Este texto procura discutir a colonização espanhola empreendida na região da meso-américa (Atual México), em decorrência da expansão marítima e comercial ocorrida na Europa no século XV, caracterizada pelo renascimento comercial e urbano e o surgimento dos estados nacionais.
Pretende-se avaliar o contato entre esses dois povos (Europeus e Astecas), e as relações que eles mantiveram durante o período da conquista espanhola.
Este artigo pretende apontar as várias causas que possibilitaram a conquista espanhola sobre a civilização Asteca, que na época dessa conquista, dominavam uma grande área da meso-américa, sendo considerados o povo mais civilizado e poderoso dessa imensa região.
Mediante análise de obras como: “A conquista da América: A questão do outro”, de Todorov e “A Civilização Asteca” de Soustelle e demais textos que abordam o assunto, iremos traçar algumas considerações sobre o choque dessas duas grandes civilizações, analisando as causas que possibilitaram a vitória dos exploradores.
As causas da queda do Império Asteca
A ocupação espanhola numa primeira etapa estendeu-se somente às ilhas de São Domingos, Porto Rico e Cuba, os primeiros colonizadores desconheciam e existência do México do seu imenso território e suas civilizações.
Em 1517, uma expedição Espanhola, liderada por Francisco Hernández de Córdoba, desembarcou na península de Yucatán, onde foi duramente repelida, sendo que dos 110 integrantes da expedição, 57 morreram, inclusive o próprio Francisco.
No ano seguinte Juan de Grijalva, comandando quatro navios, decobriu a ilha de Cozumel, custeou o litoral de Yacatán e, em seguida o golfo do México. Assim pela primeira vez os europeus entraram em contato com províncias do Império Asteca.
A expedição de Cortez em 1519 foi a terceira a explorar a costa mexicana, e este ao saber da existência do Império Asteca inicia uma lenta progressão rumo ao interior. De acordo com o livro “A civilização Asteca” de Soustelle, essa expedição contava com 11 navios que levavam 508 soldados, 16 cavalos e 14 peças de artilharia.
Ao mesmo tempo, o império Asteca estendia-se aproximadamente por uma superfície de mais de 200.000 km² e tinha uma população de aproximadamente cinco a seis milhões de habitantes, altamente evoluídos econômico, político e socialmente.
No entanto, diante dos fatos acima citados que nos mostra uma pequena quantidade de exploradores frente a uma grande civilização (considerada a mais brilhante do mundo pré-colombiano), como foi possível essa conquistada, quais fatores teriam possibilitado, em tão pouco espaço de tempo tal conquista, e realizada por uma pequena quantidade de exploradores?
Ao respondermos esse questionamento, veremos que foram muitas as causas que possibilitaram uma conquista espanhola sobre a civilização Asteca. Além da superioridade tecnológica gritante que os Espanhóis possuíam em relação aos Astecas; com cavalos, armas de fogo e de ferro, contra arcos e flechas e armas de sílex e madeira; também há que se levarem em conta outros fatores, talvez até mais importantes do que as armas em si.
A figura de Montezuma com certeza tem um papel importante nesse contexto. Cortez ao chegar à Cidade do México é bem recebido e após algum tempo decide prender o soberano Asteca e fazê-lo prisioneiro, Montezuma, no entanto, nada faz para evitar essa situação. O que teria provocado tal reação? Montezuma tinha um comportamento ambíguo, e esse comportamento talvez tinha além dos motivos culturais, razões pessoais.
Os índios e os espanhóis praticavam a comunicação de maneiras diferentes.
Sabemos graças aos textos da época, que os índios dedicavam grande parte do seu tempo e forças à interpretação das mensagens, e que essa interpretação tem formas extremamente elaboradas, relacionadas às diversas espécies de adivinhação. (TODOROV. 1996 p. 61)
A primeira delas era a adivinhação cíclica. Os Astecas dispunham de um calendário religioso composto de treze meses com duração de vinte dias, sendo que cada dia possuía um caráter propicio ou nefasto. Uma segunda forma era a adivinhação, esta pontual, que tem forma de presságios e ainda quando estes tardavam existia o adivinho profissional, que recorria por meio de grãos de milho, água e fios de algodão.
Toda a história dos Astecas, tal como é contada em suas crônicas, é feita de realizações de profecias anteriores, como se um acontecimento não pudesse ocorrer se não tivesse sido previamente anunciado. Eles acreditavam que todas as previsões do futuro se realizariam. Segundo vários relatos oriundos de populações indígenas, a chegada dos espanhóis é sempre precedida por presságios, e a vitória deles é sempre anunciada como certa.
Quando os mensageiros vêm até Montezuma informar-lhe da chegada dos espanhóis, sua interpretação se faz no âmbito de comunicação com o mundo, e não da comunicação com os homens, ou seja, é aos deuses que ele pede conselhos sobre o comportamento que deve ser tomado em relação aos invasores. Os espanhóis por sua vez, só ouvem os conselhos divinos quando estes coincidem com as sugestões de seus informantes ou com seus próprios interesses, como comprovam os relatos de vários cronistas.
Montezuma sabia colher informações e melhor organizar seus exércitos para a batalha, quando seus inimigos eram as demais tribos existentes no vale do México, com a chegada dos espanhóis, esse sistema de coleta de informações acerca do inimigo tornou-se inútil, isso devido ao fato da identidade dos espanhóis ser diferente e seu comportamento imprevisível o que abalou todo o sistema de comunicação. Diante disso, Montezuma tornou-se incapaz de produzir mensagens apropriadas e eficazes.
A invasão espanhola caracterizava-se como uma situação nova, desconhecida uma situação onde a arte da improvisação era muita mais importante que o ritual e Cortez, saiu-se muito bem frente a essa situação.
De fato, a maior parte das comunicações dirigidas aos espanhóis impressiona pela ineficácia. Para convencê-los a deixar o país, Montezuma envia-lhes ouro, todas as vezes; mas nada podia convencê-los mais a ficar. (TODOROV. 1996 p. 84)
Ao falarmos Império Asteca, isso nos dá uma impressão de que este constituía um estado homogêneo, no entanto, não era bem assim, o México de então não é esse estado homogêneo e sim um conglomerado de populações subjugadas pelos astecas que ocupavam o topo da pirâmide.
Um fator importante são as brigas internas entre as diversas populações que ocupam o solo mexicano. Ao iniciar sua jornada rumo ao centro desse império, Cortez se depara com várias tribos e ao manter contato com esses índios, percebe que muitas delas estavam submetidas aos Astecas não por vontade própria, mas por terem sido submetidas militarmente.
E estas tribos por sua vez, viam Cortez como um mal menor muitas vezes como um libertador, pois viam nele a possibilidade de se verem livres do domínio Asteca. Ao longo da campanha Cortez se aproveita dessa situação e acaba comandando um exercito de Tlaxcaltecas e outros índios aliados numericamente se comparável aos dos mexicanos, nesse exército os espanhóis são apenas a força de comando.
Uma outra razão foi que os espanhóis e os Astecas não faziam o mesmo tipo de guerra. Pelo menos no início, os astecas conduzem uma guerra submetida à ritualização e ao cerimonial: o tempo, o lugar, são previamente decididos. O combate tinha hora certa para começar e acabar, e seu objetivo maior não era matar o inimigo mas fazer prisioneiros de guerra, enquanto que os Espanhóis lutavam para matar o maior número de indivíduos, o que é muito mais fácil e rápido do que a captura em massa.
Os Astecas não conhecem e não compreendem a guerra total de assimilação que os espanhóis estão fazendo contra eles; para eles, a guerra deve acabar num tratado, estabelecendo o montante dos tributos que o perdedor deverá pagar ao vencedor. (TODOROV. 1996 p. 89)
O contato com os espanhóis, expuseram os índios a uma série de doenças desconhecidas por eles, dentre essas uma forte epidemia de varíola que dizimou grande parte da população asteca, que por não conhecerem a enfermidade, não conheciam meios para combatê-la.
Um outro fator muito importante na conquista do México, é que ao contrário dos primeiros colonizadores que vinham apenas em busca de riquezas, Cortez foi o primeiro a possuir uma consciência política, e até mesmo histórica de seus atos. Inicialmente sua expedição começa com uma busca de informações, e não de riquezas, sendo que uma das suas primeiras ações é procurar um intérprete.
Cortez compreende relativamente bem o mundo asteca que se descobre diante de seus olhos, certamente melhor do que Montezuma compreende as realidades espanholas. E, contudo, essa compreensão superior não impede os conquistadores de destruir a civilização e a sociedade mexicanas; muito pelo contrário, tem se a impressão de que é justamente graças a ela que a destruição se torna possível. (TODOROV. 1996 p. 123)
Todos esses fatores, em maior ou menor grau, mas todos juntos, contribuíram para a conquista do Império Asteca, tornando-a possível. Embora um dos fatores que mais se destacou, foi que no contato entre esses dois povos (Europeus e Astecas), o colonizador europeu soube compreender o povo Asteca, enquanto que estes não fizeram o mesmo, e aproveitando dessa situação, foi que se tornou possível tal conquista.
Referência bibliográfica
CÁCERES, Florival História da América. São Paulo, Moderna. 1992
SOUSTELLE, Jacques. A civilização Asteca. Jorge Zahar Editor, Rio de Janeiro 1983
TODOROV, Tzvetan. A conquista da América: a questão do outro. São Paulo: Matins Fontes. 1993
Autoria: Uiliam
Veja também:
- Astecas, Incas e Maias
- Chegada do Homem na América
- América Espanhola
- O contato entre brancos e índios na América