Sabemos hoje que por trás de toda aparente desordem sempre existe uma ordem, uma regularidade qualquer, uma lógica enfim, por mais perversa ou injusta que ela seja.
Não existe no mundo social (e provavelmente nem na natureza) o caos ou a desordem absoluta, a falta de qualquer sentido.
Desde os anos 70 tornava-se evidente que o mundo capitalista não tinha mais somente um polo ou centro econômico, comercial e tecnológico.
A Europa ocidental, na qual se destaca o poderio alemão, e o Japão já vinham desde então disputando ou dividindo com os Estados Unidos o papel de grandes potências ou metrópoles capitalistas. Isso ficou definitivamente claro com a crise do mundo socialista e com a dissolução da URSS.
Na época da Guerra Fria, Europa e Japão tinham que aceitar a liderança norte-americana para enfrentar a ameaça soviética. Com o término dessa ameaça, a liderança dos EUA perdeu grande parte de sua razão de existir e sua maior preocupação, no lugar dos soviéticos, passou a ser a crescente influência e poderio mundial dos novos centros.
Só que não se trata mais daquela rivalidade ideológica e político-militar da Guerra Fria, na qual cada lado procurava expandir os seus armamentos.
Agora cada um procura conquistar ou manter mercados, procura avançar mais que o rival na inovação tecnológica.
Não é uma competição militar que poderia levar a uma guerra mundial, como era o caso da bipolaridade, e sim uma nova rivalidade econômica, comercial e tecnológica. Inclusive porque em boa parte esses três polos ou metrópoles estão imbricados, ou seja, têm inúmeros interesses associados.
Por exemplo: a Toyota japonesa exporta para os EUA centenas de milhares de carros por ano, tendo contribuído para as dificuldades da GM, que desativou algumas fábricas nos anos 80; todavia, a própria GM norte-americana possui um grande lote de ações da Toyota, estando assim interessada em seus lucros.
E os japoneses andaram adquirindo inúmeras propriedades nos EUA, além de ações de empresas norte-americanas, estando portanto interessados na prosperidade desse país.
E a mesma coisa ocorre com enormes investimentos norte-americanos na Europa, com investimentos ingleses ou alemães nos Estados Unidos, etc. Ou seja, os três polos capitalistas são ao mesmo tempo rivais e associados, são competidores por um lado e parceiros por outro.
Além disso, a nova ordem desvaloriza ainda mais dois fatores que são fundamentais para o Terceiro Mundo, principalmente para aqueles países mais pobres e pouco industrializados: a mão-de-obra barata e as matérias-primas em geral.
A revolução técnico-científica das últimas décadas vem substituindo o trabalho humano não especializado por máquinas, e os serviços que restam ou são criados nesse processo necessitam de um mínimo de escolaridade.
Mas a imensa maioria das nações do Sul estava acostumada a fornecer mão-de-obra barata e sem nenhuma escolaridade significativa.
Pouco a pouco essa torneira vai se fechando: um número cada vez menor de empresas continua a se interessar por investir em regiões ou países com força de trabalho barata mas de baixo poder aquisitivo e baixa escolaridade; e os empregos que havia nas áreas desenvolvidas ó para faxineiros, guardas, motoristas de táxi, operários braçais, etc. ó, que constituíam uma importante fonte de renda para alguns países pobres, aos poucos também vão escasseando.
Autoria: Gilberto Ivan de Oliveira Junior
Veja também:
- Globalização: A nova ordem mundial
- Equilíbrio Mundial, Bipolaridade e Multipolaridade
- O Mundo Pós-Guerra Fria