História

Alemanha – da divisão à reunificação

Do ano zero às duas Alemanhas

Os alemães precisaram de quatro anos para sair do pesadelo em que a derrota nazista os mergulhara. Vencidos, ocupados por potências estrangeiras, divididos, exauridos, condenados pela história e pelos sobreviventes do genocídio, seu destino dependia da vontade dos Aliados. As divergências que minaram a aliança antinazista e desembocaram na guerra fria constituíram excelente oportunidade para os alemães, tanto no Oeste quanto no Leste, reivindicassem o direito a um papel ativo no novo jogo internacional.

O ano zero

Nos dias 7 e 8 de maio de 1945, quando os chefes de Estado Maior aliados e alemães, assinaram o documento de capitulação, o regime nazista, já desmoronara. Adolfo Hitler, com a ocupação de Berlim pelos soviéticos suicidou-se em 30 de Abril.

As grandes cidades industriais estavam destruídas, os portos impraticáveis e as grandes fábricas, fora de operação. A população estava aterrorizada, milhões de homens longe de casa, mulheres e crianças fugiam do avanço soviético. As perdas humanas chegaram a 8% da população. Os líderes nazistas desapareciam na enorme massa de prisioneiros de guerra ou tentavam fugir, através da Espanha e Portugal, para a América do Sul. Por esse motivo 1945 é o ano Zero, quando começaram a reconstruir dos escombros a vida nacional.

Quatro zonas de ocupação

Alemanha destruída pela guerra

A capitulação incondicional de 1945 implicou o desarmamento e a dissolução de todas as Forças Armadas, a SS e a policia. Nas conferências de Teerã 1943, e de Ialta 1945, ficou estabelecido por EUA, URSS, Reino Unido, a divisão alemã, para enfraquecê-la territorialmente, ocupá-la, impor-lhe indenizações de guerra e impedí-la de voltar a ser uma potência econômica.

Na conferência de Potsdam, julho e agosto de 1945, Truman, Churchill e Stalin decidiram tirar da Alemanha os territórios a leste dos rios Oder e Neisse, anexados por URSS e Polônia. A superfície alemã, ficou ¼ do que era em 1937.

As três grandes potências determinaram que a autoridade suprema seria exercida em três, depois quatro zonas de ocupação – A França seria admitida na partilha graças aos esforços do general De Gaulle, Berlim também seria divida em quatro setores de ocupação.

Modos divergentes de ocupação

Os aliados em sua zona de ocupação se lançaram a tarefa de restabelecer a democracia.

Em sua área, os soviéticos criaram o Bloco de Partidos Antifascistas. Este foi colocados sob a direção dos comunistas alemães, que estavam refugiados na URSS e retornaram a Alemanha com o exército vermelho.

Divisão da Alemanha em ocidental e orientalA criação da Bizone

No decorrer de 1946, as autoridades políticas alemãs nomeadas pelos Aliados ocidentais deram lugar a governantes eleitos. Na realidade, os EUA esforçavam-se por fazer com que os alemães aceitassem a divisão do país. As zonas americanas e britânicas fundiram-se numa nova entidade, a Bizone. Esse território voltou a ter administração alemã, liderados por Konrad Adeanuer. Começavam os preparativos para a convocação de uma Assembleia Constituinte.

Para impedir a adoção dessas medidas que resultariam no surgimento de um Estado alemão separado, a partir de 23 e 24 de junho de 1948 os soviéticos organizaram um bloqueio da antiga capital. Os acessos rodoviários e ferroviários foram fechados até maio de 1949. Para suprir a cidade de alimentos e outros artigos básicos, os americanos e britânicos montaram uma ponte aérea de quase duzentos mil voos.

Começa a nascer a Alemanha Ocidental – RFA

A questão das indenizações de guerra também constituía um ponto de discórdia entre ocidentais e soviéticos. Os soviéticos além de praticarem a política de terra arrasada em seu setor, exigiam ser indenizados com os equipamentos das indústrias situadas nas regiões mais ricas da Alemanha.

Americanos e britânicos perceberam que este desmantelamento transformariam as zonas de ocupação em desertos industriais e os obrigariam a gastar enormes quantias para sustentar o país. Dessa forma se declaram prontos a devolver responsabilidades econômicas aos alemães, para que estes assumissem seu próprio destino. Apesar de algumas reservas e apreensão foi permitida o estabelecimento de uma economia social de mercado alemã, e a criação de uma zona econômica com uma nova moeda, o marco alemão – Deutschmark. Essa reforma monetária de 1948 pode ser considerada a etapa mais importante para a criação de um e depois de dois Estados alemães. De fato, com ela o Ocidente confirmou a divisão da nação alemã. Nesse contexto de guerra fria, só restou aos soviéticos responder com medidas que tiveram por consequência a criação do segundo Estado alemão.

Surge a Alemanha Oriental – RDA

Desde cedo os soviéticos encorajaram a formação de um bloco antifascista na Alemanha Oriental. Três anos mais tarde o bloco transformou-se na Frente Nacional que constitui-se na espinha dorsal do novo Estado, criado a 7 de outubro de 1949. Constituía-se também de organizações de massa, sobretudo a federação sindical, o movimento feminino e o juvenil. A frente desenvolveu um programa antifascista e democrático, comandado por Walter Ulbricht, que voltou a Alemanha (zona soviética) em 1945. Tal estratégia subordinava inteiramente aos desejos e necessidades do ocupante soviético. Porém, para responder ao Plano Marshall e a garantia de um poder sem contestação sobre as novas nações socialistas, já que o dirigente iugoslavo Tito traçava uma política interna e externa independente de Moscou, o partido comunista adotou a ideologia marxista-lenista endurecendo seu controle sobre as nações sob seu domínio.

Muro de Berlim Duas Alemanha em busca de reconhecimento 1949-1972

Uma vez constituídas, as duas Alemanhas se engajaram por completo na área de influência de seus respectivos protetores. A guerra fria eliminou rapidamente qualquer esperança de reunificação alemã. Em 1961, a construção de um muro que isolava Berlim Oriental pareceu selar a divisão definitiva da Alemanha em dois Estados distintos. A RDA E A RFA tentaram ser reconhecidas pela comunidade internacional, também profundamente dividida.

RFA-RDA: história de uma separação – 1949-1955

Tanto no leste quanto no oeste, nenhum político alemão admitiu que a divisão de seu povo fosse permanente. A Alemanha Ocidental afirmava representar todo o povo alemão e decidiu atribuir-se o privilégio de representar a continuidade do Estado alemão. Na disputa áspera e sem concessões que opôs a RFA e a RDA, foi a Alemanha Ocidental a que obteve mais depressa os resultados visíveis.

A opção ocidental e europeia de Adenauer

Entre 1951 e 1955, o chanceler Adenauer ocupando também a função de ministro do Exterior objetivou sua política externa em fazer da novíssima RFA uma potência de âmbito internacional. Assim, adotou uma política de alinhamento com as condições impostas pelos aliados e não uma política de oposição buscando o alinhamento com a política dos Estados Unidos ou o estabelecimento de um eixo franco-alemão, em torno do qual se inscreveria a unidade europeia em 1958-1963.

A RFA aprovava as grandes decisões ocidentais, mas para ela era ponto de honra que essas decisões levassem em conta um ponto de vista simultaneamente alemão e europeu. Isso constituía uma oportunidade de afirmar sua soberania e ser considerada uma entidade política igual a seus parceiros. Dessa forma foi aceita em 1954 na OTAN.

O Leste limita-se a reagir

No Leste, a situação se apresentava de maneira totalmente diversa. Os dirigentes comunistas alemães não tentaram obter autonomia em relação aos soviéticos. Além disso, todas as medidas que provocaram a mudança do estatuto jurídico da zona de ocupação soviética foram apenas respostas a decisões ocidentais: a RDA foi fundada alguns meses depois da RFA, a Alemanha Oriental se integrou na aliança militar do Pacto de Varsóvia após a adesão da Alemanha Ocidental a OTAN. Essas decisões sempre se fizeram acompanhar de declarações que denunciavam a política revanchista dos alemães-ocidentais.

Às medidas políticas se juntavam aquelas destinadas a dar credibilidade à ideia de que a Alemanha Oriental, pacífica por natureza, era forçada a se transformar numa fortaleza para proteger-se do expansionismo das forças capitalista que a assediavam. Assim em 1952, uma zona proibida de cinco quilômetros de largura ao longo de toda a fronteira do oeste foi criada.

A Alemanha Ocidental alcança a soberania

Diante de uma garantia, a da integração da RFA na Comunidade Europeia de Defesa (CED) que deveria agrupar também a França, Itália, Holanda, Bélgica e Luxemburgo, a Alemanha Ocidental consegue sua soberania. Os únicos limites impostos eram a permanência de tropas estrangeiras no país, a continuação da divisão de Berlim em quatro zonas e a impossibilidade de concluir tratado de paz. Essa medida, considerada unilateral pelas autoridades soviéticas, fez com que a Alemanha Oriental imediatamente fechasse as fronteiras entre as duas zonas.

Contrariando os objetivos soviéticos, que queriam uma Alemanha desmilitarizada e neutralizada no centro da Europa, Adenauer consegue o rearmamento da Alemanha Ocidental integrando seu exército na OTAN, em outubro de 1954. Acabava também o regime de ocupação, e os altos comissários foram substituídos por embaixadores. Os ocupantes de antes se transformaram em aliados que defenderiam a Alemanha Ocidental do perigo comunista.

Conseguido a soberania a RFA inicia um crescimento econômico ininterrupto, o Milagre Alemão. Esse se deu devido ao modelo econômico, onde existia total liberdade aos agentes econômicos na condução de seus negócios, a ajuda financeira do plano Marshall e a moderna legislação trabalhista sindical introduzida no país. Isso permitiu uma taxa de crescimento superior a 10% durante 10 anos.

A soberania Ampliada da Alemanha Oriental

Os soviéticos, por sua vez, concederam ”soberania ampliada” aos alemães orientais, em marco de 1954. Um ano depois, em maio de 1955, a Alemanha Oriental se tornou membro pleno do Pacto de Varsóvia.

No entanto, para não ser considerada apenas uma das duas Alemanhas, a RFA pôs então em prática a chamada doutrina Hasllstein: todo reconhecimento diplomático da RDA por um Estado soberano implicaria a ruptura de relações diplomáticas com a RFA. A Alemanha Ocidental reinvidicava o direito de representar unilateralmente a Alemanha. A doutrina seria aplica duas vezes: em 1957 contra a Iugoslávia e em 1963 contra Cuba.

Economicamente, o objetivo era levar a zona oriental a adotar os princípios de coletivizado que vigoravam na União Soviética: a intervenção do estado na economia mediante a planificação e a transformação do conceito propriedade e uma política de coletivização dos diferentes ramos econômicos.

Ideologicamente, houve a imposição de uma identidade comum a população, que ao sair da guerra ainda não havia aderido aos ideais comunistas. Baseado no marxismo-leninismo, essa ideologia era veiculadas em todas as atividades sociais – escolas, universidades, clubes esportivos e associações culturais.

Dada a natureza do regime, em que a ideologia desempenhava um papel fundamental, resistências fizeram-se sentir nos meios políticos, científicos e culturais. Assumiram a forma de fuga constante de operários e outros profissionais – técnicos, administradores, médicos, professores – para a Alemanha Ocidental. O fechamento das fronteiras em 1961-62 com a construção do muro de Berlim, salvou o regime de um desmoronamento quase inevitável. Sem qualquer esperança de uma reunificação rápida, os alemães orientais aderiram a ideia de se tornarem os trabalhadores mais eficientes do mundo socialista, objetivo que alcançaram com relativa rapidez.

A caminho do reconhecimento mutuo

Ao longo de toda a sua história, a Alemanha frequentemente se voltou mais para o lestes do que para o oeste. Dessa forma a RFA rapidamente desenvolveu uma política independente para o leste conhecida como Ostpolitik. Ela resultou no estabelecimento de relações comerciais com diversos países do leste: Polônia, Romênia, Hungria em 1963 e Bulgária em 1964. Pouco a pouco, a doutrina Hallstein foi sendo abandonada, e a Alemanha Ocidental estabeleceu relações diplomáticas oficiais com a Romênia em 1965, Iugoslávia em 1966 e Tchecoslováquia em 1967. Por fim, em 1973 rejeitaram definitivamente o passado hitlerista, reconhecendo de modo oficial a nulidade dos acordos de Munique de 1938, que haviam levado a destruição do Estado tchecoslovaco.

Em 1970, uma troca de visitas de chefes de governo de RFA e da RDA simbolizou a aproximação entre os dois países. Em dezembro de 1972, com a assinatura de um tratado entre as duas Alemanhas, chegou-se ao fim de 23 anos de hostilidades. Os dois países garantiam imutabilidade de suas fronteiras e reconheciam a independência de ambos os Estados. Cada uma se comprometia a instalar no vizinho uma representação permanente. Assim os dois Estados alemães foram conjuntamente admitidos na ONU em 1973.

A partir de meados da década de 80, grandes empréstimos oriundos de bancos alemães ocidentais e numerosos acordos comerciais fizeram da Alemanha Oriental um membro associado – embora oculto – da comunidade econômica europeia. Entretanto, o apoio econômico alemão-ocidental não foi acompanhado de um controle orçamentário, que deveria ter limitado os gastos dos setores improdutivos da Alemanha Oriental. Tal qual em todos os países do bloco socialista o aparelho produtivo não foi modernizado, e a passagem para a Era da automação industrial se fez de forma bastante inadequada. Era uma situação ainda mais embaraçosa porque, anos após ano, a Alemanha Oriental afirmava-se ser o país mais avançado do Leste europeu no que referia a industrialização e ao domínio da tecnologia moderna.

O ano 1 da nova Alemanha

Em 1989, alguns meses de manifestações populares conseguiram o que quarenta anos de intermináveis negociações internacionais não tinha alcançado: a reunificação da Alemanha.

Enquanto na União Soviética e nos outro países comunista a abertura política e as reformas da perestroika avançavam, na Alemanha Oriental o governo criticava violentamente essa abertura. Mais uma vez, foi abandonando o país que os alemães – orientais mostraram seu repudio ao socialismo.

O desmoronamento de um regime

No fim de 1988, os ventos de liberdade e democracia já haviam abalado os regimes comunistas da Polônia e da Tchecoslováquia. Em eleições livres e limpas os partidos comunistas foram varridos desses países. Essa abertura política foi muito mal recebida pelos dirigentes da RDA que não estavam dispostos a aceitá-la na Alemanha Oriental. Mas a grande maioria da população não pensava assim e fugiram do país quando em agosto de 1989, a Hungria abriu suas fronteiras com a Áustria. Uma onda de emigração apanhou o governo de surpresa: enormes filas de carros atravessaram a Tchecoslováquia, a Hungria e depois a Áustria, para chegara a Alemanha Ocidental.

A revolução pacifica

A partir de setembro, quando o grosso dessa evasão já acabara, os habitantes da Alemanha Oriental se mobilizam em grandes manifestações, exigindo que a RDA seguisse o exemplo dos outro países da Europa oriental e concedesse liberdade e democracia com o lema “O povo somos nós”. As tentativas de conter as manifestações por meio de repressões violentas e intimidações fracassaram e Honecker, no poder desde 1971 é destituído.

Queda do Muro de Berlim Cai o muro de Berlim

A 9 de novembro de 1989, convencidos de que não havia outra saída o Partido Comunista ordenou que se abrisse a fronteira berlinense e se derrubassem o muro. Na euforia do momento, em três dias cerca de 3 milhões de alemães orientais foram a Berlim Ocidental. Como presente de boas vindas, o governo da Alemanha Ocidental ofereceu a cada visitante dezenas de marcos. Dali a menos de um ano, viria a reunificação.

O Partido Comunista ainda tentou dominar a situação organizando eleições livres. Elas foram marcadas para a segunda metade de março e teriam a participação dos dois grandes partidos da Alemanha Ocidental.

Porém para evitar que a RDA reformada sobrevivesse e que uma confederação de dois Estados alemães se concretizassem, Helmut Kohl, chanceler da RFA, acelerou o processo de reunificação. Se declarou a favor da rápida abertura de negociações entre as duas Alemanhas, da unificação monetária, qualificando como dramática a situação econômica da Alemanha Oriental propondo que o Deustschmark se tornasse a moeda comum de reunificação. Mas, se recusou a conceder ajuda econômica se nas eleições de março, a RDA voltasse a ser governada por comunistas. Pérem, estas deram vitória arrasadora aos democratas cristãos em todas as regiões da RDA.

Novamente um só país

Com a união monetária e econômica entre as duas Alemanhas e a entrada da antiga RDA na OTAN – por meio da incorporação do país a Alemanha Ocidental, a União Soviética cedeu aos apelos da Alemanha Ocidental aceitando retirar suas tropas da antiga Alemanha Oriental, após 45 anos de ocupação. Ficou acertado que as forças militares soviéticas se retirariam dali atá 1994. Os custos dessa retirada seriam bancados pela Alemanha Ocidental.

Em setembro de 1990, em Moscou, a Alemanha Ocidental assinou com os Estados Unidos, a União Soviética, o Reino Unido e a França um tratado que punha fim à tutela dessa potências sobre a Alemanha, a qual voltava a ser plenamente soberana.

A reunificação entrou em vigor a 3 de outubro de 1990, com a transformação da antiga RDA em cinco Lânder da Alemanha Ocidental.

Emancipada, a Alemanha, antes uma gigante econômica e anão político, passou a se afirmar não apenas como a terceira potência econômica mundial, mas também como a mais rica e populosa nação da nova União Europeia, formada a partir do Tratado de Maastricht, que entrou em vigor em novembro de 1993.

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