O Chile foi o país da América do Sul que, durante a Guerra Fria, mais se aproximou de ter um governo comunista, na época em que o presidente eleito democraticamente era Salvador Allende. Por essa razão, o golpe de Estado que derrubou Allende foi também um dos mais violentos do continente. Houve, inclusive, o bombardeio do Palácio de La Moneda, residência oficial de Allende na capital Santiago.
Esse golpe, ocorrido em 11 de setembro de 1973, resultou na morte do presidente (que teria se suicidado, apesar da suspeita de que foi assassinado) e na imposição de um regime militar comandado pelas Forças Armadas e por Augusto Pinochet.
História
Salvador Allende foi eleito em 1970, derrotando o candidato das elites chilenas, Jorge Alessandri, e outro candidato do Partido Democrata-Cristão. Allende declarava-se marxista e ganhou o poder com o apoio de uma frente (união) de partidos de esquerda denominada Unidade Popular.
Assumiu o governo sob forte oposição da direita, representada por grandes empresários e proprietários rurais. Mesmo assim, ganhou confiança popular para fazer reformas profundas na economia e na sociedade chilenas. Seu projeto político propunha uma transição pacífica para uma sociedade comunista, com respeito às normas constitucionais chilenas e sem o emprego de força.
Seguindo esse plano, Allende fez a reforma agrária e nacionalizou bancos, minas de cobre e várias grandes empresas. Os Estados Unidos, nessa época presididos por Richard Nixon, reagiram e passaram a financiar jornais de direita, organizações fascistas que cometiam atos terroristas contra apoiadores de Allende e grupos paramilitares criados com treinamento oferecido pela Agência Central de Inteligência (CIA), uma instituição estadunidense que atua no mundo inteiro para garantir os interesses do país.
A reação conservadora
A classe média chilena foi a maior opositora às medidas de governo de Allende. Passou a sabotar a economia e paralisou-a quase totalmente por meio de greves empresariais e de comerciantes, desabastecimento de mercados e outras medidas, a fim de colocar a população mais pobre contra o presidente.
Em 1973, as Forças Armadas, reforçadas pelo apoio estadunidense, depuseram Salvador Allende.
O general que assumiu o poder, Augusto Pinochet, governou ditatorialmente até 1990. Foi por sua iniciativa que as ditaduras sul-americanas uniram-se na Operação Condor.
O órgão oficial de repressão no Chile foi a Direção de Inteligência Nacional (Dina), cujos membros sequestraram, torturaram e assassinaram opositores do regime, inclusive fora do país.
O fim da ditadura chilena
A política econômica de Pinochet demonstrou sua ineficiência na década de 1980, quando o país enfrentou, com outros governos ditatoriais, uma crise caracterizada por alta inflação, desemprego e miséria. Com a anulação de direitos civis e trabalhistas, a população viu-se sem instrumentos para reivindicar melhorias.
O fim da Guerra Fria acelerou a queda da ditadura chilena. Pinochet, a fim de se manter no poder, convocou um plebiscito em 1988 para decidir se poderia mudar a Constituição e prolongar seu mandato. O resultado foi contra e o ditador foi proibido de permanecer no governo. As Forças Armadas, sem apoio para sustentar a ditadura, afastaram-no em 1990 e convocaram eleições, nas quais foi eleito Patrício Aylwin, um político do Partido Democrata-Cristão.
Pinochet permaneceu no governo como chefe das Forças Armadas (embora já sem poder algum) e, depois, como senador vitalício, mas foi obrigado a renunciar a esse cargo diante de protestos populares e investigações que o acusavam de corrupção e enriquecimento ilícito, o que foi comprovado posteriormente. Mesmo assim, escapou à prisão e morreu em 2005 em sua residência, aos 91 anos.
Chile atual
Entre 2019 e 2020, uma série de manifestações de jovens, estudantes, trabalhadores e mulheres tomou as ruas do Chile e exigiu mudanças sociais e o fim de leis neoliberais que retiraram direitos previdenciários e trabalhistas da população.
A população, exaurida por um governo que beneficiava apenas a elite chilena, exigiu alterações drásticas na Constituição, que ainda é a mesma da época da ditadura.
Essas manifestações, constituídas em sua maioria de jovens de até 30 anos, parecem não temer o enfrentamento com uma repressão policial que tem se mostrado tão violenta quanto na década de 1980
Por: Carlos Artur Matos
Referências
- GESTEIRA, Luiz André Maia Guimarães. A Guerra Fria e as ditaduras militares na América do Sul. Scientia Plena, Sergipe, v. 10, n. 12, 2014.
- GUZMÁN, Patricio (dir.). A Batalha do Chile. Cuba/ França/Venezuela, 1975. 191 min.