Saussure defende que a nossa definição de língua supõe que se elimine dela tudo que seja estranho ao organismo linguístico, ou seja, tudo que se designa por “Linguística externa”. Vale mencionar que essa Linguística inteira-se de coisas importantes e se espelha nelas quando aborda o estudo da linguagem.
A Linguística associa-se com a Etnologia para apreender as relações entre a história de uma língua e de uma raça ou civilização, afirmando que existe uma reciprocidade nessas interações. Portanto, Saussure conclui que “os costumes duma nação têm repercussão na língua e, por outro lado, é em grande parte a língua que constitui a Nação”.
A língua tem uma relação intrínseca com a história política, haja vista que grandes fatos históricos tiveram grande influência sobre inúmeros fatos linguísticos. Observa-se isso através da conquista romana e da colonização, pois quando se transporta um idioma para ambientes diferentes, este, por consequência, sofre transformações. Um exemplo é a Noruega que adotou como língua o dinamarquês quando se uniu politicamente à Dinamarca.
Outro ponto de suma importância é a relação da língua com instituições de todos os tipos, como a Igreja, a escola etc. Essa interação está ligada ao desenvolvimento literário de uma língua, fato inseparável da história política. O linguista deve examinar as relações recíprocas entre a língua literária e a língua corrente, pois, segundo Saussure, “toda língua literária, produto da cultura, acaba por separar sua esfera de existência da esfera natural, a da língua falada”.
A Linguística externa se relaciona com a geografia das línguas e o “fracionamento dialetal”, e é, sem dúvida, nesse aspecto que se relaciona com a Linguística interna, mas paradoxalmente esse “fenômeno geográfico está associado à existência de qualquer língua”; mas, “ele não afeta o organismo interno do idioma”. Sabe-se que é indispensável conhecer o ambiente em que uma língua se desenvolveu.
A Linguística externa é capaz de “acumular pormenor sobre pormenor sem sentir apertada no torniquete dum sistema”, sendo ordenada sistematicamente devido à necessidade de clareza. Já a Linguística interna, ao contrário, não admite qualquer disposição, visto que “a língua é um sistema que conhece somente sua ordem própria”. É interno tudo que concerne ao sistema e às regras, ou seja, à gramática, portanto, “é interno tudo quanto provoca mudança do sistema em qualquer grau”.
Referência:
SAUSSURE, F. Curso de Linguística Geral. Trad. De Antônio Chelini, José Paulo Paes e Izidoro Blikstein. São Paulo: Cultrix, 1995.
Por: Miriã Lira