O manifesto é um texto produzido por um indivíduo ou um grupo estabelecido que possua caráter reivindicatório ou estabeleça um posicionamento dessa pessoa ou grupo em relação a um contexto.
Os manifestos usam tom afirmativo-imperativo, expondo uma visão e defendendo pontos de vista. Geralmente exigem e sugerem mudanças em relação a um status quo, e constróem um cenário ideal decorrente das opiniões defendidas pelos seus autores.
Segundo dicionários, “manifestar” é um verbo que se refere a tornar algo público, pronunciar-se para o público. Desse mesmo verbo deriva o substantivo “manifestação”: uma reunião ou movimento que possui como fim expressar e defender uma ideia.
O manifesto pode estar ligado a um grupo ou posição política, mas também pode fazer parte de um grupo social, uma empresa, uma organização de qualquer natureza ou, basicamente, qualquer indivíduo ou grupo que defenda um posicionamento.
Exemplos de manifestos
O Manifesto comunista, de Marx e Engels, de 1848, é um dos mais conhecidos e aborda os princípios do comunismo. “Das Kommunistische Manifest” em seu idioma original, o alemão, é comumente confundido e tomado por outras das obras de Karl Marx, sobretudo “O Capital”. O manifesto de Marx é um livro breve e conciso, um manifesto de fato – enquanto que “O Capital” é um tratado técnico na área econômica, com diversos volumes de conteúdo técnico.
O trabalho de Marx e Engels exalta os valores do proletário como classe de destaque na sociedade moderna e dita a maneira como essa classe deveria clamar e exigir o seu devido prestígio. Em um breve trecho:
“De todas as classes que hoje se defrontam com a burguesia, apenas o proletariado é uma classe realmente revolucionária. As outras classes decaem e por fim desaparecem com o desenvolvimento da indústria moderna, mas o proletariado é seu produto mais autêntico.”
Já o “Manifesto Liberal de Oxford”, de 1947, trata dos princípios da política liberal. O documento foi desenvolvido como iniciativa de belgas, britânicos e noruegueses. Até hoje o manifesto faz-se presente presente e envolve partidos e lideranças liberais políticas de todo o mundo através do órgão conhecido como a Internacional Liberal. Um breve excerto dá uma ideia da tônica do documento:
“A supressão da liberdade econômica conduz ao inevitável desaparecimento da liberdade política. Opomo-nos a tal supressão, quer esta se deva à estatização da propriedade ou a monopólios, cartéis ou trusts privados. Apenas admitimos o controle do Estado sobre as tarefas que excedam o âmbito da iniciativa privada ou nas áreas em que a concorrência já não funcione.”
No Brasil, um exemplo de manifesto, no âmbito político e social, é o “Manifesto da Confederação Abolicionista do Rio de Janeiro”, de 1883, em que sociedades libertadoras brasileiras se colocam contra a escravidão vigente na época.
O manifesto ainda é uma maneira de se agir perante problemas sociais, colocando em prática a visão de um grupo a respeito de temas que precisam de determinada atenção. Um exemplo disso é o “Manifesto 2000 – Por uma cultura de paz e não violência”, criado por ganhadores do prêmio Nobel da Paz. O documento fala de formas de conseguir mudanças por meio do diálogo e da não-violência.
Os manifestos não são, entretanto, apenas políticos. Eles também estão muito ligados a movimentos de outras naturezas, como a arte, por exemplo.
Estrutura de um manifesto
Um manifesto deve ser organizado com título, desenvolvimento que explore a questão abordada – apontando problemas e reivindicações – e exposição de seu idealizador ou de seus idealizadores.
É comum a manifestos uma estrutura organizada em itens e subitens, especialmente quando o movimento que faz o manifesto estipula regras ou normas que considera viáveis. Também é comum a manifestos expressar local e data da ocorrência – como modo de estabelecer o primeiro passo das mudanças que o documento visa conseguir.
É importante observar que esse gênero textual, apesar de argumentativo, apresenta seu assunto de maneira mais incisiva. O tom de um manifesto é extremamente positivo, imperativo e doutrinário. Os autores buscam impor a sua opinião e, a despeito de qualquer argumentação, por mais aprofundada que possa ser, não admitem alternativa à sua visão.
Manifestos artísticos
Os manifestos artísticos reivindicam mudanças nas produções artísticas na maneira com que uma escola ou um grupo de artistas enxerga a arte, o momento vivido e o futuro da sua produção. Grandes escolas e grupos organizados de artistas, ao longo do tempo, publicaram manifestos que iniciaram movimentos importantes dentro dos vários segmentos da arte:
- Manifesto Futurista (1909)
- Manifesto das Sete Artes (1923)
- Manifesto da Poesia Pau-Brasil (1924)
- Manifesto Surrealista (1924)
- Manifesto Antropófago (1928)
- Manifesto da Arte concreta (1930)
- Manifesto do Teatro Arusa (2005)
- Manifesto Versatilista (2007)
Esses manifestos, em sua maioria, trazem não apenas ditames e determinações de como a arte deve ser produzida e conduzida, mas argumentam a visão que levou os artistas manifestantes a concluir o disposto.
No texto desses manifestos é possível ver, quase que sempre, trechos que critiquem de maneira a destruir padrões e conformidades das escolas e vertentes artísticas que esses manifestos visam modificar. No Manifesto Surrealista, por exemplo, há trechos que ferem frontalmente a visão realista da arte, que era comum até o início do século XX: “a atitude realista é fruto da mediocridade, do ódio, e da presunção rasteira. É dela que nascem os livros que insultam a inteligência.”
Referências:
Por: Carlos Artur Matos