Literatura

Literatura de Cordel

A literatura de cordel, escrita e impressa em livretos, é um gênero textual da poesia popular nordestina.

Essa literatura tem origem nos poemas trovadorescos, que eram cantados pelos trovadores portugueses.

Depois de muito tempo, a literatura de cordel passou a ser impressa e recebeu esse nome por causa da origem dos livretos escritos em versos; era também conhecida como “folhas soltas” ou “folhas volantes”, vendidas em feiras e romarias em Portugal. No Brasil, os folhetos eram vendidos na feira, expostos dependurados em cordões, por isso o nome cordel.

O livreto de cordel tem o formato, em geral, de 11 cm × 16 cm. Contém 16 estrofes e é impresso em papel jornal, o que é característico do gênero. A capa é ilustrada em xilogravura (arte e técnica de fazer gravuras em relevo sobre madeira). Às vezes, são usados desenhos ou fotografias.

O cordel, assim como a cantoria, tem se mantido sem grandes transformações apesar das mudanças sociais e das novas tecnologias. É considerado por alguns estudiosos como a “poesia popular impressa“.

Os poemas dessa literatura são, em geral, rimados. Apresentam comumente estrofes de dez, oito ou seis versos. Os cordelistas recitam esses versos de forma melodiosa e cadenciada, ou seja, com ritmo, por vezes acompanhados de viola. Fazem também leituras ou declamações para conquistar compradores.

Literatura de cordel
Livretos de cordel.

Em 1988, foi fundada a Academia Brasileira de Literatura de Cordel, com sede no Rio de Janeiro. A Academia reuniu os grandes cordelistas do Brasil.

A literatura de cordel faz sucesso por várias razões: tem custo muito baixo, pois as impressões são feitas de forma artesanal; apresenta, muitas vezes, um tom humorístico e retrata o cotidiano da população do seu local de origem. Os temas mais usuais são: festas, milagres, política, seca etc.

Entre os cordelistas mais conhecidos estão: José Alves Sobrinho, Homero do Rego Barros, Patativa do Assaré (Antônio Gonçalves da Silva), Téo Azevedo, Zé Melancia, Zé Vicente, José Pacheco da Rosa, Gonçalo Ferreira da Silva, Chico Traíra, João de Cristo Rei e Ignácio da Catingueira.

Vários escritores de nome consagrado na literatura brasileira, como João Cabral de Melo Neto, José Lins do Rego, Ariano Suassuna e João Guimarães Rosa, foram influenciados pela literatura de cordel.

Exemplo de literatura de cordel:

Aposentadoria de Mané do Riachão

“Seu moço, fique ciente
De tudo que eu vou contar,
Sou um pobre penitente
Nasci no dia do azá,
Por capricho eu vim ao mundo
Perto de um riacho fundo
No mais feio grutião
E como ali fui nascido,
Fiquei sendo conhecido
Por Mané do Riachão.

Passei a vida penando
No mais crué padicê,
Como tratô trabaiando
Pro filizardo comê,
A minha sorte é trucida,
Pra miorá minha vida
Já rezei e fiz promessa,
Mas isto tudo é tolice,
Uma cigana me disse
Que eu nasci foi de trevessa.

Sofrendo grande cancêra
Virei bola de bia
Trabaiando na carrera
Daqui, pra ali e pra aculá,
Fui um eterno criado
Sempre fazendo mandado
Ajudando aos home rico,
Eu andei de grau em grau
Taliquá o picapau
Caçando broca em angico…”

Patativa do Assaré

Vocabulário

Grutião: Brechão, depressão, grande grota.
Padicê: forma variante do verbo “padecer”.
Taliquá: forma variante da expressão “tal e qual”.
Angico: árvore de até 12 metros, nativa do Brasil.

Analisando o texto do cordelista Patativa do Assaré, podemos verificar que, em relação à linguagem, é preservada a simplicidade da oralidade do sertanejo.

No poema, a personagem lamenta ter nascido pobre e sem sorte, ter trabalhado a vida toda deixando os patrões cada vez mais ricos. Depois de uma vida inteira de trabalho, ao tentar a aposentadoria, fica sabendo que será impossível, pois nunca teve registro em carteira de trabalho e não tinha documentos.

Por: Wilson Teixeira Moutinho