Quando você ouve a palavra política pode ser que apenas venha à cabeça algo relacionado às eleições ou a “políticos” de uma forma geral. A política, contudo, é muito mais que isso: ela é uma ciência, um campo de estudo e também uma competência que independente de cargos, posições ou da esfera governamental em si,
A palavra “política” vem do grego politiké e se referia ao trabalho dos cidadãos de debater, analisar e cuidar dos assuntos da cidade, organizando a vida de uma comunidade. Em sua essência, o próprio surgimento do conceito já implica em algo que envolvia a participação de todos: não há, nesse conceito inicial, alguém que “faz política” ou “não faz política”.
À parte qualquer conotação negativa, a política é uma das ciências humanas mais antigas e sua organização (porque ela existia antes em termos práticos), data do Período Helênico, o auge das cidades-estado da Grécia Antiga.
Origem da palavra
A construção da pólis, na Antiga Grécia, deu origem à palavra política. Os gregos criaram uma civilização onde o conceito de “império” não fazia sentido. A Grécia era um conjunto de cidades-estado, ou “pólis”, que mantinham relações diplomáticas entre si, com alianças, uniões, compartilhamento de insumos e soldados, entre outros.
Dentro de cada uma dessas cidades, a vida era dividida em uma vida privada e uma pública. Esta última incluía espaços comuns, reuniões e conselhos que deliberavam, discutiam e tomavam decisões a respeito da cidade-estado como um todo: com quem manter a paz ou não, que alianças fazer, o que construir e onde, o que plantar e em que quantidade.
Dessas reuniões e da divisão de responsabilidades entre os cidadãos, surgiram órgãos que tomavam decisões com uma base representativa (com representantes de famílias, clãs, regiões, etc), assim como as primeiras instituições públicas administrativas, nos moldes próximos daquilo que conhecemos hoje. Não por acaso, a partir dessa concepção grega de política, surgiriam as bases para a criação da democracia.
O que é política na teoria e na prática
Quando o ser humano embarcou numa vida em sociedade – e essas sociedades se tornaram cada vez maiores e mais complexas – diferenças de opinião e posicionamento se tornaram comuns, e mais raro se tornou o consenso. Essas comunidades são resultado da ação humana, do “animal político” que Aristóteles descrevia. Em sociedade, o ser humano fortalecia sua espécie perante as demais, garantia mais proteção, alimento, recursos, afeto e companhia.
Proporcionar para as pessoas esses bens, que são o motivo pelo qual elas se juntaram em uma comunidade, seria a mais importante realização dos cidadãos que cuidam dos assuntos da pólis. Encontrar maneiras justas de distribuir o coletivo e fazê-lo sem destruir a esfera do individual.
Segundo Aristóteles, o conjunto de estudos e ações que busca caminhos para obter esses bens e promover a felicidade é a política. Claro que essa “felicidade” depende do modo com que cada um dentro da comunidade se comporta – e pressupõe que todos estão dispostos a obedecer e a cumprir o compromisso com o coletivo, em prol da melhoria do individual.
Aí começa a linha que separa o conceito teórico de política do conceito aplicado na prática. Quando a política é aplicada, surge a necessidade de líderes, de decisões e aparece a figura do poder. O poder que emana da política é estudado, criticado e analisado por inúmeros autores que auxiliaram na construção do que conhecemos hoje por política e governo: Hobbes, Maquiavel, Montesquieu e outros.
Sem a aplicação dos conhecimentos e das técnicas da política na vida cotidiana de uma cidade, de um estado ou de um país, não podemos dizer que a política atinge os objetivos pelos quais foi pensada. A prática da política exige sim um conhecimento da teoria, mas esbarra em outros conceitos que acompanharam sua evolução através dos tempos – a ética, o direito, a sociologia.
Os desafios da política
A política como entendemos no mundo ocidental é resultado direto da democracia representativa. Ao contrário dos gregos, nossa sociedade tornou-se demasiado numerosa e complexa para comportar um “espaço” no qual todos possam a qualquer momento participar.
A solução da democracia foi criar unidades representativas. Dentro da política atual, territórios e regiões são subdivididos, para facilitar sua administração e não eliminar a visão da política. Esferas mais altas em geral lidam com a política externa e temáticas mais generalistas, enquanto esferas mais regionais lidam com os problemas do cotidiano e as necessidades individuais.
O grande desafio da política na atualidade está exatamente em compreender e pesar como decisões e atos políticos em esferas superiores afetam – positiva ou negativamente – as esferas mais próximas do indivíduo. Esse distanciamento que hoje possuímos da política, por surgimento uma coisa acessível, criou tanto indivíduos alienados, que não se envolvem com a política, quanto indivíduos polarizados, que enxergam a política, em virtude do distanciamento que possuem, como uma entidade que apenas é capaz de fazer o bem ou o mal.
A representatividade até os dias de hoje não possui uma alternativa viável no campo da política. Vivemos em um mundo ainda dividido entre democracias e governos mais autocráticos e totalitários. A política é uma prática que exige participação. Sem ela, o indivíduo pode ser lesado pelas decisões alheias – uma vez que essas podem não considerar o seu ponto de vista privado.
Por outro lado, quanto maior a população gerida politicamente, mais complexa se torna a arte de encontrar consensos e formas de distribuir os bens e direitos de maneira a atender, ainda que parcialmente, as necessidades de todos sem lesar a necessidade da maioria.
Mas, por mais difícil e desafiador que seja, a união entre o conhecimento teórico e o prático em ações políticas pode ser vista na criação de políticas públicas que atendam aos interesses populacionais, garantindo seu bem-estar e segurança.
Por: Carlos Artur Matos
Veja também:
- Partidos Políticos
- História das ideias políticas
- O poder político no Brasil
- Conceito de direita e esquerda na política