O termo eurocentrismo vem da visão do continente europeu como o centro do mundo. Exemplo disso é a marcação do Meridiano de Greenwich como o divisor entre o mundo ocidental e o oriental (criação europeia)
É importante salientar que a centralização não se dá somente no âmbito geográfico, mas também cultural, político e econômico. A cultura, a população e a organização social do povo europeu seriam elementos fundamentais para a constituição da sociedade moderna, sendo a sociedade europeia considerada protagonista da história dos indivíduos.
A historiografia do século XIX até meados do século XX assume um contexto eurocêntrico independente da região do globo em que esteja. No final do século XX, o revisionismo histórico direcionado por alguns pesquisadores tentou reverter essa visão única de mundo e buscou novas perspectivas.
O meio acadêmico por conta dessa visão em determinados períodos históricos enxergou culturas não europeias de forma exótica ou xenófoba. Isso ocorreu de forma mais explícita no século XIX, por ser um ideal do Darwinismo Social, que acreditava que a humanidade caminhava para um modelo de civilização europeu. Essa ideologia deixou como legado a projeção de Mercator do mapa-múndi, o conceito de Oriente e Ocidente e a divisão Norte e Sul do planeta, por exemplo.
Neste artigo, abordaremos como o eurocentrismo serviu de base para a colonização, a escravidão e a forma como compreendemos a própria história do Brasil. Além disso, será abordado como o darwinismo social fortaleceu esse pensamento e serviu de base para politicas eugenistas ao redor do mundo, inclusive no Brasil. Por fim, traz a ideia de reconhecer a diversidade cultural como algo positivo e necessário para combater praticas intolerantes, como racismo e xenofobia.
Visão eurocêntrica de mundo
A visão eurocêntrica, que parte do pressuposto de que a cultura europeia é mais desenvolvida do que outras, fundamentou o processo de colonização europeu quando países do continente, sobretudo o Reino Unido, eram o centro de poder do mundo.
A imposição da cultura europeia apresenta fortes marcas até hoje nos países que foram colonizados, a exemplo do Brasil. A própria história ainda é comumente contada a partir da visão dos europeus, e a língua, a religião e os costumes são mantidos até hoje.
Contudo, a ideia de que uma cultura é superior a outra é um equívoco e é importante identificar e compreender outras culturas para reconhecer nossa própria identidade e combater atitudes intolerantes.
Etnocentrismo europeu
O etnocentrismo é a atitude de colocar sua própria cultura no centro e passar a considerá-la como mais correta e superior a qualquer outra.
Em uma atitude etnocêntrica, tudo é percebido sob apenas um prisma e todas as outras possibilidades são excluídas. Assim, um indivíduo com essa visão enxerga a cultura à qual pertence como única forma correta de viver em sociedade, enquanto as demais são desconsideradas ou consideradas erradas.
O eurocentrismo é um tipo de etnocentrismo, pois trata-se de uma visão de mundo centrada na cultura europeia em detrimento das outras.
Origem do eurocentrismo
O início do eurocentrismo se dá a partir da colonização, das Grandes Navegações que levaram europeus, sobretudo ocidentais, ao continente americano e ao capitalismo moderno. A partir disso, os países da Europa passaram a impor sua cultura ao restante do mundo, com sua religião, sua língua e seus costumes, e naturalizaram a sociedade liberal europeia como única forma possível de organização social e econômica.
Consequências do eurocentrismo e do darwinismo social
O eurocentrismo serviu como justificativa para a colonização europeia, com a dominação de territórios da América, Ásia, Oceania e África. A dizimação dos povos indígenas, a escravidão de povos africanos e a imposição da cultura europeia tinham base na crença de que o modelo europeu era o mais civilizado, racional e correto.
Esse pensamento ganhou força com as teorias do “darwinismo social”, do filósofo Herbert Spencer, no século XIX, utilizando ideias de Charles Darwin e Alfred Wallace sobre o processo adaptativo dos seres vivos para explicar as sociedades humanas. Para essa teoria, o grupo mais forte, mais apto e mais coeso seria o grupo dominante e hegemônico.
De acordo com essa teoria, os europeus ocupariam o topo da civilização humana por estarem no caminho do capitalismo liberal industrial, por terem mais poder político e econômico e, assim, serem mais ricos e mais aptos, enquanto os outros povos, com outros sistemas sociais, estavam em situação atrasada e inferior. Nesse sentido, a colonização e a dominação seriam uma benfeitoria, como uma oportunidade para outros povos “evoluírem”.
Esse pensamento motivou diversas lutas entre grupos e etnias, e várias outras ideologias e teorias que defendiam a existência de raças superiores e inferiores culminaram no nazismo, na xenofobia e em diversas políticas eugenistas e extremamente violentas.
O darwinismo social foi um grande equívoco e uma distorção das ideias de Darwin, pois não há como atribuir valores sociais a uma teoria científica restrita à explicação da diversidade biológica dos seres vivos.
Heranças eurocêntricas do Brasil
Após o fim do Período Colonial, o Brasil manteve muitas concepções eurocêntricas em sua cultura. Assim como outros Estados que surgiram após serem colonizados, a própria noção do que é um país foi herdada da Europa.
O processo de urbanização brasileira teve base nos moldes europeus: vestimentas, religião predominante e língua vieram da Europa. Em diversos momentos, a história do Brasil ainda é contada na perspectiva do “descobrimento” e não da perspectiva da habitação por povos nativos antes da chegada dos portugueses.
As raízes do pensamento eurocêntrico permanecem nos dias atuais. No calendário oficial do país são consideradas as datas festivas da religião cristã, trazida pelos europeus. O Natal, por exemplo, foi incorporado às festividades brasileiras, mas apesar de ocorrer no verão utiliza decoração com base no inverno europeu. Além disso, houve políticas de incentivo à imigração europeia visando, entre outros fatores, ao “embranquecimento” da população.
Além da grande influência europeia, a sociedade brasileira também apresenta grande contribuição cultural das populações indígenas e dos povos africanos que deve ser compreendida e valorizada como melhor forma de conhecer a nós mesmos e combater atitudes intolerantes como racismo e xenofobia.
A xenofobia e sua ligação com o eurocentrismo
No decorrer das gerações, alguns grupos étnicos se elevaram em relação a outros menos favorecidos econômica e tecnologicamente. Com a ascensão e o poder desses grupos, as demais etnias e culturas começaram a ser menosprezadas, tornadas ridículas ou motivo de ódio.
Com vários países europeus cujos partidos políticos pautam-se em discursos nacionalistas, começa o surgimento agrupado de xenófobos organizados, que muitas vezes manifestam-se publicamente contrários a imigrantes ou descendentes deles (no caso europeu, principalmente muçulmanos).
Em um mundo tão moderno como o atual, é preocupante que ainda se perpetuem discussões de superioridade e inferioridade étnico-raciais, que em sua maioria possuem argumentos rasos e origem em dados subjetivos.
É importante destacar que a ideia de xenofobia não se restringe apenas a imigrantes, mas também a migrantes – pessoas da própria nação.