Entre as cidades-Estado gregas destacaram-se Esparta e Atenas, por suas características específicas, que podem exemplificar o mundo grego da época.
Cada cidade tinha o poder de se governar, as decisões tomadas pelas pólis eram distintas. Isso caracterizou a diversidade do mundo grego. Significa dizer que embora compartilhassem de uma visão de mundo comum, de algo que permitia relativa proximidade, havia na história de cada pólis um espaço para a diferenciação no interior da Hélade. Nesse sentido, reconhecem-se as cidades de Esparta e Atenas como exemplos claros dessa diversidade.
Esparta foi fundada pelos dórios, teve em sua estruturação o fundamento guerreiro, basicamente mantido nas fases Arcaica e Clássica. Teve seu desenvolvimento calcado na exploração de antigos habitantes da região. Com base no caráter militarista, pode-se entender sua estrutura social.
Atenas foi fundada pelos jônios, teve, nos seus primórdios, o elemento fundiário como base da montagem de suas instituições políticas, econômicas e sociais, mas a atividade comercial se destacou, principalmente na fase clássica, alterando alguns traços característicos do Período Arcaico.
Esparta
Cidade militarista desde os primórdios, fundada pelos dórios na região da Lacônia, ao sul da península do Peloponeso. A região permitia o desenvolvimento de agricultura, a qual abastecia de forma razoável a população.
Sociedade Espartana
Houve a constituição de uma sociedade rígida em Esparta, marcada pelo princípio militar em que guerreiros ocupavam lugar de destaque e eram conhecidos como esparciatas.
Outros grupos, submetidos pelos dórios na Lacônia, desenvolveram atividades artesanais, agrícolas e comerciais que os colocavam em situação de inferioridade. Eram periecos. Alguns deles chegaram a participar de forças militares espartanas, subordinados aos chefes guerreiros esparciatas.
Mais abaixo nessa hierarquia social encontravam-se os hilotas. Estes eram oriundos de outras conquistas dos esparciatas em áreas mais afastadas da Lacônia e trabalhavam como servos do estado. Não tinham direitos e foram distribuídos nas terras conquistadas. O resultado de seu trabalho era repartido entre famílias de guerreiros espartanos.
Um aspecto que diferenciou Esparta de Atenas foi o tratamento dado às mulheres. Espartanos valorizavam-nas relativamente. Elas participavam dos exercícios militares e chegaram a ocupar cargos administrativos na pólis, não sendo confinadas exclusivamente ao espaço doméstico. Apesar dessa importância não participavam da vida política, que era entregue aos melhores guerreiros.
Se a definição da posição social elevada e a participação política associavam- se à atividade militar, deve-se considerar a importância da formação do guerreiro entre membros dessa elite espartana.
Educação Espartana
Espartanos tiveram como fundamento educacional a preocupação de formar guerreiros. Costumava-se definir educação rígida como espartana. Existiam castigos físicos, crianças passavam fome em treinamento militar, atividades físicas intensas; tudo isso para realização de um único interesse, qual seja, constituir homens aptos a exercer o domínio sobre outros povos.
Esparciatas recebiam formação militar desde sete anos, desenvolviam habilidades militares, conhecidas por estratégia, e submetiam-se a exercícios constantes para melhorar o condicionamento físico. Além disso, eram ensinados a falar pouco, daí o laconismo característico dessa cultura. O importante era falar o que se desejava em poucas palavras. Dessa forma, não floresceu em Esparta uma elite de homens filiados à retórica e à filosofia como aconteceu em Atenas.
A discussão política existia entre homens considerados iguais (homoioi), aqueles que já haviam dado provas de valor militar. Participavam das instituições políticas da cidade, fazendo valer seus interesses.
Política Espartana
A vida política em Esparta estava limitada à aristocracia militar. Seus elementos participavam de aparelhos deliberativos e consultivos de tal forma que famílias importantes eram contempladas com um verdadeiro acordo entre pares. Dentre instituições políticas, encontram-se:
- apela — constituída por homens acima de trinta anos e representava o órgão deliberativo;
- gerúsia — espécie de conselho de anciãos. Apenas 28 idosos, aqueles que viveram histórias fantásticas, os quais revelaram valor militar, eram escolhidos para ocupar esse aparelho;
- eforato — associava-se ao governo cotidiano da pólis. Isso se explica por não haver encontros da apela no dia a dia da cidade.
Dessa forma, a apela escolhia cinco homens saídos dessa assembleia para governar a pólis. O governo era definido pelos éforos juntamente com a gerúsia e a diarquia. Esta era uma divisão ancestral de grupos dórios de linhagens distintas, os quais se uniram para controlar o Peloponeso.
A aliança previa a existência de dois reis (diarquia): um com função de chefe guerreiro, conduzindo homens em batalha, e o outro com função religiosa, espécie de supremo sacerdote que conseguiria o apoio dos deuses nas campanhas militares espartanas.
Todos os que participavam da vida política eram considerados os melhores homens de Esparta, assim pode-se afirmar que seu governo era aristocrático e dessa forma permaneceu até o fim. Isso significa assinalar mais uma diferença em relação a Atenas, pois esta modificou a estrutura aristocrática, caminhando para um governo democrático, como exposto a seguir.
Atenas
Cidade voltada para o mar. Os recursos da Ática, região em que se localizava, não eram suficientes para garantir o sustento da população. Assim, desde seus primórdios houve interesse em explorar o porto natural (Pireu) para realização de navegações que visavam à negociação de produtos com outras cidades.
Sociedade ateniense
Foi organizada tendo como primeira referência o controle sobre terras. Famílias que controlaram nos primórdios da pólis as melhores terras constituíam a elite ateniense. Membros dessas famílias tradicionais eram chamados de eupátridas (bem-nascidos). Além deles, existiam ainda pequenos proprietários, conhecidos por georgóis, e homens que não detinham controle sobre terras, os thetas, mas eram livres e desempenhavam atividades artesanais, marítimas, entre outras.
Ressalta-se ainda que, em razão do desenvolvimento do comércio, homens que não tinham nascido na pólis participavam daquela sociedade, sendo chamados de metecos. Estes não usufruíam dos direitos à cidadania e pagavam tributos para comerciar.
Por último existiam escravos em grande quantidade. Compras, endividamento e guerras eram formas comuns de obtenção de mão de obra escrava. Pode-se afirmar que quase metade da população era constituída por homens não livres, o que significa dizer que o escravismo foi intenso em Atenas.
Vários autores que tratam da chamada história temática e analisam a condição feminina ao longo do tempo afirmam que a sociedade ateniense era fortemente patriarcal. Mulheres eram consideradas até escravas domésticas. Dessa forma, era nítida a assimetria da relação entre homem e mulher.
Educação ateniense
Em termos educacionais, a formação do cidadão passava necessariamente pelo desenvolvimento da habilidade de comunicação: o bem falar (poder de persuasão), conhecido por retórica. Isso era muito importante para uma cidade que entabulou relações comerciais com vários lugares.
Além de ser fundamental argumentar para convencer no plano comercial, dependia dessa habilidade o bom governo da cidade, pois só cidadãos que compreendessem o valor da palavra poderiam contribuir num debate para a melhor tomada de decisão da pólis.
Sofistas eram homens valorizados em Atenas, pois ensinavam a arte do convencimento. Vale ressaltar que da crítica feita a eles por Sócrates, como informa Platão, foi possível o desenvolvimento da filosofia na cidade, mais precisamente como metafísica.
Outro aspecto da educação ateniense reside no desenvolvimento de estudos matemáticos. A discussão sobre valores passava necessariamente sobre a medida das coisas, de sua razão, das proporções das coisas e isso é número.
O sistema monetário criado pelos atenienses já suscitava a questão das relações numéricas entre coisas, facilitando trocas, ou seja, comércio. Essa prática era realizada com o aprendizado da música e, nesse sentido, o pensamento pitagórico foi absorvido pelos educadores atenienses.
Além da retórica e da matemática, a educação ateniense foi pautada pelo interesse no desenvolvimento de atividades físicas e exercícios militares. Atenienses deveriam estar preparados para defender seu lugar de nascimento e demonstrar habilidades físicas nas competições entre cidades gregas, que se realizavam em Olímpia.
Dessa forma, pode-se afirmar que era uma educação abrangente que visava a realizar o ideal de mente sã e de corpo são. O cidadão, apto a desempenhar várias tarefas por meio dela, era o elemento fundamental da política ateniense.
Política ateniense
Em termos políticos, a cidade de Atenas conheceu uma evolução política: de governo aristocrático passou para democrático.
Tais mudanças se devem às reformas introduzidas pelo legislador Sólon, no século VI a.C., que ampliou a Bulé, uma das assembleias atenienses, abrindo espaço político para os que preenchessem o critério de renda (censitário). Isso beneficiou os maiores mercadores nativos da cidade.
A princípio, Atenas foi uma monarquia cujo rei era denominado basileus. Contudo, eupátridas passaram, a partir do século VII a.C., a controlar a vida política por meio do areópago e do arcontado. O primeiro era exercido por juízes oriundos da aristocracia e o segundo constituído por nove governantes que dividiam a responsabilidade de tomar algumas decisões importantes.
Dentre os arcontes, pode-se destacar arconte-epônimo, arconte-polemarco e arconte-basileus. O primeiro era responsável pela administração (prefeitura), o segundo, chefe militar e o terceiro, espécie de supremo sacerdote. Além dessas instituições, havia ainda a Eclésia que votava, aprovando ou rejeitando propostas do areópago.
Bibliografia:
Jaeger , Werner Paideia. A formação do homem grego. São Paulo: Martins Fontes, 2002.