Ocorrida entre os anos de 1990 e 1991, a Guerra do Golfo foi o primeiro grande conflito militar após o fim da Guerra Fria (1989), no qual o Iraque enfrentou uma coalizão liderada pelos EUA. O cenário da guerra envolveu os territórios do Kuwait e do Iraque, na região do Golfo Pérsico.
A Guerra do Golfo marcou a retomada da influência das potências ocidentais no Oriente Médio. Com o fim da Guerra Fria, as influências russas e americanas na região deixaram um vazio de poder. Até então, os Estados Unidos mantinham através de Israel e outros estados menores do Oriente Médio, como Kuwait, Qatar e Emirados Árabes Unidos, uma influência na região, enquanto soviéticos apoiavam os grandes países árabes, como o Egito, Iraque, Irã e outros.
As causas da guerra
Em 2 de agosto de 1990, o presidente iraquiano Saddam Hussein invadiu o emirado do Kuwait, país vizinho, com o objetivo de anexá-lo, assumindo o território do vizinho. Os pretextos eram disputas de fronteiras e as pressões do Kuwait para que o Iraque lhe pagasse a dívida de 10 bilhões de dólares, que haviam sido gastos na guerra Irã-Iraque (1980-1988). Grandes produtores de petróleo, os dois países também tinham desavenças em relação ao preço do recurso – iraquianos acusavam o vizinho de haver provocado a baixa nos preços internacionais.
Contudo, as intenções de Saddam Hussein pareciam mesmo ser a conquista de uma saída para o Golfo Pérsico e se apoderar dos poços de petróleo do Kuwait, que possuía 9% das reservas mundiais.
Quatro dias depois, 6 de agosto, a Organização das Nações Unidas (ONU) impôs um boicote ao Iraque. Pesadas sanções recairiam sobre iraquianos, que não mais poderiam vender o petróleo, principal produto de exportação, a boa parte dos países do Ocidente. Contudo, em 28 de agosto, Saddam Hussein decretou a anexação do Kuwait como província do Iraque.
Em retaliação, potências ocidentais lideradas pelos EUA reagiram. Com apoio da ONU, os EUA exigiram a imediata retirada das tropas iraquianas do Kuwait e desocupação do país – sem sucesso.
Finalmente, em novembro de 1990, a ONU, através da Resolução 678 do Conselho de Segurança, autorizou uma ação militar para libertar o Kuwait e restabelecer as fronteiras anteriores à invasão iraquiana. Em jogo estava a garantia de sustentação dos preços internacionais do petróleo e seu abastecimento.
Tempestade no Deserto
Em 16 de janeiro de 1991, a coalizão internacional iniciou pesados bombardeios contra o Iraque. Esse foi o ponto de partida da operação Tempestade no Deserto, comandada por americanos que, em pouco mais de um mês, retomaria o Kuwait. Com apoio logístico e financeiro da Arábia Saudita, americanos e aliados conseguiram invadir o território do Kuwait com relativa facilidade.
Um dos principais alvos dos bombardeios (transmitidos via satélite para todo o mundo pela rede de TV CNN, dos EUA) foi a capital, Bagdá. O objetivo da campanha era enfraquecer as posições no próprio Iraque, forçando o exército que ocupava o Kuwait a retornar e impedindo o avanço de reforços. Os EUA, por meio de porta-aviões parados no Golfo Pérsico, bombardeou com forças aéreas e com mísseis balísticos as posições iraquianas – com “precisão” – embora alvos civis tenham sido amplamente atingidos também.
Próximo do Iraque, Israel acabou envolvido no conflito, sendo bombardeado por mísseis Scud iraquianos. Para evitar que Israel respondesse aos ataques e comprometesse o apoio dos países árabes à coalizão, o governo dos EUA enviou baterias de mísseis terra-ar Patriot para interceptar os Scud.
O desenrolar do conflito mostrou que o Iraque não sustentaria suas posições por muito tempo. Apesar da guerra sobretudo aérea nas campanhas, forças aliadas tomaram boa parte do sul do Iraque, impondo aos iraquianos baixas militares da ordem de cem mil soldados. Em 28 de fevereiro de 1991, foi assinado o cessar-fogo.
Iraquianos não suportaram, além das forças aliadas, revoltas de xiitas no sul do país e de curdos ao norte. As duas etnias aproveitaram o momento de fraqueza para iniciar um levante contra Saddam, iniciando uma guerra civil que se arrastaria por anos depois do fim da primeira Guerra do Golfo.
Os desdobramentos do conflito
A Guerra do Golfo teve várias implicações para o Oriente Médio. Uma delas foi a necessidade de o Departamento de Estado dos EUA repensar sua diretriz geopolítica para a região, pois não existia mais o adversário da época da Guerra Fria, a URSS. Americanos assumiram uma posição mais simpática em relação questão palestina, um estopim prestes a explodir em Israel. Buscando o apoio de grandes forças da região, como Egito, Arábia Saudita e Irã, norte-americanos assinaram diversos tratados nos anos que se seguiram à guerra. Essa nova postura foi concretizada nos acordos de paz de Oslo, assinados entre Israel e a Organização para a Libertação da Palestina (OLP), em 1993.
A guerra trouxe como consequência uma instabilidade ainda maior no Iraque. Aliados temiam que uma simples deposição de Saddam Hussein pudesse dar fôlego à criação de um estado xiita radical, algo que já havia ocorrido doze anos antes, no Irã. Com Saddam enfraquecido, as pressões locais pareciam ser suficientes para manter o ditador ocupado e a decisão consensual foi a de manter Hussein no poder – o que se revelaria um erro nos anos seguintes.
Saddam Hussein, de aliado a Inimigo
Comparado ao ditador alemão Adolf Hitler pelos inimigos e lembrado por sua crueldade, Saddam Hussein é de certo modo produto da política norte-americana no Oriente Médio. A revolução social iraniana, em 1979, liderada pelo radical Aiatolá Khomeini, criou um cenário de incerteza e um temor, por ocidentais, de que a visão fundamentalista do líder do Irã pudesse se alastrar pelo Oriente Médio.
Nessa altura, Saddam também chegou ao poder e, nutrindo conflitos milenares entre os dois países, americanos forneceram armamentos para o Iraque contra o Irã (embora escândalos nos EUA tenham evidenciado que o país forneceu armas para ambos os lados).
De qualquer modo, Hussein ganhou poder e se perpetuou ao poder graças ao financiamento americano para frear o avanço ideológico iraniano – o que custou a Guerra do Golfo e novos conflitos que viriam a seguir.
Por: Carlos Artur Matos
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