Desde o primórdio das publicações didáticas, conforme mostra Marisa Lajolo, ocorre um distanciamento entre o livro didático e a língua portuguesa. A começar pela precariedade do ensino de língua materna no Brasil, descrito pela autora desde o século XIX até final do século XX, fato atribuído à precariedade que herdamos da colonização.
Autores como Manuel Frasão, Rui Barbosa, Sílvio Romero e José de Alencar são citados no que tange a questão da má qualidade do livro didático elaborado com a prioridade nos fins lucrativos, feito às pressas, sem a preocupação com conteúdo e metodologia adequados, assim como, era necessário que deixassem um pouco a tradição no ensino de língua materna. Segundo Lajolo, o livro didático tem vocação para mercadoria e foi para isto que nasceu, portanto, os fins educativos recebiam pouca ou nenhuma prioridade.
Esse é o reflexo de que o acesso à leitura era dificultoso para todas as classes sociais, inclusive dentro e fora da escola, no meio dos “bem-nascidos” e dos pobres. Portanto, uma nação que não lê é considerada sem luz (razão). Os ingleses, ao visitarem o Brasil próximo à Independência, afirmaram que “uma sociedade onde as luzes não chegaram a acender-se ou, se se acenderam, foram clarão efêmero, que não ultrapassou a arcádia dos malogrados inconfidentes mineiros…”.
Cabe ao professor escolher qual livro didático deseja adotar, caso não tenha essa permissão, ele tem o direito de escolher trabalhar com o adotado pela instituição de ensino ou não. Nessa hora, vale o bom-senso e a concepção que o educador tem sobre a língua materna e seu ensino. Possuindo conhecimento sobre toda a história do livro didático, podemos de alguma maneira, modificar essa visão comercial destinada ao livro didático.
Referências
LAJOLO, Marisa. Livro didático e língua portuguesa: parceria antiga e mal resolvida. In: LAJOLO, Marisa. Do mundo da leitura para a leitura do mundo. 6.ed. São Paulo: Ática, 2000.
Por: Miriã Lira