Durante a época glacial, os homens pré-históricos encontraram refúgio nas grutas e nelas plasmaram sua incipiente inquietação artística, de que constituem brilhantes testemunhos as pinturas rupestres das grutas de Altamira, na Espanha.
Gruta ou caverna é toda cavidade profunda provocada na rocha por fenômenos naturais. Mede desde poucos metros a vários quilômetros de comprimento e apresenta formas irregulares, numa direção mais ou menos definida. Algumas grutas se apresentam como corredores estreitos, que se abrem em imensos salões, e outras formam poços verticais que podem atingir grande profundidade.
Podem formar-se grutas em qualquer tipo de rocha — mármore, calcário, quartzito e arenito –, desde que haja espaço para que circule a água. A circulação da água aumenta esses espaços pela remoção de partículas ou pela dissolução química das rochas. As grutas mais extraordinárias pelo tamanho e beleza resultam do processo de dissolução de rochas calcárias por águas subterrâneas carregadas de ácido carbônico. Algumas grutas são de origem vulcânica e formaram-se quando uma corrente de lava muito liquefeita perfurou outra porção que se estava resfriando, quase sólida. Dá-se o nome de espeleologia à ciência que tem por finalidade o estudo das grutas.
Estalactites e estalagmites
No teto das grutas há um constante gotejar de água saturada de bicarbonato de cálcio. Em consequência da evaporação de cada gota d’água, precipita-se o carbonato de cálcio que, com alguma sílica, argila e outras substâncias, fica suspenso, primeiro do teto, depois do extremo inferior da crosta que se vai formando e logo adquire feitio cônico ou cilíndrico. O restante de cada gota cai ao solo e, no pequeno charco formado, precipitam-se os sais que excedem o limite de saturação, que vão constituindo outra crosta em forma de cogumelo e, mais tarde, de cilindro.
À crosta pendente do teto dá-se o nome de estalactite; a que se eleva do piso da gruta chama-se estalagmite. Depois de alguns anos ambas se juntam, formando uma coluna. Quando a água é rica em sais de ferro, cobre e outros materiais que lhe dão cor viva, as estalactites e estalagmites apresentam variado e belo colorido, mas em geral sua cor é branca pardacenta ou ligeiramente castanha.
Formas de vida
A profunda escuridão do interior das grutas e as condições climáticas estáveis favorecem numerosas formas de vida animal, bem como de plantas e microrganismos. Ali se desenvolvem espécies que não têm olhos nem pigmentação, propriedades desnecessárias à sobrevivência subterrânea. A salamandra europeia, Proteus anguinus, e o peixe de gruta, Amblyopsis spelaea, da caverna Mammoth, nos Estados Unidos, são os trogloditas (habitantes de cavernas) mais conhecidos, mas há muitos outros casos de adaptação à vida nas grutas entre aranhas, insetos e ordens inferiores.
Grutas famosas
A gruta de Fingal, na ilha de Staffa, perto da Escócia, tem o nome de um herói lendário. Lavrada pelo mar, em seus pontos mais profundos continua a ouvir-se o marulho entre os pilares de basalto de cerca de 11m de altura. A gruta Mammoth, de Kentucky, Estados Unidos, é das mais visitadas do país e constitui um dos sistemas de cavernas maiores e mais complexos que se conhecem. Já teve mais de 240km de galerias exploradas.
A gruta de Cachuamilpa, perto de Cuernavaca, é provavelmente a maior do México. Somente um de seus salões mede mais de 1.600m de comprimento por quarenta de altura em média. Outras grutas ficaram famosas por sua contribuição ao estudo da origem do homem. As descobertas de fósseis em Skerfontein e outras grutas africanas levam a crer que o homem se originou naquele continente. Espécies mais adiantadas foram descobertas em grutas da China.
O homem de Neandertal foi encontrado numa gruta alemã. Seu sucessor, o homem de Cro-Magnon, deixou como lembrança algumas notáveis pinturas rupestres que representam figuras humanas e de animais da época. Essas pinturas foram encontradas em sítios hoje célebres, como as cavernas de Altamira, na Espanha, e Lascaux, na França. Desde o paleolítico, o homem continuou a utilizar grutas como templos, fortalezas e santuários, do mesmo modo que como abrigos.
Grutas brasileiras
No Brasil, conhecem-se numerosas grutas calcárias. Dentre as mais famosas estão as de Bom Jesus da Lapa, na Bahia, e as de Maquiné e Lapinha, na bacia do rio das Velhas, em Minas Gerais. Nessa última região ocorrem centenas de grutas, em muitas das quais encontraram-se ossadas humanas e de animais fósseis. As da Lagoa Santa foram exploradas exaustivamente por Peter Lund, em meados do século XIX.
Pitorescas grutas calcárias encontram-se na região paulista de Iporanga. As mais conhecidas são Arataca e Monjolinho, esta uma magnífica caverna seca à qual se chega por uma abertura de cinco metros de largura por três de altura que conduz a um verdadeiro labirinto de salas revestidas de estalactites e estalagmites.
Ricardo Krone, um dos pioneiros na exploração das grutas da região, assim se referiu a respeito de uma das grandes salas da caverna, de quarenta metros de comprimento por vinte de largura: “Não é a conformação gigantesca, de colunas colossais, que produz o belo efeito: é a grandiosa variedade e multiplicidade de formas e figuras bizarras. Cortinas de quase um metro de largura e de três metros de altura, com apenas cinco a seis milímetros de espessura, guarnecem e escondem os paredões de um dos cantos da majestosa sala.” Em outra sala pode-se observar uma enorme coluna de 8,5m de circunferência na base, conhecida como o Gigante do Monjolinho. As grutas da região de Iporanga contêm ossadas de animais fósseis e em algumas vivem peixes cegos.
Autoria: Aline Marques