Entre 1894 e 1930, a política da República brasileira caracterizou-se pela prática do coronelismo e do clientelismo. Os coronéis – como eram chamados os grandes proprietários de terra – dominavam a política local. Como se fossem “clientes” do poder público, usavam sua influência no governo para obter financiamentos políticos, que ofereciam aos eleitores em troca de votos.
Por meio de coerção, os coronéis obrigavam aqueles que deles dependiam, geralmente trabalhadores do campo, a votar nos candidatos que atendessem aos seus interesses, voltados para o atendimento da política dos governadores. Era o “voto de cabresto” (assim chamado porque tais eleitores obedeciam cegamente ao coronel). Quanto maior o “curral eleitoral” do coronel, maior o seu poder local.
O termo coronel passou a figurar como uma espécie de título de nobreza, dado às pessoas influentes e que tivessem poder de mando sobre os habitantes de uma dada região. Os coronéis, geralmente senhores de muitas terras, tinham seus exércitos particulares, formados pelos capangas e jagunços.
O poder do coronelismo era tão grande que eles chegaram a formar batalhões com cerca de 3 mil homens para combater os revolucionários de 1930.
Origem do coronelismo
A figura dos coronéis teve origem na criação da Guarda Nacional durante o Império, que era formada por civis, cujos poderes locais eram delegados aos principais proprietários de terras de determinada região e aos chefes políticos mais poderosos, como modo de fortalecer a autoridade do governo central. O governo imperial concedia a essas pessoas o título de coronel.
Nas esferas regional e estadual, as elites agrárias eram representadas especialmente pelos produtores de cacau da Bahia; no âmbito federal, tinham bastante força política cafeicultores da região Sudeste, principalmente de São Paulo e Minas Gerais.
Características do coronelismo
O Voto de cabresto
Eram os coronéis que davam as cartas, estabeleciam códigos locais de leis e de comportamentos e decidiam os rumos da política.
Como o voto era aberto, eles interferiam nas decisões dos eleitores, decidindo para quem os votos deveriam ser destinados. Os eleitores eram fiscalizados por jagunços – homens do coronel que tratavam de garantir que as determinações do patrão fossem devidamente cumpridas.
Se mesmo assim os votos não fossem suficientes para garantir a vitória de seus representantes nas urnas, os coronéis se valiam de fraudes eleitorais, como a alteração de resultados.
Em troca, os coronéis concediam favores aos camponeses, em uma prática conhecida como clientelismo.
Como era a votação
No auge do coronelismo no Brasil, os eleitores – a maioria, analfabeta – dirigiam-se à urna já com uma anotação. Nela, constava o nome do candidato, determinado pelo coronel da localidade. Isso quando não era o próprio coronel quem controlava esse processo – da escolha dos candidatos até a contagem dos votos. E também era o coronel quem direcionava os votos dos empregados de suas propriedades rurais.
Só na década de 1930, com mudanças nas leis, a elite rural começou a perder essa ferramenta de imposição política. Outro aspecto que fez diferença foi a saída das famílias do campo para os centros urbanos – reduzindo, de certa forma, o poder de mando dos grandes proprietários.
As fraudes eleitorais
As fraudes eleitorais eram comuns durante as primeiras décadas da República, quando o voto não era secreto e não havia votos brancos ou nulos. Além das pressões que o eleitor sofria por parte dos coronéis, a contagem dos votos estava sujeita a adulterações. Rodrigues Alves, por exemplo, foi eleito com 99% dos votos apurados na eleição presidencial de 1918.
O coronelismo atualmente
O país sabe que o coronelismo ainda existe no Brasil dos rincões. Os eleitores das pequenas cidades – onde há desinformação e as privações preponderam sobre todo o resto – são presas fáceis de figurões da política local e de seus métodos. Entre as práticas, há chantagem, intimidação e violência institucional. A Constituição da República é simplesmente ignorada.
Em municípios do Norte e Nordeste (e também em muitas pequenas localidades Brasil afora), há uma frequência – intolerável em democracias minimamente respeitáveis – de denúncias de compra de votos e de eleitores recebendo favores e presentes. De um lado, o poder do mandatário de plantão sendo colocado a serviço de grupos que querem permanecer dando as cartas, de outro, os adversários destes grupos utilizando-se dos mesmos métodos.
Um Brasil do século retrasado que insiste em assombrar o país do presente.
Autoria: João Paulo Mestieri