possível encontrar vitórias-régias e outras plantas típicas da região da Amazônia.

Um estudo realizado em 2003 aponta que o Pantanal apresentava 87% de cobertura vegetal nativa, sendo a maior parte formada por áreas de savana, algo parecido com o cerrado, porém mais esparso. Em seguida, temos a cobertura dos chamados ecótonos, áreas de transição entre duas matas distintas.

A divisão não é ortodoxa, porém há biomas ligeiramente diferentes entre o Pantanal-Cerrado e o Pantanal-Amazônia, mesmo por conta da proximidade com florestas diferentes e de condições climáticas ligeiramente distintas.

Fauna

As aves endêmicas são o grande espetáculo no Pantanal. Centenas de espécies apenas existem por lá – algumas delas apenas em áreas muito específicas. Animais presentes também no cerrado ou na Mata Atlântica também são encontrados com facilidade nos limites pantaneiros.

O Pantanal também é representado por espécies ameaçadas de extinção, como o cervo-do-pantanal, a jaguatirica e o veado-campeiro. Todas as espécies dependem da dinâmica das cheias e de duas estações climáticas anuais mais alongadas – mudanças na temperatura ou na dinâmica ameaçam o bioma como um todo.

Relevo

A planície pantaneira é a mais recente formação geológica do país – seu aparecimento ocorreu na Era Cenozoica (Período Quaternário) e seus terrenos são sedimentares. O Pantanal em si, uma planície, é rodeado por uma composição planáltica – Planalto Central do Brasil, com as famosas chapadas da região central que constituem a grande unidade anterior, com destaque às Chapadas dos Parecis.

Por outro lado, há imensas planícies também nas cercanias, com destaque para a porção sul da Planície Amazônica e a depressão do Tocantins. Também destacam-se a planície e o pantanal do rio Guaporé, a planície e o pantanal do rio Paraguai e parte da planície do rio Araguaia, essas já em regiões que cobrem parte do Pantanal propriamente dito, porém avançando em áreas mais altas entre 200 e 500 metros. Nessa parte do relevo estão as famosas serra dos Pirineus e chapada dos Veadeiros, e nas áreas abaixo dos 200 metros de altitude, o Pantanal Mato-Grossense.

São classificados três níveis para a Formação Pantanal. O primeiro, topograficamente mais elevado, seria constituído por areias inconsolidadas, de granulometria fina a média, intercalada por materiais síltico-argilosos. O segundo nível seria formador dos terraços aluviais sub-recentes, constituídos por siltes, argilas e areias finas. O último nível, constituído por uma planície mais rebaixada, seria formado por os depósitos irregulares síltico-argilosos e grosseiros, depositados recentemente pelo rio Paraguai e seus afluentes (SOUZA, 2006).

Cultura pantaneira

A cultura pantaneira tem alguns símbolos muito marcantes, como a própria figura do homem pantaneiro, conhecido por guiar o gado pelas regiões alagadas do bioma, a fim de conduzi-lo na época das chuvas para pastagens que não estejam alagadas. A presença de muitas comunidades tradicionais como indígenas, quilombolas e coletores de iscas ao longo do Rio Paraguai também merece destaque no cenário pantaneiro, devido à grande influência na cultura local.

Economia

O extrativismo vegetal ocorre com a exploração de poaia ou ipeca fornecendo emetina (medicamento antivômito) para a indústria farmacêutica – não por acaso, há grande incidência de fabricantes de fármacos e cosméticos em Goiás e áreas circum-vizinhas ao Pantanal.

Outros extratos vegetais para fins diversos são também explorados, aproveitando o bioma único. Em termos de economia mineral, embora o Centro-Oeste não seja um destaque, próximo ao Pantanal, no maciço do Urucum, com a exploração de manganês e ferro, minérios que são exportados para o Mercosul. No passado, a mineração de aluvião era mais comum – as terras sedimentares do Pantanal possuem ouro, prata e outros metais de grande valor, mas os riscos e a falta de infraestrutura refrearam a exploração, que ainda é impossível em grande parte das reservas, protegidas pelo Ibama e até mesmo órgãos internacionais.

O gado, especialmente bovino, também é parte integrante da economia pantaneira. Nos campos que rodeiam o Pantanal, estão boa parte das cabeças de gado brasileiras, o que também significa que muitos do grandes frigoríficos também possuem investimentos na região.

Contudo, a falta de uma identidade econômica mais nítida é resultado da ocupação desordenada do Centro-Oeste. Com migrações de estados do Sul, principalmente para o Mato Grosso do Sul, e a atração de investimentos pós-construção de Brasília, áreas antes inóspitas viram cidades crescerem em questão de uma ou duas décadas.

Referências:

  • CADAVID GARCIA, E. A. Socio-economia do Pantanal.
  • SOUZA, Célia Alves de; LANI, João Luís; SOUSA, Juberto Babilônia de. Origem e evolução do Pantanal Mato-grossense. VI Simpósio nacional de geomorfologia/regionalconferenceongeomorpholoy. Geomorfologia tropical e subtropical: processos, métodos e técnicas/Tropical and subtropical geomorpholog: processesmethodsandtechniques. Goiânia, v. 6, p. 6-10, 2006.

Por: Carlos Artur Matos

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