A história da literatura brasileira é dividida considerando os diversos movimentos ou escolas literárias. Ao estudar determinada época literária, percebe-se que há temas e formas de se expressar comuns aos vários autores daquele período.
É muito difícil estabelecer uma data para indicar quando se acaba uma escola literária e se inicia outra. Contudo, para situar os diversos estilos em tempo cronológico, estabeleceram-se marcos iniciais que indicam o surgimento de um novo estilo por meio da publicação de obra inovadora ou de um fato histórico.
Os períodos da literatura brasileira
A literatura brasileira tem sua história dividida em duas grandes eras, que acompanham a evolução política e econômica do país: a Era Colonial e a Era Nacional, separadas por um período de transição, que corresponde à emancipação política do Brasil. As eras apresentam subdivisões chamadas escolas literárias ou estilos de época.
A Era Colonial abrange o Quinhentismo (de 1500, ano do descobrimento, a 1601), o Seiscentismo ou Barroco (de 1601 a 1768), o Setecentismo ou Arcadismo (de 1768 a 1836).
A Era Nacional, por sua vez, envolve o Romantismo (de 1836 a 1881), o Realismo-Naturalismo e o Parnasianismo (de 1881 a 1893), o Simbolismo (de 1893 a 1922), o Pré-Modernismo (de 1902 a 1922) e o Modernismo (de 1922 a 1945). A partir daí, o que está em estudo é a contemporaneidade da literatura brasileira.
Resumo das escolas literárias brasileiras
Quinhentismo
Entende-se por Quinhentismo as manifestações literárias ocorridas no Brasil durante o século XVI tinham como objetivo descrever a nova terra e converter os índios ao catolicismo.
A história da literatura brasileira apresenta como marco inicial a carta de Pero Vaz de Caminha ao rei dom Manuel (1469-1521), de 1500, na qual se relatavam o descobrimento do Brasil e as primeiras impressões do novo território.
Enquanto a Europa vivia intensamente o período renascentista, a produção literária no território recém-descoberto ainda estava impregnada dos valores literários medievais.
Nesse contexto, predominaram duas vertentes literárias: a informativa, representada por Pero Vaz de Caminha, e a catequética (ou jesuítica), representada pelo padre José de Anchieta (1534-1597).
Barroco
O Barroco foi marcado pelos conflitos da época, que se dividia entre antropocentrismo e teocentrismo, na qual o ser humano vivenciava grandes dilemas existenciais.
O homem barroco impunha-se, de maneira angustiada, o avanço do racionalismo da burguesia. Isso se refletiu na produção artística que acompanhava esse movimento, a qual era pautada por angústia, desejo de fuga e ilimitado subjetivismo.
Durante o Barroco, ainda não havia no Brasil colônia todos os elementos de um sistema literário, mas alguns autores isolados, que viviam, principalmente, em Salvador e em Recife, já que a vida econômica da colônia era mais desenvolvida no Nordeste.
O marco do Barroco brasileiro foi o poema épico Prosopopeia, de Bento Teixeira, escrito em 1601. Além desse autor, merecem destaque dois escritores que surgiram na Bahia: padre Antônio Vieira e Gregório de Matos.
Arcadismo
No Brasil, os poetas árcades (que se designavam “pastores”) seguem os mesmos ideais estéticos do Arcadismo português. Os poemas revelam a valorização da simplicidade e do bucolismo, o culto ao natural e ao singelo, e a imitação dos modelos clássicos. A temática do carpe diem (“aproveite o dia”) também é bastante evidente em grande parte dos poemas árcades.
O Arcadismo trouxe para o Brasil temas e convenções artísticas do Ocidente europeu; no entanto, foi nesse período que surgiram os primeiros traços de uma literatura que ansiava por afastar-se dos modelos de sua metrópole, em busca de uma identidade brasileira.
Seus principais representantes foram: Tomás Antônio Gonzaga, Cláudio Manuel da Costa, Alvarenga Peixoto, Basílio da Gama e Santa Rita Durão.
Romantismo
No Brasil, o Romantismo iniciou-se em 1836 com a obra Suspiros poéticos e saudades, de Gonçalves de Magalhães e teve três gerações:
1ª geração: denominada nacionalista ou indianista. A pátria, caracterizada por sua natureza exuberante, e seus primeiros habitantes, os indígenas, são os elementos de destaque. Cultiva também outros temas caros aos românticos, como o sentimentalismo e a religiosidade. Gonçalves de Magalhães (1811-1882) e Gonçalves Dias (1823-1864) são os principais representantes desse período,
2ª geração: denominada ultrarromântica. Nota-se um exagero dos temas românticos, como o subjetivismo, o pessimismo, o tédio e a melancolia. A paisagem noturna/soturna ganha destaque. Há uma supervalorização da morte como solução dos problemas. Álvares de Azevedo (1831-1852), Junqueira Freire (1832-1855), Fagundes Varela (1841-1875) e Casimiro de Abreu (1839-1860) são os principais representantes dessa geração.
3ª geração: denominada condoreira ou social. O individualismo excessivo e ultrarromântico vai perdendo espaço para uma visão mais próxima da realidade social. Castro Alves (1847-1871), Tobias Barreto (1839-1889) e Sousândrade (1833-1902) são os principais representantes dessa fase.
Realismo e Naturalismo
O Realismo e Naturalismo no Brasil tem como marco inicial o ano de 1881, com a publicação de duas obras fundamentais: O mulato, de Aluísio Azevedo (naturalista), e Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis (realista).
Os autores desses estilos têm a tendência de privilegiar a visão racional do mundo e da sociedade humana, o que os leva a desenvolverem, via de regra, uma arte engajada, ou seja, uma arte de compromisso com a dignidade do ser humano e com a justiça social.
Essa intenção é implementada por meio das denúncias que fazem em suas obras dos chamados crimes sociais, cometidos cotidianamente por instituições oficiais ou não, ou por grupos alojados no poder político e/ou econômico, ou mesmo por ações de um indivíduo qualquer contra outro, socialmente mais frágil.
O Naturalismo é considerado um complemento do Realismo, nele há um determinismo, em que se afirma que a obra de arte seria determinada por três fatores: meio, momento e raça. Além, ainda, do cientificismo, que aparece como grande influência dos autores da vertente naturalista.
Os principais representantes foram Machado de Assis, Aluísio Azevedo, Raul Pompéia, Adolfo Caminha, Júlio Ribeiro e Inglês de Souza.
Parnasianismo
O Parnasianismo teve origem na França e representou, na poesia, ideal estético da “arte pela arte’’ e o retorno à orientação clássica, que busca o equilíbrio e a perfeição formal.
No Brasil, o Parnasianismo exerceu forte influência nos meios artísticos, e seus poetas alcançaram um sucesso até então nunca obtido por poetas. O marco inicial foi a publicação da obra Fanfarras, em 1882, com poemas de Teófilo Dias (1854-1889).
Após um começo pouco impactante, influenciado por Artur de Oliveira (1851-1882), o movimento foi adquirindo maior expressão e grande prestígio com as obras de Raimundo Correia (1859-1911), Alberto de Oliveira (1857-1937) e, principalmente, de Olavo Bilac (1865-1918), o mais famoso dos poetas parnasianos.
Simbolismo
Ao negar o cientificismo, a objetividade e o descritivismo dos parnasianos, os poetas simbolistas procuram o incerto, o nebuloso, o vago.
No Brasil, o Simbolismo inicia-se em 1893, com a publicação das obras Missal e Broquéis, do poeta Cruz e Sousa. A forma mais largamente utilizada pelos simbolistas brasileiros foi o poema.
Diferentemente do Simbolismo português, que alcançou destaque nas letras e incentivou a primeira geração modernista, a estética simbolista brasileira sofreu forte rejeição por aqueles que admiravam o Parnasianismo, em especial, por Olavo Bilac (1865-1918).
Como maiores representantes dessa estética no Brasil, destacam-se Cruz e Sousa (1861-1898) e Alphonsus de Guimaraens (1870-1921).
Pré-Modernismo
O Pré-Modemismo é o período literário que compreende as duas primeiras décadas do século XX e que valorizava acima de tudo discutir a realidade social e política do Brasil.
Didaticamente pauta-se por critérios cronológicos e está compreendido entre 1902 – ano da publicação de Os sertões, de Euclides da Cunha (1866-1909), e de Canaã, de Graça Aranha (1868-1931) – e 1922 – ano da realização da Semana de Arte Moderna, em São Paulo. O período conta com grande diversidade de estilos e autores.
Convivem durante esse período tendências conservadoras e renovadoras. A postura conservadora é aquela em que ainda há traços positivistas e deterministas que fundamentaram o Realismo e seus desdobramentos Naturalismo, Simbolismo e Parnasianismo).
Já na postura renovadora encontra-se um grupo de escritores preocupados em incorporar a realidade ao fazer literário, de maneira crítica, apresentando, dessa forma, uma maior preocupação político-social em suas obras.
Principais autores: Graça Aranha, Euclides da Cunha, Lima Barreto, Monteiro Lobato e Augusto dos Anjos.
Modernismo
A Semana de Arte Moderna, que aconteceu no período de 11 a 18 de fevereiro de 1922, marca o início o oficial do movimento modernista brasileiro. Ele costuma ser dividido em 3 fases:
A primeira fase do Modernismo brasileiro (geração de 22) notabilizou-se por abrir caminhos vanguardistas para um público que ainda flertava com a estética parnasiana tardia. Destaques: Mário de Andrade, Oswald de Andrade e Manuel Bandeira.
Na segunda fase, que ocorre a partir dos anos 1930, a poesia brasileira mistura a liberdade formal (conquistada pela geração de 22) com os recursos tradicionais da literatura; a prosa, por sua vez, torna-se menos preocupada com o como dizer e mais com o que dizer. Os escritores da geração de 30 se preocupam mais em registrar os problemas da realidade brasileira do que em experimentar novas formas de linguagem. Destaques: Carlos Drumond de Andrade, Cecília Meireles, Vinicius de Moraes, Rachel de Queiroz, Graciliano Ramos e Jorge Amado.
Diferentemente do espírito radical presente na primeira fase, na terceira fase (geração de 1945), os autores retomam uma atitude mais formal em suas produções, indo na contramão da liberdade desenvolvida nas gerações modernistas anteriores. Outras características dessa fase são: produção de contos fantásticos; inovações na linguagem e uso da função metalinguística; produção de uma literatura experimental; uso de temáticas sociais e humanas, tendo o regionalismo universal como destaque; e linguagem mais objetiva. Destaques: Clarice Lispector, Guimarães Rosa e João Cabral de Melo Neto.
Literatura contemporânea brasileira
Na segunda metade do século XX, houve poucos movimentos literários e poéticos duradouros e organizados no Brasil. No campo da poesia, por exemplo, o Concretismo e o Tropicalismo, manifestações também ligadas à produção musical e à arte popular, tiveram curta duração como movimentos estéticos estruturados.
Ainda assim, algumas tendências podem ser apontadas como características mais ou menos comuns, sobretudo para os prosadores:
- uma tentativa de mescla de gêneros, em que o romance, o conto, a crônica de costumes e o relato documental se misturam;
- uma narrativa mais direta, sem rodeios, que estabelece um realismo cru.
Em algumas produções na prosa, por vezes, há o resgate ou a superação de alguns aspectos da recente tradição literária brasileira. Em outras, são trilhadas veredas ainda não seguidas por nenhum escritor brasileiro, à semelhança da narrativa bruta e obsessivamente objetiva de Rubem Fonseca (1925) ou dos contos mínimos de Dalton Trevisan (1925).
Em relação à poesia, embora afirmem-se como artistas de talento, premiados e reconhecidos pela crítica e pelo público, os contemporâneos não seguem uma única tendência estética nem apresentam um estilo semelhante. São poetas que falam de seu tempo com uma linguagem que busca, acima de tudo, uma aproximação com o leitor.
Em relação ao teatro, a partir de 1943, com a apresentação da peça Vestido de noiva, de Nelson Rodrigues (1912-1980), encenada no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, foi inaugurado um novo cenário na história do teatro brasileiro. Essa peça revolucionou a dramaturgia nacional, que passou a contar com importantes autores, como Ariano Suassuna (1927), Gianfrancesco Guarnieri (1934-2006) e Dias Gomes (1922-1999), entre outros.
Por: Paulo Magno da Costa Torres