Sabemos quanto as sociedades, desde as primitivas, independentemente do tempo em que ocorrem, às mais sofisticadas, com alto grau de uso de ciência e tecnologia, dependem dos recursos da natureza para suprir suas necessidades.
A forma de apropriação das riquezas naturais pode diferir de uma sociedade para outra, no tempo histórico e no espaço geográfico, o que pode determinar por consequência o seu esgotamento, que decorrem das relações entre a sociedade e a natureza, tanto para uma quanto para a outra.
Verdade é que, no passado, em virtude da maior quantidade de alguns recursos naturais disponíveis e da menor demanda de consumo, por conta da menor quantidade de população, muitas riquezas naturais pareciam inesgotáveis.
Quem poderia supor que a “farta” Mata Atlântica brasileira, explorada com avidez pelos europeus a partir do século XVI, pudesse um dia ficar tão ameaçada de desaparecer? O mesmo ocorre com muitos recursos hídricos, usados de forma indiscriminada e muitas vezes até inadequada em várias partes do globo.
Muitas gerações no Brasil foram educadas a pensar que nossos recursos naturais jamais acabariam. Orgulhosas da posição de destaque que ocupamos mundialmente em relação às dimensões territoriais, às potencialidades hídricas e florestais, agiam como se isso bastasse para, fatalisticamente, chegarmos à condição de potência mundial, coisa de merecimento inevitável.
A perigosa ideia de “potência predestinada”, baseada na fartura dos recursos da terra, afastou-nos da criticidade histórica, pela compensação do “paraíso natural” concedido. Fato curioso é que, enquanto as bandeiras de todas as nações que se tornaram independentes no século XIX continham idealizações políticas, a nossa foi a única a conter apenas expressões da riqueza natural, como matas, céu e ouro.
Muitas frases de efeito foram criadas no sentido de mostrar os privilégios que o nosso país possui, pelo fato de não ocorrerem nele algumas catástrofes de ordem física típicas de outras porções do globo, tais como terremotos e furacões. A ideia de “terra abençoada” foi cantada por muitos e até arriscou-se a brincadeira de que “Deus é brasileiro”.
Enfim, diante de fatos inegavelmente verdadeiros, como a abundância de algumas potencialidades naturais, a exuberância da tropicalidade, as condições geológica e geográfica que nos beneficiam, esquecemo-nos de cuidar adequadamente do que nos pertence, da construção racional da nossa história.
Aliás, essa postura não é típica apenas do Brasil. Caracteriza todas as regiões do planeta onde houve, . inicialmente, exploração desenfreada de recursos naturais sem qualquer planejamento, em nome apenas dos resultados financeiros.
Ocorre que, nos países desenvolvidos, onde no passado houve uso inadequado de certos recursos, como por exemplo a água dos rios, com visão preservacionista e intervenção técnica fez-se a recuperação de muitas dessas reservas. Um dos exemplos mais citados internacionalmente para este caso é o do rio Tâmisa, em Londres, que foi recuperado depois de muito afetado por lançamento de poluentes em suas águas, usadas inadequadamente como esgoto.
As regiões mais afetadas pela ação nefasta e devastadora sobre os bens da natureza são as subdesenvolvidas. Nelas, a falta de legislação para coibir ações criminosas, além da ausência de fiscalização para muitos crimes ambientais, expõe os bens da natureza a uma situação de extrema vulnerabilidade.
Além disso, a ação econômica continua a reger os atos de agressão contra a natureza, mesmo com o conhecimento técnico de que isso pode levar muitas regiões do planeta ao caos.
Felizmente, a democratização da informação e os alarmes que têm sido dados sobre o esgotamento de recursos em escalas mundial e local colocam o mundo de prontidão e preocupado com algumas situações que o nosso planeta vivência.
Nunca se falou tanto sobre a necessidade da mudança de visão em relação ao uso dos recursos disponíveis no planeta. Nunca se falou tanto em escassez e em uso racional de qualquer tipo de recurso.
Hoje, em todo o mundo, procuram-se saídas para evitar o desperdício, qualquer que seja o produto. A orientação geral e técnica é o uso adequado, com moderação, a reciclagem e o reaproveitamento.
De verdade, a ideia de que possuímos fontes inesgotáveis de recursos não passa de um mito. Isso fica claro especialmente quando estudamos as questões que caracterizam o Brasil, visto que já possuímos cinco séculos de história que nos mostram o esgotamento dos recursos.
Já não se pode olhar o futuro acreditando que o nosso planeta é uma caixa mágica que nos suprirá, com abundância, de todas as nossas necessidades, interminavelmente.
O que está ficando cada vez mais evidente é que as populações precisam, com urgência, adotar dois procedimentos que se complementam: o primeiro, preservar e, o segundo, não desperdiçar.
É interessante notar que a educação parece ser a base para que qualquer política pública adotada nessa direção surta efeito, pois tanto a agressão à natureza quanto o desperdício de recursos estão presentes em todas as camadas sociais, independentemente da condição econômica das pessoas.
A educação pode não apenas orientar por meio de conhecimentos teóricos e práticos como, acima de tudo, nos sensibilizar para as necessidades coletivas, para a visão de que o planeta Terra é a casa de todos, independentemente de fronteiras, religião, ideologia e interesses econômicos e políticos.
Por: Renan Bardine
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