A literatura é, em princípio, uma arte como as demais; no entanto, por fazer uso da palavra como seu meio de comunicação, ela se diferencia das outras por várias razões, como, por exemplo, a condição de poder ser mais explícita.
A pintura registra um momento numa tela, a escultura se fossiliza na realidade registrada e assim por diante, mas a literatura pode levar o leitor a acompanhar toda uma evolução social ou histórica através da leitura, bem como a acompanhar toda uma sequência de ações que comporão um contexto completo, com início, meio e desfecho.
Graças à palavra, a arte literária pode recontar todo o desenvolvimento, a criação, o cotidiano humano, sejam os feitos notáveis da Humanidade, sejam as ações comezinhas do dia-a-dia. Pelo uso da língua, a literatura preserva toda a cultura de uma nação, claro, sempre através da visão determinada pelo artista.
Assim é que essa cultura pode ser poetizada, como fez José de Alencar ao metaforizar o contato Europa-América no romance Iracema. Pode ser corrigida, como fez Lima Barreto ao registrar o verdadeiro caráter e comportamento do “herói” ditador Floriano Peixoto no livro Triste Fim de Policarpo Quaresma.
A literatura pode também ser uma tentativa de caracterizar e catalogar toda uma cultura nacional e secular como ocorre em Macunaíma de Mário de Andrade. Pode, ainda, não registrar a História, mas enfocar comportamentos e situações que são fragmentos de um painel social amplo, como os que encontramos em O mulato de Aluísio Azevedo, em que se denunciam a segregação e o provincianismo típicos de uma região brasileira, num dado momento social.
Pode ser, também, que a literatura registre caracteres universais da condição humana, não se prendendo a uma cultura específica, como é o caso da maior parte das narrativas de Machado de Assis, por exemplo.
O que vamos entendendo por essa análise é que a literatura constitui-se em repositório cultural de um povo. Amostragem sempre renovada, pois o autor, ao “mexer” na realidade conforme o seu próprio desejo, está buscando uma forma única, original, de captar essa realidade, de gerar a sua própria verdade através de seu conhecimento, inspiração e emoção.
Por: Wilson Teixeira Moutinho
Veja também: