História

Imperialismo

O imperialismo foi um fenômeno em escala mundial que ocorreu durante a Segunda Revolução Industrial. Por definição, o imperialismo representa o domínio econômico, político, cultural e social sobre outros países – sem que isso envolvesse necessariamente conflitos ou invasões em todos os casos.

As principais potências da segunda metade do século XIX dividiram entre si o controle de muitos outros países do mundo. Inglaterra, França, Alemanha, Rússia, Estados Unidos e Japão passaram a ter grande influência sobre diversas regiões do mundo.

Causas do imperialismo

O surgimento do imperialismo e a expansão das principais potenciais mundiais é um fenômeno que pode ser explicado por uma série de fatores. Alguns deles têm início muito antes do século XIX, a partir do recuo do mercantilismo e do metalismo, e do endividamento e perda de poder das potências marítimas europeias.

Viés econômico

Com a ascensão do modelo capitalista e adoção dos ideais de Adam Smith em muitas economias europeias, a Revolução Industrial se estabeleceu não como uma simples forma de suprir o mercado local, mas como um instrumento de expansão e enriquecimento.

Claro que as potências industriais – que já vinham de outrora enriquecidas servindo de “bancos” a empreendimentos marítimos e coloniais – possuíam imensas reservas de capital. A economia industrial se mostrava muito mais lucrativa que a lógica mercantilista, porém necessitava de insumos e matérias-primas em escala e, mais do que isso, de novos mercados consumidores que levariam à necessidade de novas escaladas de produção.

Para evitar a estagnação, potências que antes não demonstravam grandes preocupações com a formação de colônias passaram a estabelecer portos, entrepostos comerciais, missões e colônias estrategicamente localizadas.

Viés Político

A derrota de Napoleão Bonaparte abriu espaço para o surgimento de novas potências na Europa, além de propiciar o avanço de novas potências, como os Estados Unidos e o Japão. Das rivalidades surgidas entre esses novos “entrantes” no cenário pós-napoleônico, potências europeias se viram forçadas a reforçar sua presença mundial, fazendo frente a japoneses e russos na Ásia, otomanos no Oriente Médio e norte-americanos no Caribe e América do Sul.

As colônias imperialistas na África, por outro lado, refletiam de maneira quase equivalente as forças de cada uma das potências na própria Europa: ingleses e franceses dominavam grande parte do continente africano, mas também havia espaço para colônias portuguesas, espanholas, holandesas, italianas e até mesmo belgas.

Expansão das potências imperialistas a partir do ano de 1492.

Viés Social

As colônias eram uma forma eficiente de aliviar a pressão demográfica nos principais centros europeus. Além disso, novos ricos e uma classe média crescente repentinamente, apesar de não possuir recursos suficientes para adquirir propriedades e negócios nas requintadas e caras cidades europeias, podiam ascender a um maior prestígio social e a propriedades mais baratas nas colônias, além da garantia de negócios com as metrópoles. Para os governos europeus, isso era positivo porque diminuía o risco de pressões populares, como aconteceu na Primavera dos Povos de 1848.

Comparação do imperialismo com o antigo sistema colonial

Podemos chamar o imperialismo de neocolonialismo porque muitos historiadores o consideram uma atualização do colonialismo. Além dos diferentes atores, o novo colonialismo possuía intenções e projetos completamente distintos.

A Revolução Industrial afetou profundamente a Europa sócio-economicamente, mas a formação das monarquias nacionais e posterior Império Napoleônico transformaram um continente formado por dezenas de repúblicas, monarquias e principados em um continente europeu com alguns poucos estados de poder centralizado e grande influência política.

ANTIGO SISTEMA COLONIALIMPERIALISMO CONTEMPORÂNEO
ÉpocaSéculos XV ao XVIII.Segunda metade do século XIX e primeira metade do século XX.
LocalFoco na América e em pequenos entrepostos comerciais na África e na ÁsiaFoco na África e na Ásia, com algumas influências comerciais e econômicas nas Américas.
ContextoRevolução comercial / MercantilismoSegunda revolução industrial / Capitalismo industrial
ExploraçãoOuro, prata, especiarias e produtos tropicais.Busca por mercados consumidores, matérias-primas (petróleo, cobre, manganês e ferro), diamantes e ouro.
Mão de obraEscravizadaLocal
DomínioDireto, por meio da posse da terra e do direito de exploração.Econômico, que pode ser direto (caso da África) ou indireto (caso de regiões da Ásia).

O imperialismo e a missão civilizatória

Algo que já existia no antigo sistema colonial, mas que se intensificou no imperialismo, era a ideia de missão civilizatória. É certo que no estágio do mercantilismo, a prática era bem diferente da teoria. A economia fundamentalmente extrativista e monoprodutora não trazia desenvolvimento social ou tecnológico às colônias, com algumas pouquíssimas exceções.

Nesse período, nasceu e ganhou força uma ideia conturbada que aplicava os conceitos da evolução de Charles Darwin à sociologia. O darwinismo social foi desenvolvido no Reino Unido, nos Estados Unidos e na Europa Ocidental a partir de 1870 e, infelizmente, encontra adeptos até os dias de hoje.

Os defensores do darwinismo social entendiam a prerrogativa de que os menos evoluídos podiam ser “expostos” a realidades que levariam à sua evolução para as sociedades das colônias. Pior, a defesa dessa tese concedia poder legítimo a nações mais desenvolvidas, que assim teriam “direito” a dominar nações menos desenvolvidas – e isso na verdade seria, para os dominados, um benefício.

Imagem de 1902 representando os ideais da missão civilizatória europeia. Os europeus, levando o estandarte da civilização, avançam contra os locais, que carregam uma bandeira que simboliza a barbárie.

A justificativa caía como uma luva nas intenções e incentivos ao imperialismo e permitiram às potências do século XIX manter muitos de seus domínios coloniais até os dias de hoje. Algumas nações africanas, por exemplo, somente obtiveram a independência nos anos 1960 ou 1970 e muitas das antigas colônias caribenhas são hoje territórios “autônomos”, mas ainda sob o jugo das antigas metrópoles.

As potências imperialistas

As potências imperialistas do século XIX, em grande parte, mantêm sua influência global até os dias de hoje. A lógica imperialista influenciou tanto a nossa história ao longo do século XX que é inclusive o tema óbvio de alguns jogos de tabuleiro de sucesso, tais como WAR e WAR II, além de jogos de videogame, como Civilization.

Rússia

Muitas décadas antes de converter-se na primeira potência comunista no mundo, a Rússia representou um papel importante na era imperialista, ainda sob o controle dos czares.

A partir da metade do século XIX, a Rússia passou por severas transformações, uma rápida industrialização, aboliu a escravatura e iniciou uma expansão em todas as direções. Primeiro, dominando a atual Finlândia, depois as atuais Moldávia e Ucrânia, o Grão-Ducado de Varsóvia (atual Polônia) e estendendo seus domínios até os confins da Ásia e através do Pacífico, com a anexação do hoje estado americano do Alaska.

Essa foi a chamada Eurásia russa, ou seja, uma enorme massa territorial que estendia- -se do centro da Europa ao extremo leste da Ásia. Os domínios imperialistas russos foram alguns dos poucos que sobreviveram quase que ilesos à Primeira Guerra Mundial.

Império Russo.

Inglaterra

Durante o antigo sistema colonial, a Inglaterra teve uma participação pequena por conta de seus problemas internos. Por séculos, ingleses foram grandes financiadores de projetos expansionistas e coloniais, mas se mantiveram em um modo “silencioso” até meados do século XVIII.

A partir desse ponto da história, os ingleses abraçaram as circunstâncias favoráveis e estabeleceram colônias em todas as partes do mundo. As colônias representavam boa parte da Oceania, com o controle da Austrália, Nova Zelândia e inúmeras ilhas na região. Os atuais Paquistão, Índia e Bangladesh eram totalmente controlados pelos ingleses, que ainda possuíam colônias na costa chinesa, no Oriente Médio e Sudeste Asiático.

Os ingleses dominaram a África do Sul, anteriormente uma colônia holandesa, e avançaram para controlar mais de um terço de todo o território africano, inclusive regiões muito importantes sob o ponto de vista naval, como o Egito e a atual Somália..

A Inglaterra acabou por se consolidar como a grande potência marítima da Idade Contemporânea e atingiu o auge de seus domínios em 1921.

Império Britânico.

França

No início do século XIX, a França perdeu boa parte de suas antigas colônias da época mercantilista. Em alguns casos, revoluções levaram à independência, como no caso do Haiti. Em outros casos, franceses mesmo se desfizeram de territórios, como no caso da venda da Louisiana para os norte-americanos. Finalmente, com a derrota de Napoleão Bonaparte, em 1815, mais colônias foram “aliviadas” dos domínios franceses.

Em 1848, após a Primavera dos Povos, a Inglaterra concordou que os franceses dessem início a uma expansão na porção norte do continente africano – no local que hoje é ocupado pela Argélia. Rapidamente, franceses expandiram seus territórios na região, assumindo a atual Côte d’Ivoire, o Gabão e uma série de ilhas no Pacífico e Índico, ganhando posições também na Ásia. Com Napoleão III no poder, franceses anexaram aos territórios as ilhas de Madagascar, na África, e Nova Caledônia, próximo da Austrália, além de assumir quase todo o Sudeste Asiático (Indochina e Cochinchina).

A maioria das possessões francesas faziam fronteira ou estavam próximas de domínios ingleses. A tensão, histórica entre os dois países, se manteve por décadas, até que os países firmaram uma aliança no final do século XIX – que atravessaria todo o século XX, especialmente nas duas guerras contra alemães.

Império Francês.

Portugal, Espanha e Holanda

A despeito do grande poder e inúmeras colônias portuguesas e espanholas no início do século XIX – uma herança das Grandes Navegações – os dois países, ao longo do século retrasado, perderam praticamente todas as possessões ou desistiram do controle sobre territórios, que ganharam independência. Holandeses, que durante séculos controlaram portos ao redor do mundo, por meio das poderosas “Companhias das Índias”, perderam o lugar como “banqueiros” e investidores na Europa para os ingleses. Com o fim do mercantilismo e florescer da Revolução Industrial, nenhum dos três países jamais recuperou o seu prestígio como potências imperialistas.

Os espanhóis viram muito de seu poder nas Américas ir por terra com a vergonhosa derrota de 1898 para os norte-americanos. Em questão de dias, americanos acuaram a armada espanhola na região de Cuba e intercederam também na Revolução Filipina, do outro lado do mundo. Em ambos os casos, americanos saíram vitoriosos, e a perda dos territórios na Oceania, Ásia e Caribe por parte dos espanhóis acabou sendo oficializado no Tratado de Paris, no mesmo ano.

Portugal perdeu sua principal colônia, o Brasil, em 1822, e embora mantivesse as colônias africanas da Guiné, Ilhas de Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Angola e Moçambique por mais 150 anos, nunca mais foi capaz de se reafirmar como potência marítima ou comercial.

A Holanda manteve a ilha de Curaçao e as pequenas Antilhas, no Caribe; e o Suriname, na América do Sul. Além disso, manteve alguns entrepostos comerciais em pequenas ilhas oceânicas, sendo a Ilha de Java, na Ásia, a mais rentável. Os holandeses ainda se manteriam como poderosos comerciantes, mas sua influência política e militar não mais era capaz de fazer frente a ingleses, franceses ou, posteriormente, alemães.

Japão

Inicialmente, o Japão estava em desvantagem, sendo apenas uma esfera de influência dos Estados Unidos no Pacífico. Um país quase feudal até o início do século XIX, o Japão enfrentou a partir do início da Era Meiji um dos mais velozes processos de industrialização do mundo. Em poucos anos, japoneses deixaram o posto de fornecedores de insumos e mercado meramente importador e se tornaram uma potência capaz de abastecer toda a Ásia, Oceania e inclusive países do Ocidente.

Tão rapidamente quanto acelerou a produção industrial, o Japão criou um exército sem pares na Ásia. Mesmo ingleses não fizeram questão de entrar em conflito com japoneses na segunda metade do século XIX e, acima do Subcontinente Indiano e do Sudeste Asiático, avançando na China, Tibete, países insulares mais ao Leste e Coreia, japoneses estavam livres e sem concorrência para criar o seu próprio império.

Império Japonês.

O Japão foi uma das únicas potências imperialistas (juntamente com os turcos otomanos) fora do mundo ocidental e apenas a segunda fora da Europa. No mapa, vemos o alcance máximo do Império Japonês, algo que foi construído muito lentamente. A maior expansão começou após a vitória na guerra contra a Rússia em 1905, continuou ao longo do século XX e chegou ao ápice durante a Segunda Guerra Mundial.

Além de derrotar os russos, os japoneses travaram guerras contra chineses – anexando a região da Manchúria, territórios litorâneos chineses, Taiwan (Formosa) e a Península da Coreia. No período entre guerras (1918-1936), o Japão ampliou seus domínios consagrando seu império e assumindo antigas possessões inglesas (como a Indonésia), francesas (Indochina e Cochinchina), americanas (Filipinas) e uma série de ilhas espalhadas por todo o Pacífico. O domínio absoluto de japoneses no Extremo Oriente apenas cessaria após a derrota na Segunda Guerra Mundial.

Estados Unidos

Ao longo do século XIX, regiões da América começaram a se transformar em zonas de influência dos Estados Unidos. A influência diplomática, cultural e, principalmente, econômica era cada vez mais forte.

Entre 1852 e 1855, os Estados Unidos tentaram ocupar a Amazônia brasileira, o que foi evitado graças a esforços diplomáticos do Brasil. Em 1898, vitoriosos na Guerra Hispano-Americana, os Estados Unidos tomaram Filipinas, Porto Rico, Guam e Cuba da Espanha. As Filipinas conquistaram a independência em 1946, Cuba foi um protetorado até 1959 e Porto Rico e Guam são territórios estadunidenses até hoje.

No início do século XX, os Estados Unidos apoiaram grupos separatistas no Panamá, que pertencia à Colômbia, e com isso se favoreceram. Após a independência desse novo país, foi construído o Canal do Panamá, com total domínio dos Estados Unidos. O imperialismo estadunidense nesse período foi marcado pelo Corolário Roosevelt (em alusão a Franklin Delano Roosevelt, o presidente da época). Era a política do big stick, cujo lema era “Fale macio, mas tenha um grande porrete”. Ou seja, em relação à América Latina, os Estados Unidos tinham uma abordagem diplomática, mas por trás disso havia uma poderosa força militar como ameaça.

Império Alemão

O Império Alemão unificado teve, em suas primeiras décadas, o comando de Otto von Bismarck. Bismark não era propenso à colonização e via o imperialismo como uma disputa de vaidades entre as lideranças europeias, mais do que um empreendimento promissor. A Alemanha concentrou esforços financeiros em desenvolver uma potência industrial local, aproveitando principalmente a proximidade e posse de valiosas reservas de carvão – o insumo energético mais expressivo da época.

Contudo, o kaiser alemão, que representava o poder imperial local, acabou afastando Bismark em 1890. O comando de Bismark chegou a anexar algumas províncias na África e um apanhado de ilhas na Oceania, mas em termos imperialistas a Alemanha iniciou o século XX com territórios inexpressivos se comparados aos ingleses ou franceses.

Império Alemão.

Consequências do Imperialismo

A “partilha” do mundo ditada por europeus durante o imperialismo não levou em consideração qualquer tipo de estratégia social e política em relação às forças que eram originárias das colônias. Em suma, as colônias em muitos casos uniam populações rivais entre si, ou em outros casos separavam nações coesas entre influências e metrópoles distintas.

A Índia e o Paquistão sofrem, até os dias de hoje, com uma guerra “não-oficial” que dura mais de um século, em razão principalmente de diferenças religiosas e disputas territoriais decorrentes da arbitrariedade com que britânicos realizaram a divisão das colônias e redistribuição da população.

A Guerra do Ópio (1939-1942 e 1956-1960) promovida na China pelos britânicos e o domínio da Manchúria pelos russos e japoneses na mesma China são algumas das muitas arbitrariedades neocoloniais que ocorreram nesse período do século XIX.

Na África, inúmeras guerras civis e genocídios que até hoje afligem o continente têm origem na divisão sem estudo ou análise sociológica promovida pelas potências industriais europeias – a maioria desses conflitos ainda por resolver.

Veja mais: Consequências do Imperialismo.

Por: Carlos Artur Matos

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