O conceito de cidade é impreciso, e por isso toma-se difícil estabelecer critérios claros para defini-lo. Mesmo assim, há pelo menos cinco variáveis a considerar, começando pelo tamanho.
Critérios para definir uma cidade
Quando se analisa a cidade, notam-se algumas características que as diferenciam dos pequenos povoados rurais. Geralmente, são levadas em conta as seguintes variáveis:
- O tamanho. As cidades têm, em linhas gerais, um tamanho superior ao dos pequenos povoados rurais. Cada país, no entanto, determina um número mínimo de habitantes para considerar um povoamento como cidade.
- A aparência. As cidades têm, em contraposição aos povoados, amplas avenidas, edifícios altos e um peculiar aspecto exterior de suas ruas, devido à intensa atividade comercial e ao alto índice de circulação de pessoas e veículos. Também se destaca a existência de áreas verdes e a abundância de serviços públicos e de locais de lazer para seus habitantes.
- A densidade demográfica. A densidade de população e a quantidade de edifícios de um assentamento urbano são superiores às de um povoado rural, pois muita gente vive num espaço relativamente pequeno.
- As atividades econômicas e profissionais. Enquanto nos assentamentos rurais predominam as atividades agrárias, nas cidades a população se dedica majoritariamente à indústria e, sobretudo, às atividades do setor de serviços, Além disso, a cidade organiza e dirige as atividades econômicas da periferia. E esta depende em alto grau da indústria e dos serviços da cidade.
- As formas de vida. A vida urbana é mais complexa que a rural. Há uma dissolução das relações familiares e sociais e maior individualismo. Os hábitos diários são diferentes, assim como o tipo de trabalho e lazer. Em geral, a possibilidade de acesso à informação e à cultura é maior nas cidades do que nas áreas rurais.
As funções urbanas de uma cidade
Uma cidade pode manter diferentes funções, ainda que a residencial ocupe a maior parte do espaço urbano:
- Função econômica. Uma cidade pode ser industrial, comercial, centro de transportes, mineradora, financeira, turística, entre outras possibilidades. É comum que uma mesma cidade combine várias dessas funções, embora uma delas possa ser predominante.
- Função político-administrativa. Esta função destaca-se, sobretudo, nas capitais de estados, províncias ou regiões. Nelas se concentram todos os serviços necessários para o governo. Algumas cidades, como Brasília, foram criadas exclusivamente com essa finalidade.
- Função cultural. Nas cidades existem universidades, centros de pesquisa, grandes bibliotecas, os principais museus e monumentos.
Algumas cidades têm também uma importante função religiosa, como Roma, Jerusalém ou Meca, que são os principais centros de peregrinação religiosa do mundo.
No Brasil, o município de Aparecida, em São Paulo, desempenha a mesma função.
Quanto maior é um núcleo urbano, mais funções estão presentes, algumas delas muito especializadas.
Estrutura urbana atual das cidades
Os diferentes usos do solo delimitam a existência de setores dentro da cidade, cuja a distribuição espacial configura a estrutura urbana.
O centro da cidade
Em geral, o centro é a parte mais antiga e ativa de uma cidade. Abriga os principais monumentos e marcos culturais (cinemas, teatros, museus etc.) e a atividade econômica mais dinâmica. Por vezes, recebe o nome de centro histórico.
O centro atrai a população de toda a cidade e de sua área de influência. Por esse motivo, dispõe de uma boa rede de transportes – mas, ainda assim, o elevado tráfego de pessoas e veículos costuma congestionar a região.
Esse congestionamento levou à adoção de medidas para restringir a circulação de veículos na área. Paralelamente, muitos comerciantes e empresários mudaram seus negócios para a periferia, junto às principais vias de acesso à cidade.
Neste setor central das cidades dos países mais desenvolvidos encontra-se o Distrito Central de Negócios (Central Business District, CBD), o centro administrativo e comercial. Recebe a qualificação de central porque é o espaço mais privilegiado da cidade. Nele se localizam o comércio mais seleto, as sedes das grandes empresas e dos maiores bancos, os departamentos das administrações públicas e os mais concorridos locais destinados à cultura e ao lazer.
As zonas residenciais
Nas áreas residenciais, as moradias ocupam a maior parte do solo urbano. Sua distribuição está relacionada com as possibilidades econômicas dos habitantes:
- A classe abastada ocupa os lugares com os melhores serviços de transporte, comércio e áreas verdes. Dispõe de meios econômicos para decidir onde estabelecer sua residência: em bairros elegantes do centro ou em condomínios particulares fora da cidade.
- As classes menos favorecidas habitam em precárias moradias do centro ou em conjuntos habitacionais populares construídos na periferia, massificados e que, em geral, apresentam carência de equipamentos e infraestrutura.
A periferia industrial e comercial
Tradicionalmente, as indústrias se situavam no centro da cidade. Nos últimos tempos, porém, as grandes fábricas se mudaram para os complexos industriais na periferia, devido a dois fatores principais.
- Em primeiro lugar, muitas cidades impuseram leis restritivas quanto à instalação de indústrias, com o intuito de reduzir a poluição atmosférica;
- Em segundo lugar, os preços dos terrenos urbanos tomaram-se muito altos, expulsando para as áreas mais afastadas aquelas atividades que necessitam de muito espaço para seu desenvolvimento. Esses complexos industriais costumam se instalar junto às principais vias de transporte.
Por outro lado, as pequenas indústrias não-poluentes, muito especializadas, se encontram espalhadas por toda a cidade.
O pequeno comércio se distribui pelos bairros residenciais, enquanto o comércio especializado e de maior qualidade se agrupa nas áreas centrais. Grandes centros comerciais e de lazer (shopping centers) têm sido construídos também nas periferias.
A paisagem urbana
A paisagem da cidade está determinada, fundamentalmente, pelo local em que ela se situa e pelas características naturais do território. Outros fatores importantes são sua evolução e transformação histórica.
Localização das cidades
As cidades têm uma localização, quer dizer, situam-se em determinada paisagem: uma serra, uma planície, um vale, uma baía etc. A maioria dos núcleos urbanos se localiza em regiões que favorecem as comunicações e as atividades econômicas próximas à costa, em vales férteis, em encruzilhadas de caminhos e assim por diante. Na Antiguidade e na Idade Média, muitas cidades foram fundadas em serras e colinas, locais de fácil defesa. Posteriormente, a população desceu às planícies e nelas se edificaram novos bairros.
O mapa urbano
A morfologia urbana permite conhecer como é uma cidade internamente (traçado das ruas, praças e parques, forma dos edifícios etc.) e como se distribuem esses elementos. O estudo do mapa reflete as diferentes estruturas urbanas.
- Nas cidades com plano linear, as casas se distribuem em ambos os lados de uma rua de comunicação principal.
- As cidades com plano ortogonal e em quadras simétricas têm ruas retas, cujos cruzamentos formam ângulos retos. As casas se agrupam formando quarteirões ou quadras. É um traçado claro e simples, facilmente ampliável. Porém tem dois inconvenientes: o tráfego tende a se tornar mais lento nos cruzamentos e a orientação é, por vezes, difícil diante da homogeneidade das edificações. Esse tipo de mapa foi adotado nas cidades romanas, naquelas fundadas pelos espanhóis na América hispânica e nas redondezas das cidades europeias no século XIX.
- As cidades de plano radiocêntrico estão configuradas por ruas que partem de um mesmo centro e se prolongam em sentido radial, cortadas por vias circulares concêntricas. Esse tipo de mapa se adapta a topografias complexas e o acesso ao centro é rápido, devido às ruas radiais. Porém, o tráfego entre os extremos é lento, porque se deve passar pelo centro para dirigir-se a qualquer ponto, A maior parte dessas cidades tem origem defensiva: É o caso de Milão, Washington e Moscou.
- Nas cidades de plano irregular, as ruas têm larguras distintas e estão traçadas sem ordem. Nesse tipo de urbe as comunicações são difíceis. É o caso da maioria das cidades muçulmanas e de algumas cidades medievais europeias.
Os tipos de moradia
As construções urbanas foram se modificando ao longo do tempo. Até o século XIX, as casas se agrupavam umas junto às outras, sem atender a um planejamento de alturas, fachadas ou materiais utilizados em sua construção.
No século XIX, as moradias dos novos bairros passaram a se agrupar em quadras ou quarteirões em volta de um pátio e a apresentar estrutura homogênea. No século XX, tomaram-se comuns os arranha-céus e os edifícios residenciais de altura elevada, isolados uns dos outros e rodeados de ruas e jardins.
Por: Paulo Magno da Costa Torres
Veja também:
- Surgimento das Primeiras Cidades
- Metrópole, Megalópole, Megacidades e Cidades Globais
- Hierarquia Urbana e Redes Urbanas
- O Processo de Urbanização