Pedro Álvares nascera em Belmonte, norte de Portugal, entre 1467 e 1468. Seu trisavô era Álvaro Gil Cabral, que não apenas teve importante participação na batalha de Aljubarrota, em 1385, como foi o heroico defensor do castelo de Belmonte – do qual se tornou alcaide-mor (ou governador), cargo vitalício e hereditário.
A família obteve também o direito de ter um brasão, no qual Álvaro Gil decidiu colocar a imagem de três cabras – animal “valente e leal” tão comum naquela “rude terra centeeira, nas abas da serra da Estrela”. Pelos 200 anos seguintes, Belmonte seria um feudo da família Cabral.
O filho de Álvaro Gil e bisavô de Pedro Álvares era Luís Álvares Cabral, que lutou com o pai em Aljubarrota, foi escudeiro-fidalgo do rei D. João I e vedor (ou fiscal de finanças) da casa do Infante D. Henrique, ao lado do qual participou da tomada de Ceuta, em 1415. Também combatendo em Marrocos esteve Fernão Álvares, filho de Luís Álvares e avô do Cabral que descobriu o Brasil. Apesar de Ter adoecido de peste na galé de D. Henrique, Fernão Álvares recuperou-se a tempo e se tornou o primeiro europeu a “matar um mouro a cavalo nas terras de Ceuta”.
Fernão Álvares teve dois filhos: Diogo e Fernão. Fernão Cabral, tido por “galanteador e troveiro, metedor d’alvoroços entre as moças”, era um homem alto, de mais de 1,90m, apelidado de “Gigante da Beira”. Fernão casou-se com D. Isabel Gouveia, mulher riquíssima. Com ela, teve sete filhos, o segundo dos quais chamou-se Pedro Álvares.
Por não ser filho primogênito, Pedro Álvares, embora criado na corte de D. João II, não tinha direito à herança de seu pai. Mas acabou não precisando dela: ao casar-se com D. Isabel de Castro – que era neta do reis D. Fernando de Portugal e D. Henrique de Castela e sobrinha de Afonso de Albuquerque, o maior dos conquistadores lusos do século XVI -, Cabral tornou-se mais rico que o pai, o avô e o bisavô jamais haviam sido.
Em 15 de fevereiro de 1500, o rei D. Manoel o nomeou capitão-mor da armada que em breve entraria nas amplitudes do Atlântico. Não são poucos os analistas que acham que tal honraria se deveu ao “casamento bom”. É muito provável que Cabral, que era membro da Ordem de Cristo, jamais houvesse navegado.
Ao longo desses anos, o próprio Pedro Álvares caíra desgraça na corte, jamais voltando navegar ou a manter qualquer vínculo não só com o Brasil, mas com o próprio com império ultramarino que ajudara a criar.
Pouco mais de um mês após retornar a Lisboa, Cabral recebera do rei uma “tença” (ou pensão) anual de 30 mil reais, quase 14 vezes menos do que os 400 mil reais dados em 1498 a Vasco da Gama, a pensão também foi um prêmio por ter sido ele o primeiro a chegar à Índia por via marítima.
Logo em seguida à chegada de Cabral, D. Manoel começou a armar a chamada “Esquadra da Vingança”, que seria enviada para desferir novo e violento ataque contra Calicute. O descobridor do Brasil foi escalado para fazer parte dela. Não se sabe exatamente o que houve, mas o fato é que, ao recusar-se a aceitar o cargo de subcomandante, Cabral se indispôs com o rei.
Os motivos podem Ter sido dois. O primeiro é que da esquadra faria parte uma frota comandada por um certo Vicente Sodré – e, como ela teria autonomia de movimentos do Índico, Cabral se indignou com o que julgou ser uma diminuição de seus poderes. O segundo motivo, mais provável, é que, baseado nos poderes conferidos por uma carta régia assinada em 2 de outubro de 1501, Vasco da Gama – nomeado Almirante das Índias – teria exigido que o comando da armada fosse exclusivamente seu.
O fato é que quando a “Esquadra da Vingança” deixou Lisboa na primavera de 1502, seu único chefe era Vasco da Gama. Ao mesmo tempo, Cabral partia para o aumento-exílio em Santarém. Embora documentos provem que o rei continuou lhe pagando a pensão anual, Cabral jamais foi perdoado. Seu nome desaparece por completo das crônicas oficiais e nada se sabe sobre as duas últimas décadas de sua vida, exceto que ele estava doente das febres que adquirira na Índia.
Pedro Álvares Cabral morreu na obscuridade, por volta de 1520, sem nunca ter retornado à corte – e virtualmente sem saber que revelara ao mundo um território que era quase um continente. Em 1521 morria também o rei D. Manoel I, o monarca que jamais se interessou pela terra descoberta por Cabral.
Autoria: Juliano Carnero