Guerras

Guerra do Pacífico

No século XIX, as Américas passaram por inúmeras guerras e conflitos até que as fronteiras fossem estabelecidas dentro de algo próximo do que representam hoje. Com muitas antigas colônias declarando sua independência, algumas delas mediante revoltas e conflitos armados, era preciso também definir, regionalmente, os limites do território de cada novo Estado em formação. Dentre os conflitos mais violentos da época, destaca-se a Guerra do Pacífico.

A Guerra do Pacífico foi um conflito que confrontou Chile e Bolívia, além de contar também com a participação do Peru, e estendeu-se de 1879 a 1884.

As causas da guerra

No século XIX, e também em boa parte do século XX, o salitre (ou o nitrato de potássio) era um recurso mineral essencial. Usado na cura da carne e em fertilizantes, o salitre na verdade era um recurso estratégico como um dos principais componentes da pólvora.

Nesse contexto, o Deserto do Atacama, exatamente na região limítrofe entre Bolívia, Chile e também Peru, é uma das regiões mais ricas do mundo em reservas de salitre. Até a década de 1870, a região era ocupada por uma pequena população de origem chilena – e diversas empresas de mineração foram estabelecidas na área. Dado o crescimento econômico proporcionado por essas atividades, o Chile propôs comprar a região do Atacama, o que foi imediatamente negado.

A vizinha Bolívia, que recusara um acordo no sentido de efetuar a venda de territórios ao Chile, passava por uma severa crise econômica, e o acesso a esses recursos minerais mundialmente demandados representava uma boa possibilidade de recuperar-se.

Antecipando um conflito armado pelos territórios, bolivianos assinaram um tratado de não-agressão com o Peru, país que também possuía fronteiras próximas do Atacama. Protegida pelo acordo com peruanos, a Bolívia elevou taxas e impostos sobre as empresas chilenas que operavam na zona boliviana do deserto. Numa manobra sofisticada, a legislação boliviana ainda permitia que empresas não adimplentes, ou que não pagassem os impostos, pudessem ter as suas operações e bens confiscados.

A pressão sobre as empresas chilenas e o acirramento da disputa diplomática entre bolivianos e chilenos levou, inevitavelmente, a uma resposta militar.

O conflito e suas consequências

Em fevereiro de 1879, uma embarcação chilena fechou e ocupou o Porto de Antofagasta – hoje uma das regiões chilenas, mas na época o único ponto de saída da Bolívia para o Oceano Pacífico. Destituídos de sua costa, bolivianos romperam relações diplomáticas com o Chile, declarando guerra aos vizinhos no mês seguinte e acionando o tratado de cooperação com peruanos.

Já no início do conflito, a superioridade militar do Chile ficou evidente. O país obteve importantes vitórias com sua marinha e acabou conquistando territórios não apenas da Bolívia, mas também do Peru. Avançando em direção ao norte, uma divisão do exército chileno, em 1881, desembarcou nas proximidades de Lima e marchou sobre a capital peruana. Os peruanos, mesmo sem sua capital, ainda manteriam frente aos chilenos por mais dois anos.

Bolivianos e chilenos ainda tentaram recorrer à Argentina como aliada no confronto com o Chile. Os argentinos mantinham disputas territoriais com os chilenos sobre a região da Patagônia, no extremo sul do continente. Contudo, os argentinos preferiram manter as suas conversações com o Chile no campo diplomático, recusando-se a envolver no conflito.

Em 1883, após quase quatro anos de conflito, o Peru cedeu e reconheceu a vitória chilena, submetendo-se aos termos de rendição impostos pelo Chile. No Tratado de Ancon, o Peru cedeu de forma perpétua os territórios da província de Tarapacá, além de aceitar a ocupação chilena por dez anos mais nas províncias de Tacna e Arica. Os países concordavam com um plebiscito nessas regiões, após o término dos dez anos, determinando a quem pertenceriam os territórios.

O plebiscito nunca foi realizado e, somente no ano de 1929, o presidente norte-americano Herbert Hoover intermediou um acordo entre os dois países. O Chile permaneceu com o território de Arica, enquanto peruanos receberam de volta as terras em Tacna, e mais US$ 6 milhões em indenizações.

Menos de um ano depois, a Bolívia, esgotada pela guerra e pela crise econômica que já enfrentava antes do conflito, rendeu-se e cedeu ao Chile não apenas o Atacama, mas também a sua faixa litorânea em Antofagasta. A Bolívia cedeu os territórios em 1884, tornando o arranjo permanente num tratado assinado vinte anos depois. A Bolívia jamais recuperaria o território costeiro e, até os dias de hoje, não possui qualquer saída para o mar.

Mapa mostrando as consequências territoriais da Guerra do Pacífico.
Territórios tomados pelo Chile na Guerra do Pacífico.

Por: Carlos Artur Matos