Podemos caracterizar o feudalismo como um tipo de organização social, política e econômica. O nome vem de “feudo”, que corresponde a uma propriedade rural ou a uma unidade de produção autossuficiente. Seu apogeu na região do antigo Império Carolíngio, atual território da Europa, deu-se nos séculos X e XI.
A origem do feudalismo
O surgimento do feudalismo remonta à crise do escravismo romano, quando ocorreu uma ruralização em detrimento da vida urbana.
Em seguida, vieram as constantes invasões germânicas, e as antigas vilas romanas se converteram cada vez mais em unidades autossuficientes, criando, assim, um tipo de vida bastante fechado em torno do latifúndio. Os antigos meeiros, impossibilitados de se defenderem militarmente, passaram a entregar o controle de suas vidas aos donos das terras nas quais viviam, tornando-se, assim, servos de seus senhores.
O hábito de Carlos Magno de distribuir as terras conquistadas para os seus militares de confiança também ajudou na descentralização administrativa.
O enfraquecimento do Império Carolíngio ocorreu mais ou menos na mesma época em que outros povos invadiam a região: os normandos, ao norte, e os magiares, a leste. Não nos esqueçamos dos árabes-muçulmanos, que controlavam o mar Mediterrâneo. Dessa forma, a região da atual Europa ficou isolada do resto do mundo, o que acentuou o caráter de autossuficiência dos feudos.
Podemos perceber que no feudalismo há uma fusão dos costumes romanos e dos costumes germanos. E não poderia ser diferente, se levarmos em conta que a mistura da cultura romana com a germânica foi inevitável a partir do século V.
O feudo
Em geral, um feudo, que era uma grande propriedade rural, tinha o castelo (residência do senhor feudal, sua família e empregados), a aldeia (onde moravam os servos), a igreja, a casa paroquial, os celeiros, os fornos, os açudes, as pastagens comuns e o mercado.
As terras eram divididas em manso senhorial, manso servil e manso comunal. As terras aráveis dividiam-se em três faixas: uma para o plantio da primavera, outra para o plantio do outono e outra que ficava em repouso. A cada ano, invertia-se a utilização das faixas de forma que sempre uma estivesse em descanso. Esse sistema de plantação é conhecido como “sistema de três campos”.
A sociedade feudal
A sociedade feudal possuía uma rígida divisão entre os grandes proprietários de terras e os despossuídos desse bem.
O primeiro grupo era composto pelos nobres, conhecidos também como senhores feudais, e o segundo pelos servos da gleba. Os servos eram os responsáveis por todo trabalho braçal, desde a agricultura até o trabalho artesanal. Viviam presos à terra do seu senhor e não podiam abandoná-la; em troca, recebiam proteção e não podiam ser vendidos como os escravos. Pagavam pesadas obrigações, sendo as principais:
- Corveia – Constituía no trabalho obrigatório do servo nas terras do senhor, durante alguns dias da semana.
- Talha – Era o pagamento feito pelo servo, correspondente a uma parte da produção obtida no manso servil.
- Banalidades – Eram os pagamentos feitos pelo servo pelo uso do forno, do moinho ou de qualquer outra dependência pertencente ao senhor feudal.
- Mão-morta – Quando um servo morria, seus herdeiros pagavam uma taxa para o senhor feudal a fim de continuar na terra e assumir o lugar do pai.
- Tostão de Pedro – Relativo ao dízimo pago pelo servo à Igreja.
A posição social a ser ocupada por um indivíduo era determinada pelo seu nascimento. Dessa maneira, um filho de nobre era sempre um nobre, enquanto um filho de servo seria sempre um servo. Isso demonstra que o feudalismo era uma sociedade estamental, ou seja, um indivíduo que pertencesse a um determinado grupo dificilmente passaria a pertencer a outro. Quase não havia mobilidade social.
A divisão mais conhecida e aceita da sociedade feudal era: aqueles que guerreavam (os nobres), aqueles que rezavam (o clero da Igreja Católica) e aqueles que trabalhavam (os servos). Contudo, é preciso ressaltar que havia ainda pequenos proprietários rurais, cujas terras, além de pequenas, ficavam em áreas não muito propícias à agricultura, o que os tornava dependentes dos grandes senhores. Esses homens, chamados vilões, recebiam um tratamento mais brando do que os servos da gleba.
A sociedade feudal era totalmente rural, pois a vida girava em torno dos feudos. As cidades, por essa época, ficaram praticamente abandonadas. A riqueza, portanto, consistia na posse de terras, privilégio detido apenas pelos nobres e pela igreja e que eles tratavam de manter somente para si. As leis, baseadas na tradição e nos costumes (Direito Consuetudinário, herdado dos germânicos), juntamente com a Igreja Católica, legitimavam as relações sociais.
Aprenda mais: Sociedade Feudal.
A economia feudal
A economia era agrária e de subsistência, pois cada feudo produzia o necessário para sua reprodução. Os poucos excedentes eram trocados entre seus produtores, sem a utilização de moeda. A essa troca natural de um produto por outro sem a intermediação monetária damos o nome de escambo.
A propósito, a atividade comercial monetarizada era praticamente inexistente. Lembre-se de que a Europa se encontrava feudalizada, entre outros motivos, devido exatamente ao seu isolamento em relação a outros mercados, como o Oriental, por exemplo.
Aprenda mais: Economia Feudal.
A política feudal
A política era marcadamente descentralizada, ou seja, cada senhor feudal tinha o comando de seu feudo como se fosse seu “pequeno país”. Isso era uma consequência do enfraquecimento do poder real, ocorrida a partir do século IX, na divisão do Império Carolíngio.
Como a posse da terra era a essência do poder, as relações senhoriais baseavam-se nos laços de suserania e vassalagem. Um senhor feudal dava uma parcela de sua propriedade a um outro nobre. O nobre doador passava a ser o suserano e o nobre recebedor, o vassalo.
Estabelecia-se entre ambos relações de direitos e deveres: o suserano devia ao vassalo proteção militar, garantia de posse ao feudo doado, tutela sobre os herdeiros e sobre a viúva do vassalo morto; o vassalo, por sua vez, tinha a obrigação de colocar seu exército à disposição do suserano, dar-lhe hospedagem e contribuir para o dote e armação dos seus filhos.
A cerimônia de atribuição de um feudo compreendia, primeiro, a homenagem, na qual o vassalo se colocava de joelhos e jurava fidelidade; em seguida, o senhor permitia que ele se levantasse e então realizava a investidura, representada por qualquer objeto, simbolizando a terra enfeudada.
Como a doação de terras ocorria apenas entre nobres, essa postura mantinha o poder político apenas nas mãos desse estamento, de maneira descentralizada. Os descendentes do poder real tornaram-se os primeiros grandes suseranos, mas não tinham poder além de suas terras.
Aspectos culturais do feudalismo:
A preponderância da Igreja Católica
A Igreja Católica, dividida em alto clero (bispos, cardeais e papa) e baixo clero (padres) foi a mais importante instituição da Europa à época do feudalismo, pois foi a única que conseguiu sobreviver e ainda se fortalecer durante as invasões ocorridas durante a Alta Idade Média.
Por esta razão, a Igreja tornou-se responsável pela cultura essencialmente teocêntrica que marcaria não apenas o feudalismo, mas toda a Idade Média. Entende-se por cultura teocêntrica uma visão de mundo na qual Deus está no centro do universo e de todas as ações, ocorrências e realizações. Nada acontece sem que Deus queira. Em síntese: a vida gira em torno da vontade de Deus.
A sociedade, a economia e a política típicas do período feudal foram justificadas e legitimadas pela Igreja. Todos os setores da atividade humana eram controlados por ela. Nas artes, os temas eram de inspiração religiosa; as ciências partiam dos pressupostos bíblicos para explicar os fenômenos naturais; na literatura, predominaram a produção e a reprodução de obras religiosas, todas escritas na língua oficial da Igreja, ou seja, o latim. O lucro e a usura (cobrança de juros) eram proibidos, o que desestimulava ainda mais a prática do comércio.
A educação era monopólio eclesiástico. A escrita e a leitura eram privilégios de religiosos. A nobreza dependia de assessores oriundos da Igreja para comporem seus quadros administrativos.
A permanência dos grupos sociais nos seus estamentos de origem era defendida pelo clero católico, com a justificativa de que se tratava de algo natural, isto é, do resultado da vontade de Deus.
Foi também a iniciativa da Igreja que resultou na formação das Cruzadas, expedições ao mesmo tempo militares e religiosas, cujo fundamento central era combater os “infiéis” muçulmanos. Contudo, as Cruzadas abriram um novo tempo para a Europa, provocando, inclusive, o fim do feudalismo.
Por: Wilson Teixeira Moutinho
Veja também:
- Corporações de Ofício
- Crise do Feudalismo
- A Igreja na Idade Média
- Transição do Feudalismo ao Capitalismo