Irã, república do sudoeste da Ásia, limita-se ao norte com a Armênia, o Azerbaijão, o Turcomenistão e o mar Cáspio, a leste com o Afeganistão e Paquistão, ao sul com o golfo de Omã, o estreito de Ormuz e o golfo Pérsico e a oeste com o Iraque e a Turquia. Tem 1.648.000 km2 de extensão territorial. Até a década de 1930, o Irã era conhecido com o nome de Pérsia. A capital é Teerã.
TERRITÓRIO
O Irã caracteriza-se por ter um planalto central contornado por montanhas em quase toda sua extensão. Até o norte, estendendo-se em paralelo à costa sul do mar Cáspio, encontram-se os montes Elburz. Ao longo da fronteira ocidental, erguem-se os montes Zagros, que se estendem para o sudeste até atingir a região que margeia o golfo Pérsico. Além da estreita planície litorânea, a única zona relativamente plana é a planície de Khuzistão, a oeste.
Dois grandes desertos ocupam grande parte do centro do Irã, o Dasht-i-Lut, coberto por areias e rochedos, e o Dasht-i-Kavir, coberto de sal em algumas partes. O Irã pode ser dividido climaticamente em três grandes regiões: as costas do golfo Pérsico e o golfo de Omã, extremamente quentes, as terras altas centrais de temperatura moderada, porém árida, e as terras extremamente frias dos montes Elburz.
POPULAÇÃO E GOVERNO
Cerca da metade da população (46%) é persa e descende dos povos indo-europeus que chegaram no II milênio a.C. O resto da população é composta por azeris (17%), curdos (9%), gilanis, lumis, mazandarais, baluquis, árabes e baktiaris. A população, segundo estimativas para 1993, era de 63.369.809 habitantes, com 39 hab/km2 de densidade média. As principais cidades são: Teerã com 6.475.527, em 1991, Mashhad e Isfahan. O idioma oficial é o persa moderno ou farsi, uma língua indo-iraniana (ver Língua persa; Literatura árabe; Literatura persa). A religião oficial é o xiismo, uma crença islâmica seguida por 94% da população. Os muçulmanos sunitas constituem 8%, existindo ainda comunidades menos desenvolvidas de cristãos, judeus, zoroastristas e bahais (ver Arte e arquitetura do Irã). A Constituição de 1979 instaurou a República Islâmica, onde os preceitos do Islã são a base das relações sociais, políticas e econômicas. Um dirigente religioso chamado de faqih, supervisiona a atividade do governo. O presidente, eleito por sufrágio, comanda o poder executivo, além de ser o chefe do estado. O poder legislativo é exercido por um parlamento unicameral chamado Majlis.
ECONOMIA
Em 1994, o produto interno bruto era de 74,2 bilhões de dólares. A moeda é o rial. Os principais cultivos são: trigo, batata, cevada, uva e arroz. Há também uma importante criação de gado. Mesmo que a pesca comercial seja relevante para a economia, ainda não se desenvolveu completamente. O caviar do Irã é considerado um dos melhores do mundo. O país se destaca pela produção de petróleo e seus principais campos petrolíferos estão entre os mais ricos do mundo. Sua atividade industrial se concentra na indústria petroquímica, têxtil, de alimentos, fabricação de equipamentos eletrônicos, material de construção, siderurgia do aço e fabricação de veículos.
HISTÓRIA
A derrota do império sassânida pelos árabes significou uma mudança definitiva para o Irã. Seu território foi incorporado ao Califado, regido em princípio de Medina e mais tarde de Damasco e Bagdá. A partir desse momento, o Irã seria uma nação muçulmana. Em meados do século XI, os turcos selêucidas conquistaram o Irã, que passou a ser dominado nos séculos subsequentes pelos mongóis, sob o comando de Gengis Khan e Tamerlão, e finalmente pelos turcomanos. O poder turcomano terminou com Ismail I, que foi proclamado xá, marcando o início da dinastia safávida (1502-1736) e o estabelecimento da doutrina xiita como religião oficial do Irã.
O reinado de Ismail se caracterizou por um conflito com o império otomano que só acabaria um século depois, com a toma de Bagdá em 1623 pelo xá Abbas I o Grande. No decorrer do século seguinte, o Irã iniciou uma lenta decadência, até que em 1722 o país foi conquistado por um exército de afegãos sunitas liderados por Mir Mahmud. Aproveitando a confusão existente no Irã, a Rússia e a Turquia fizeram um acordo para desmembrar o país. Um exército nacional iraniano, liderado pelo caudilho que expulsou os afegãos em 1729 e que, em 1736, tomou posse com o nome de Nadir Xá, expulsou os russos e os turcos, terminando com a ocupação estrangeira em território iraniano. Nadir Xá reinou entre os anos 1736 e 1747. Os séculos XIX e XX testemunharam a luta entre a Grã-Bretanha e a Rússia pela hegemonia sobre o Irã.
O aumento do poder estrangeiro e a fraqueza e corrupção dos seus governantes provocaram, no início do século XX, o aparecimento de um movimento nacionalista que reivindicava o estabelecimento de um governo constitucional. Em 1906, o xá Muzaffar al-Din, que reinou entre os anos 1896 e 1907, foi obrigado pela população a convocar a primeira Assembleia Nacional. Essa Assembleia tinha o objetivo principal de redigir uma constituição de cunho liberal. Apesar da neutralidade do Irã na I Guerra Mundial (1914-1918), seu território foi testemunha de várias batalhas pelo controle de seus campos de petróleo entre as forças aliadas da Rússia e Grã-Bretanha e da Turquia. Reza xá Pahlevi estabeleceu um novo governo independente, através de um golpe de estado, e em 1925 foi proclamado xá. Durante seu reinado, o sistema judiciário foi modificado, iniciou-se um programa de ocidentalização, os direitos feudais acabaram e começou um programa de modernização da economia do país a longo prazo.
Na II Guerra Mundial, a Grã-Bretanha e a URSS ocuparam algumas áreas do país para proteger os campos petrolíferos de uma provável incursão alemã. Os aliados assumiram o controle do sistema de comunicações do Irã e Reza Pahlavi, que simpatizava com os interesses do Eixo, abdicou. Seu filho, Mohamed Reza xá Pahlevi, o sucedeu no trono adotando uma política favorável aos aliados e concordando com as reformas liberais que o parlamento queria impor. Em 1943, o governo iraniano protestou por causa do total isolamento a que foi submetida a zona de ocupação por parte da URSS. Esta disputa foi resolvida na Conferência de Teerã, onde surgiu a Declaração sobre a independência, soberania e integridade territorial do Irã. As grandes dificuldades econômicas que surgiram na primeira metade de 1950 geraram uma grave crise política.
O general Ali Razmara assumiu o cargo de primeiro-ministro. Sua política conseguiu melhorar a situação econômica do país, mas se opôs radicalmente à nacionalização da indústria do petróleo. Foi assassinado em 1951. Mohamed Hidayat Mossadegh o sucedeu no cargo como dirigente do Partido da Frente Nacional. Defendeu também a nacionalização das empresas de petróleo. Em 1953, o Majlis ampliou os poderes ditatoriais de Mossadeg, mas logo depois os dois poderes entraram em conflito por causa da repercussão internacional da nacionalização das companhias petroleiras, em sua maioria inglesas. O mandatário dissolveu a câmara de deputados e o xá, que se opunha a muitas das medidas adotadas, o destituiu. Mossadegh negou-se a abandonar o cargo e seus seguidores levantaram-se contra a monarquia, obrigando Reza Pahlevi a partir para o exílio. Mas o boicote econômico das potências ocidentais e a aceitação de uma aliança com a União Soviética enfraqueceram a posição de Mossadeg. Após a vitória dos partidários do xá, conseguida com a ajuda dos serviços secretos ingleses e norte-americanos, o general Fazlollah Zahedi foi nomeado primeiro-ministro e começou a governar. O xá aumentou seu controle sobre o governo, mantendo uma estreita aliança com os Estados Unidos.
Em 1960, o Irã reconheceu o estado de Israel, dificultando as relações como o Egito. Por isso, a Liga Árabe estendeu ao Irã o boicote que exercia contra Israel. A coroação oficial do xá foi celebrada em 1967, embora já estivesse na direção do país fazia 26 anos. No momento da coroação, o poder do xá era quase absoluto e pretendia estabelecer uma política exterior mais independente dos Estados Unidos, mas estreitando suas relações com os países do Leste, enquanto se aproximava do mundo árabe, com exceção do Iraque, com que disputava territórios. Apesar da prosperidade na década de 1970, devido em grande parte aos lucros do petróleo, a oposição ao xá foi se generalizando, incentivada por dirigentes religiosos conservadores. Em 1978 produziram-se distúrbios em várias cidades do Irã, liderados por xiitas, fundamentalistas islâmicos que pretendiam que a nação fosse regida pela sharia ou lei islâmica. Esses distúrbios eram comandados de Paris pelo aiatolá Ruhollah Khomeini, exilado desde 1963. A repressão levada a cabo pela polícia secreta, com uso frequente da tortura e prisões arbitrárias, deu maior impulso à resistência que rapidamente, insuflada das mesquitas pelos sacerdotes, virou uma revolução. A nomeação de um primeiro ministro moderado foi feita tarde demais, e Mohammed Reza Pahlevi teve que abdicar e deixar o país. Após a derrota do xá, Khomeini, apoiado pelo clero xiita e por amplos setores da população, liderou a instauração de uma república islâmica. Em 1979, foi aprovada uma nova constituição e em janeiro de 1980 celebraram-se eleições para um novo presidente.
O fundamentalista Muhammad Ali Rajai foi nomeado primeiro-ministro. Enquanto isso, algumas minorias étnicas do Irã, como os curdos do oeste, os azeris do norte e os árabes do Khuzistão deflagraram uma guerra para lutar pela sua autonomia. Em setembro de 1980, o Iraque exigiu a autonomia para a minoria árabe. Quando o Irã rejeitou estas demandas, o Iraque invadiu o Irã, iniciando a Guerra Irã-Iraque. Em 1981, o Parlamento fundamentalista e o primeiro-ministro Rajai, derrotaram o presidente Bani Sadr, que foi destituído de seu cargo, substituído por Rajai na presidência. Após as eleições gerais de outubro, Ali Kamenei tornou-se o terceiro a ocupar a presidência da República nesse mesmo ano, enquanto Husein Musavi era eleito primeiro-ministro. Quando Khomeini morreu em 1989, o presidente Kamenei o sucedeu no cargo como Guia da Revolução (equivalente à chefia de estado no Irã, desde a revolução). Hashemi Rafsanjani foi eleito presidente.
O Irã condenou tanto a invasão iraquiana no Kuwait durante a Guerra do Golfo Pérsico quanto o posterior deslocamento de tropas dos Estados Unidos na Arábia Saudita, mas reatou as relações diplomáticas com o Iraque, que por sua vez, renunciou às suas pretensões territoriais no Irã. A facção que apoiava Rafsanjani conseguiu a maioria no Parlamento em 1992, e ele mesmo foi reeleito em junho de 1993. Nos anos seguintes o Irã, acusado pelos Estados Unidos de ser o promotor do terrorismo internacional, sofreu um verdadeiro cerco econômico e diplomático, vendo reduzir-se os investimentos estrangeiros e sofrendo um embargo econômico semelhante ao que afetava países como Cuba ou Líbia. Mas a insistência em posturas radicais como a condenação à morte do escritor Salman Rushdie, a repressão das minorias nacionais e a segregação das mulheres reduziu muito o apoio internacional que o país pudesse ter. Em 1997, o governo iraniano foi responsabilizado pelo assassinato de quatro militantes nacionalistas curdos na Alemanha, pela Suprema Corte de Berlim. Nas eleições parlamentares de 1996, a Sociedade do Clero Iraniano, partido dos aiatolás, perdeu a maioria no Parlamento. Nas eleições presidenciais de maio de 1997, o moderado Sayed Mohammad Khatami teve apoio popular para enfrentar e derrotar Ali Nateq Nouri, candidato dos religiosos de direita.
O governo de Khatami não tem sido fácil, devido à oposição dos radicais xiitas e da direita clerical, mas tem tido êxito em melhorar a imagem externa do seu país. Em setembro de 1998 garantiu que seu governo não tomará qualquer medida para fazer cumprir a pena de morte contra Rushdie, ainda que não tenha poderes para revogá-la, e em dezembro fez uma visita à Itália durante a qual manteve uma histórica entrevista com o papa João Paulo II. Em fins de fevereiro de 1999, seus partidários obtiveram uma considerável vitória nas primeiras eleições municipais realizadas desde a revolução islâmica, vencendo nas maiores cidades e obtendo a totalidade dos cargos no Conselho Municipal de Teerã. Mas o aspecto mais importante da derrota eleitoral dos aiatolás foi que, dos 200 mil cargos municipais em disputa, 4 mil foram preenchidos por mulheres, que tinham sido duramente segregadas desde os tempos de Khomeini.