Os alfabetos são séries ou conjuntos de símbolos usados na escrita de uma língua. A palavra alfabeto vem da união de alfa e beta, as duas primeiras letras do alfabeto grego, termo que passou a designar qualquer conjunto de letras usadas em uma ou mais línguas.
A descoberta do alfabeto
Há cerca de 6 mil anos, as pessoas só se comunicavam por meio de fala e gestos. Os poucos registros gráficos eram realizados por meio de pinturas rupestres, desenhos e pictogramas que eram pouco mais do que rascunhos ou desenhos, sem significação mais vasta. A história e os costumes apenas podiam ser preservados e passados entre gerações por meio da tradição oral – e por essa razão os registros históricos datados de antes da existência do alfabeto são tão poucos.
O primeiro estágio da escrita ocorreu quando os seres humanos passaram a desenhar. Na ideografia, um desenho continha ideias e símbolos que podiam ser interpretados visualmente por outros seres humanos, mesmo quando não conheciam o autor desses desenhos.
Depois, o ser humano passou a usar a logografia, expressando as ideias indiretamente por meio de símbolos em lugar de palavras faladas. A substituição e a complementação passaram a estar presentes – se cinco palitos ou riscos representassem o número cinco, ao desenhar um boi ao lado desses cinco riscos, o autor da mensagem queria na verdade se referir a cinco bois.
Aos poucos, as civilizações da Idade dos Metais começaram a desenvolver símbolos com base na própria fonética. Ou seja, passaram a criar ícones ou símbolos que representavam as sílabas ou os sons pronunciados – embora essa corrente não tenha sido utilizada uniformemente por todas as civilizações: maias, astecas e chineses, por exemplo, possuíam ideogramas que representavam ideias, expressões ou até mesmo sílabas, dependendo da circunstância.
Porém, em muitas regiões, os homens aprenderam a utilizar um sistema silábico, no qual o sinal que expressava uma palavra podia ser usado tanto para se referir a ela como para qualquer combinação fonética que soasse como aquela palavra. Esse tipo de desenvolvimento de alfabeto é conhecido por rébus. Um exemplo de rébus é a escrita hieroglífica egípcia, na qual alguns símbolos podem significar objetos, criaturas ou deuses, mas ao mesmo tempo podem ter o seu som utilizado para formar outras palavras.
Os primeiros alfabetos
Os sumérios foram o primeiro povo a criar um sistema de escrita similar ao que conhecemos hoje. Habitantes da região entre os rios Eufrates e Tigre (atual Iraque), entre meados de 3500 a.C. e 2000 a.C., os sumérios primeiro desenvolveram um sistema com pictogramas, ou seja, representações gráficas icônicas que lembravam os objetos referidos. Os desenhos foram, com o tempo, sendo simplificados. A evolução foi uma escrita com mais de dois mil símbolos formados por linhas e riscos cunhados – posteriormente simplificado para um alfabeto com cerca de 600 símbolos. A escrita, contudo, ainda era ideográfica – ela representava ideias e conceitos, não sílabas e sons. Essa escrita, pela forma com que era produzida em tábuas e pedras, ficou conhecida como cuneiforme.
Os egípcios possuíam uma escrita própria desde 3000 a.C. Mais parecida com linguagens e alfabetos hoje ainda utilizados, como o kanji chinês (que é parcialmente utilizado também no Japão), o alfabeto egípcio envolvia centenas de símbolos pictográficos, alguns símbolos fonéticos e também ideogramas. A escrita hieroglífica também evoluiu à medida que o Império Egípcio avançou, dinastia após dinastia. No egípcio, além da escrita hieroglífica, havia dois outros alfabetos: o hierático e o demótico.
Os semitas, que habitavam a Síria e a Palestina, tinham noções do sistema de escrita egípcio. Entre 1500 a.C. e 1000 a.C., desenvolveram uma escrita alfabética. Usavam sinais que expressavam as consoantes das sílabas, como os egípcios, mas inventaram caracteres próprios, que dariam origem ao aramaico e depois ao hebraico e ao árabe.
Os fenícios, exímios comerciantes e navegadores que habitavam a costa do mar Mediterrâneo (aproximadamente onde hoje se encontra o Líbano), desenvolveram um sistema de 22 sinais por volta de 1300 a.C. Assim como no semita e no egípcio, a escrita fenícia simplificada reproduzia os valores fonéticos das consoantes, mas não as vogais. Contudo, para comerciantes e navegadores como eram, o simples alfabeto permitiu sucesso em rotas comerciais em todo o mundo antigo – qualquer pessoa poderia aprender os 22 sinais e se expressar por escrito.
Os gregos aproveitariam os símbolos fenícios, criando um alfabeto baseado no valor fonético e introduzindo os sons das vogais, ao contrário de seus predecessores. O alfabeto grego, muito próximo do latino que usamos, possuía 24 letras e ainda possui. Com essas letras, os gregos eram capazes de reproduzir graficamente o som de qualquer palavra – inclusive aquelas de idiomas estrangeiros.
O alfabeto romano
Provavelmente após o ano 1000 a.C., os etruscos emigraram do Mediterrâneo oriental para a região atualmente conhecida como Toscana, no coração da Península Itálica. Com eles, levaram o alfabeto grego, que utilizavam em sua língua. Os romanos, que posteriormente derrotariam os etruscos e conquistariam toda a Itália, para depois estabelecer um império que abrangeria todo o sul europeu, norte da África e parte do Oriente Médio, adotaram o grego usado pelos etruscos e o modificaram aos poucos, criando o alfabeto latino – inicialmente com 20 letras, para depois ganhar mais 3 delas (e mais recentemente outras 3, com a inclusão do K, do W e do Y.
Durante séculos, o latim e todas as suas variantes e dialetos apenas utilizavam as letras maiúsculas. O alfabeto “cursivo” inexistia, e a escrita romana usava símbolos que hoje conhecemos como “letras de forma”. As letras minúsculas apenas surgiriam mais tarde – ao mesmo tempo uma forma de simplificação na escrita e também um modo de diferenciar substantivos ou nomes mais relevantes e ocupar menos espaço.
Mais recentemente, variações linguísticas e entonações produziram sons diferentes para uma mesma letra. Como forma de representar graficamente o momento em que esses sons variam, muitos alfabetos, entre eles o latino, foram criados acentos. Os acentos representam uma diferença de sonoridade em alguma letra – no português eles apenas aparecem nas vogais, mas em línguas como o tcheco ou o turco, eles podem aparecer também nas consoantes.
Outros sistemas de escrita
O alfabeto árabe surgiu por volta do séc. IV e possui 29 letras. Além da língua árabe, esse alfabeto era, até 1923, utilizado também na escrita do turco – que passou a adotar o alfabeto latino. O alfabeto árabe apenas representa as consoantes, assim como na antiga escrita fenícia ou no semita, do qual deriva. As vogais, contudo, podem ser representadas por sinais gráficos acima das consoantes, parecidos com acentos: os chamados diacríticos.
O alfabeto cirílico é derivado do grego. São Cirilo e São Metódio, conhecidos apóstolos dos eslavos, criaram esse alfabeto para escrever nas línguas dos povos eslavos que convertiam ao cristianismo. Durante o período de existência da União Soviética, o governo russo obrigou diversas outras línguas faladas no território soviético a adotar o cirílico. Essas línguas, apesar de não eslavas, passaram a utilizar o cirílico como alfabeto – é o caso do mongol, do cazaque, do quirgue e do usbeque.
O chinês, língua falada por mais de 1,3 bilhão de pessoas, não possui um sistema alfabético de escrita. No chinês, existem milhares de caracteres que significam palavras – são dezenas de milhares de ideogramas e pictogramas. Ao contrário dos alfabetos ocidentais, que representam sons através de símbolos fonéticos, o chinês representa ideias por meio da combinação de ideogramas – uma escrita metafórica, ao contrário da latina ou cirílica, que é metonímica.
O alfabeto japonês utiliza parte dos ideogramas chineses, porém utiliza dois alfabetos próprios: o katakana e o hiragana, ambos silábicos e com 46 símbolos cada. A escrita japonesa utiliza simultaneamente .
O Alfabeto Morse é constituído de uma série de sinais convencionais formados de pontos (.) e traços (-), correspondentes às letras e aos algarismos, para transmitir mensagens telegráficas.
O Alfabeto Braile é um sistema de escrita com pontos em relevo, universalmente adotado pelos cegos.
Por: Carlos Artur Matos