Embora a Independência do México somente viesse a acontecer mais de dez anos depois, os mexicanos tentaram se desvincular da coroa espanhola em 1810, pela primeira, sob a liderança do padre Miguel Hidalgo, de Guanajuato.
Hidalgo pretendia libertar os povos indígenas locais e combater os colonos espanhóis. Diferente dos demais movimentos separatistas da América Espanhola, a revolta mexicana vestiu um caráter popular, regionalista e indigenista.
Contexto histórico
O atual território do México abrigava o Vice-Reino da Nova Espanha – um enorme território que englobava não apenas o atual território mexicano, mas parte considerável dos atuais estados do sul norte-americano: Califórnia, Nevada, Novo México e Texas.
O vice-reino era a mais rica colônia espanhola, com comércio intenso a partir do porto de Veracruz. Além do fornecimento de bens agrícolas, insumos animais e minérios à metrópole, abrigava ricos colonos espanhóis que compravam e importavam com frequência de toda a Europa.
A coroa espanhola, contudo, estabelecia uma forte distinção entre os “nascidos espanhóis” e a elite local, que se via impotente diante do controle do comércio apenas pelos indicados pela coroa. Os criollos, nascidos em Nova Espanha, viam-se preteridos na ocupação de cargos administrativos importantes.
A maioria da população de indígenas e mestiços também nutria uma crescente revolta contra a coroa, algo que poderia ser usado pelas elites mexicanas.
O processo de independência do México
Em 1808, diante de desentendimentos entre a elite colonial e a coroa espanhola, lideranças locais sequestraram e aprisionaram o vice-rei. A Espanha tentou resolver a questão de forma diplomática, mas as camadas mais baixas da sociedade não obtiveram qualquer vantagem a partir do “atentado”.
Sob a liderança de Miguel Hidalgo, um padre de origem criolla que vivia próximo à cidade de Guanajuato, iniciou-se em 1810 um movimento popular com a intenção de emancipar a Nova Espanha da coroa espanhola, declarando a independência. Os rebeldes também queriam a distribuição de terras, concentradas nas mãos de chapetones (espanhóis) e criollos.
Hidalgo, cuja popularidade crescia dia após dia, chegou a proclamar a abolição da escravatura de maneira não oficial. A revolta de Hidalgo atendia ao clamor do povo, porém seus ideais reformadores, se concretizados, feriam não apenas os interesses espanhóis: mas também da aristocracia criolla.
Em setembro de 1810, após tentativas frustradas, Hidalgo e seus milhares de seguidores declaram guerra à metrópole espanhola: o que ficou conhecido como o “Grito de Dolores”. Hidalgo seria preso em meados de 1811 e, após julgamento pela Santa Inquisição, seria fuzilado e mutilado, tendo sua cabeça exposta em Guanajuato.
A exibição pública, contudo, não refreou o movimento. Por oito anos, o conflito passou de uma revolta de padres e religiosos encabeçando populares para um movimento republicano, até se tornar algo próximo de uma guerrilha.
Outros padres, como José María Morelos, conseguiram inclusive conquistar cidades e chegaram a declarar a independência (em 1813, no caso de Morelos, embora a declaração tenha sido refutada pela coroa).
Mesmo com inúmeras rebeliões populares em toda a região, o movimento fracassou e mostrou à elite criolla a necessidade de liderar os movimentos de independência para que não perdessem seus privilégios. Porém, os insurgentes nunca se dissiparam de fato.
A independência do México de fato só veio pelas mãos das elites locais, quando o então chefe das tropas espanholas, Agustín de Iturbide, que deveria impedir a independência do México, negociou com os criollos a autonomia do México, o que foi consolidada após o Tratado de Córdoba, em 1821.
Iturbide declarou a independência após a renúncia do vice-rei e foi coroado imperador do México com o título de Agustín I, em 1821. Ao contrário do Brasil, o império no México não rendeu bons frutos: Iturbide foi executado em 1824. O México se transformaria numa república, embora viesse a passar novamente por uma breve experiência como império entre 1863 e 1867, na segunda intervenção francesa no país.
Por: Carlos Artur Matos