Pedagogia

Inteligências Múltiplas

Em linha com aquilo que vemos nos dias de hoje, o conceito de inteligência foi desdobrado e tornado algo mais amplo a partir dos anos 1980. Howard Gardner é um dos grandes responsáveis pela mudança na forma com que vemos a inteligência. O estudioso e psicólogo de Harvard propôs, nessa época, a teoria das inteligências múltiplas, sustenta que cada indivíduo possui diversos tipos de inteligência ou dons, que oferecem capacidades e competências distintas e são igualmente consideradas processos mentais.

Gardner considerava que a inteligência medida em termos formais – sob a psicometria, ou os famosos testes de QI que envolvem exercícios de lógica e afins – é insuficiente para determinar a inteligência humana de maneira global. Gardner defendia que as habilidades cognitivas do ser humano envolviam outros tipos de faculdades e inteligências, e descreveu um modelo para se aproximar melhor do que via como uma maneira eficaz de medir essas capacidades.

Para Gardner e a teoria das inteligências múltiplas, cada pessoa possui uma combinação única de capacidades e inclinações para aplicar a inteligência em problemas de ordens diferentes e natureza diversas. A inteligência continua a ser a capacidade dessa pessoa de resolver problemas e criar soluções, contudo avança em outros campos nos quais a lógica ou a matemática, conceitos tidos como determinantes anteriormente, não são de qualquer utilidade.

De acordo com Gardner:

Existem evidências persuasivas para a existência de diversas competências intelectuais humanas relativamente autônomas, abreviadas daqui em diante como “inteligências humanas”.

A exata natureza e extensão de cada “estrutura” individual não é até o momento satisfatoriamente determinada nem o número preciso de inteligências foi estabelecido. Parece-me, porém, estar cada vez mais difícil negar a convicção de que há pelo menos algumas inteligências, que estas são relativamente independentes umas das outras e que podem ser modeladas e combinadas numa multiplicidade de maneiras adaptativas por indivíduos e culturas.

GARDNER, 1994, p. 7.

Thomas Armstrong, ao abordar a teoria de Gardner e relacioná-la à pedagogia e aplicações na aprendizagem, descreveu as inteligências múltiplas, relacionando-as a capacidades intelectuais.

  1. Inteligência linguística: domínio do idioma, da linguagem, da argumentação e das palavras. Pode se manifestar na escrita ou também na oralidade, ou em ambos.
  2. Inteligência interpessoal: capacidade de estabelecer relacionamentos e de identificar o estado de humor e espírito dos demais, confere capacidades sociais e é atualmente relacionado à inteligência emocional.
  3. Inteligência intrapessoal: autoconhecimento e a capacidade de lidar com as próprias emoções, medos, expectativas e gatilhos de ansiedade.
  4. Inteligência lógico-matemática: a inteligência “clássica”, dentro do modo com que era vista antes da teoria das múltiplas inteligências.
  5. Inteligência musical: a capacidade de perceber, transformar e expressar formas musicais, mas também de detectar e identificar sons, vibrações.
  6. Inteligência espacial: a capacidade de perceber com precisão o mundo, as distâncias, as formas, o espaço físico.
  7. Inteligência corporal-cinestésica: perícia no uso do corpo todo para expressar ideias e sentimentos e facilidade no uso das mãos para produzir ou transformar coisas. Pode se expressar no uso do próprio corpo ou de extensões dele, como ferramentas.
  8. Naturalista: traduzida na sensibilidade de organização dos objetos relacionados à natureza, como classificar e reconhecer as plantas, animais, minerais.
  9. Existencial: traduzida na capacidade de refletir e ponderar sobre questões relacionadas à existência humana e a questões espirituais e filosóficas abstracionais.

ARMSTRONG, 2001, p. 14-15. Adaptado.

Inteligências múltiplas

Em termos pedagógicos, a maior aceitação da teoria das múltiplas inteligências produziu e evoluiu métodos de pedagogia mais abertos, que desenvolvem faculdades que estão além do dito “conhecimento formal”. Nos primeiros anos da escola, especialmente no jardim de infância, outras competências e inteligências eram desenvolvidas, mas sofriam interrupção ao chegar nos primeiros anos da educação no ciclo fundamental. Hoje, especialmente em países cuja educação é tida como modelo para o mundo, como a Finlândia ou o Canadá, as múltiplas inteligências encontram-se presentes em todos os ciclos educacionais.

REFERÊNCIAS

  • SANTOS. Rosângela Pires dos. Inteligências Múltiplas e Aprendizagem. São Paulo, Editora. Coursepark, 2002.
  • SMOLE, Kátia Cristina Stocco. Múltiplas Inteligências na Prática Escolar/ Kátia Cristina Stocco Smole – Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação a Distância, 1999. 80 p. ; 16 cm. – [Cadernos da TV Escola. Inteligências Múltiplas, ISSN 1517-2341 n.1)
  • GARDNER, Howard; HATCH, Thomas. Educational implications of the theory of multiple intelligences. Educational researcher, v. 18, n. 8, p. 4-10, 1989.

Por: Carlos Artur Matos

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