A transição demográfica foi concebida em 1929 pelo demógrafo norte-americano Frank Notestein, da Universidade de Cornell. Notestein se baseou nos padrões de crescimento populacional apontados quinze anos antes por Warren Simpson Thompson, observando que a demografia ou concentração populacional obedece, estatisticamente, uma evolução em estágios bem definidos.
À medida que a população em determinada região cresce, com taxas de natalidade muito acima das de mortalidade, ela evolui e a população absoluta em si tende, após cumprir uma série de estágios, à estabilidade.
As quatro fases da transição demográfica
Fase 1 (pré-transição)
No primeiro estágio da demografia global, taxas de natalidade eram altíssimas, mas também as de mortalidade. A sociedade pré-industrial, como chamou Notestein, possuía um crescimento populacional estagnado.
Ainda que em algumas sociedades da Antiguidade as condições sanitárias e estilo de vida pudessem gerar uma maior expectativa de vida e uma redução da mortalidade por doenças e causas naturais, guerras, escravidão e ameaças constantes impediam um rápido crescimento demográfico.
De fato, durante quase 10 mil anos de história, a população global permaneceu praticamente inalterada, durante a pré-história. Com o surgimento das primeiras grandes civilizações, no ano 3000 a.C., a vida urbana, o acesso à água e condições de moradia e a agricultura permitiram que uma população mundial de alguns poucos milhões atingisse 30 milhões de pessoas.
O desenvolvimento humano até o surgimento da civilização grega e depois dos romanos, ao redor do ano 500 a.C. elevaram a população mundial até algo em torno dos 100 milhões de habitantes. Grandes cidades começavam a florescer, não apenas na Europa, mas também na Ásia e na América do Sul. Guerras e conflitos, além do trabalho escravo, contudo, mantinham um controle populacional razoavelmente eficaz.
E então, as coisas chegaram a uma certa estabilidade. Até esse ponto o aumento populacional parece muito mais voltado à ocupação humana em novas terras do que propriamente numa evolução demográfica local. E, tanto assim, que se contarmos do início do Império Romano, por volta do ano 50 a.C., até o fim da Idade Média, por volta de 1400 d.C., a população mundial passou de cerca de 160 milhões de habitantes para pouco mais de 350 milhões. Ou seja, em 1500 anos, a população humana apenas dobrou.
Não apenas guerras, mas epidemias, em especial a Peste Negra na Europa, contribuíram de maneira decisiva para a estagnação na demografia. De qualquer modo, a análise do primeiro estágio procede, à medida que milênios não foram capazes de produzir um aumento significativo da população, mesmo com avanços tecnológicos.
Fase 2 (acelerado crescimento populacional ou demográfico)
Ocorre o desenvolvimento industrial e, por consequência, a urbanização e o desenvolvimento econômico e social, caracterizando a fase da modernização. A Revolução Industrial é o ponto de virada – as Grandes Navegações permitiram um aumento populacional com base na colonização, dobrando a população mundial de 350 milhões de pessoas, em 1400, para quase 800 milhões, no início do século XIX. E então tudo mudou.
As taxas de natalidade, historicamente altas, se mantiveram praticamente inalteradas. Até o início do século XX, mesmo em regiões mais desenvolvidas, como a Europa, era comum encontrar famílias com dezenas de filhos. As taxas de mortalidade recuaram de forma significativa e a expectativa de vida aumentou.
O surgimento da medicina como conhecemos hoje, aliado às melhores condições sanitárias, fim da mão-de-obra escrava e migração da população rural para as cidades criaram condições para o aumento demográfico no entorno das grandes metrópoles industriais.
O crescimento vegetativo disparou. e a despeito de guerras e epidemias, pela primeira vez desde os primórdios da civilização era possível medir o aumento demográfico em base anual. Mesmo com o advento da Primeira Guerra Mundial e da epidemia global de Gripe Espanhola, além de dezenas de outras guerras, surtos infecciosos e desastres naturais, a população mundial atingiu a casa de 1 bilhão de pessoas por volta de 1830, dobrando nos cem anos seguintes e atingindo a casa de 2 bilhões de pessoas, às vésperas da Segunda Guerra Mundial.
Esse estágio é ainda hoje vivido na maioria dos países em desenvolvimento. Em alguns lugares, como na África Central e Subsaariana, no Subcontinente Indiano e em alguns pontos da América Latina, esse estágio ainda se encontra no ápice. Em outros países, como o Brasil, o México, a Turquia e países do Norte de África, há indicadores de uma transição da Fase 2 para a Fase 3.
Fase 3 (desaceleração populacional ou demográfica)
Com mais renda, melhores condições de vida e uma maior expectativa, mais conforto e condições sanitárias e um grau de estudo e esclarecimento maior, as populações tendem a reduzir o número de filhos. O próprio lazer e atividades econômicas mais intelectuais propiciam essa mudança, assim como os altos custos de manutenção de uma família. No terceiro estágio, observado em países que atingem um alto nível de desenvolvimento, a taxa de natalidade cai rapidamente e a taxa de mortalidade continua a cair também, embora em um ritmo menor do que antes.
A saída do crescimento demográfico explosivo ocorre e o crescimento vegetativo tende a zero ou a algo em torno de 1% ou 2%. A maioria dos países do norte europeu já iniciou o século XX nesse estágio, sendo seguidos posteriormente pelo restante da Europa e, mais recentemente, por alguns países asiáticos, como China, Japão e Coreia do Sul.
Fase 4 (estabilização populacional ou demográfica)
A fase quatro é onde ocorre a transição demográfica propriamente dita. As taxas de natalidade e mortalidade continuam a cair, ambas, porém em ritmo lento. Aqui, há o risco de uma continuidade na queda da natalidade, o que leva a um crescimento vegetativo negativo, resultando no chamado “inverno demográfico”, ou seja, redução da população absoluta em virtude de a taxa de mortalidade ficar superior à taxa de natalidade, caminho que os países europeus seguem rapidamente, como é o caso de Portugal.
Por: Carlos Artur Matos
Veja também:
- Teorias Demográficas
- Crescimento Vegetativo
- Neomalthusianismo
- Distribuição da População Mundial
- Distribuição da População Brasileira
- Países Desenvolvidos e Subdesenvolvidos