Ortografia (do grego orthós, correto, + graphê, escrita) é um conjunto de regras que instrui como escrever as palavras, empregar os sinais gráficos e pontuar corretamente um texto.
A ortografia é um produto cultural e uma convenção social, ou seja, é elaborada por pessoas especializadas na área, atendendo às necessidades da sociedade ou comunidade linguística em que é praticada.
Na língua portuguesa, a ortografia, como a concebemos hoje, provém de uma série de acordos ortográficos realizados entre os países lusófonos (aqueles em que se fala o português). Mais do que diferenciar se uma palavra é escrita com CH ou X, esses acordos sempre buscaram, muitas vezes sem sucesso, a unificação da língua portuguesa nos países de língua oficial lusitana.
A eficácia da comunicação escrita muito se deve à ortografia. A padronização da grafia dos sons é o que permite, por exemplo, que, ao ler este texto, você seja capaz de compreendê-lo e interpretá-lo.
Entender o funcionamento da língua é imprescindível para qualquer bom leitor ser capaz de aprimorar suas competências interpretativas. Ao destacarmos a ortografia como um dos elementos responsáveis para a clareza de um texto e da comunicação, é necessário ter em vista que a padronização do sistema linguístico acontece de maneira seletiva, e que, mesmo nas questões de uso da língua, contexto social e individualidades deverão, sempre, ser fatores levados em consideração.
Regras gerais de ortografia
A escrita da língua portuguesa é normatizada por uma série de regras ortográficas gerais. Graças a essas regras, a língua escrita consegue reproduzir uma parte significativa da expressão oral.
Uso do Ç
REGRA | EXEMPLOS |
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Em substantivos terminados em TENÇÃO (referentes a verbos derivados de -TER) | atenção (ater), contenção (conter), manutenção (manter), retenção (reter) |
Em substantivos derivados de vocábulos terminados em -TIVO | ação (ativo), relação (relativo), aflição (aflitivo) |
Em substantivos derivados de vocábulos terminados em -TOR | redação (redator), atuação (ator), infração (infrator) |
Em substantivos derivados de vocábulos terminados em -TO | exceção (exceto), intenção (intento), relação (relato), eleição (eleito) |
Em substantivos derivados de verbos dos quais se retira a desinência -R | educação (educar), traição (trair), plantação (plantar) |
No presente do subjuntivo e no imperativo de verbos terminados em -ECER | aconteça (acontecer), amanheça (amanhecer), restabeleçam (restabelecer) |
Em palavras de origem árabe e indígena | açude, muçulmano, muriçoca, paçoca |
Uso do E
REGRA | EXEMPLOS |
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Em verbos terminados em -OAR e -UAR | magoe (magoar), perdoe (perdoar), flutue (flutuar), atue (atuar) |
Uso do I
REGRA | EXEMPLOS |
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Em verbos terminados em -AIR, -OER e -UIR | sai (sair), trai (trair), dói (doer), corrói (corroer), possui (possuir), diminui (diminuir) |
Uso do G
REGRA | EXEMPLOS |
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Em substantivos terminados em -AGEM, -IGEM, -UGEM | garagem, linguagem, origem, vertigem, ferrugem Exceções: pajem, lambujem |
Em palavras terminadas em -ÁGIO, -ÉGIO, -ÍGIO, -ÓGIO, -ÚGIO | contágio, colégio, prodígio, relógio, subterfúgio |
Uso do J
REGRA | EXEMPLOS |
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Em palavras de origem tupi, africana e árabe | jiboia, jerimum, pajé (tupi); acarajé, jiló (africana); alforje, alfanje (árabe) |
Em palavras derivadas de outras terminadas em -JA | laranjal, laranjada (de laranja); cerejeira (de cereja) |
Na conjugação dos verbos terminados em -JAR ou -JEAR | Arranjei tempo para você. (verbo arranjar) Para que eles viajem, precisam, primeiro, de férias, (verbo viajar) Pássaros gorjeiam, (verbo gorjear) |
Em palavras cognatas ou derivadas de outras que já contêm J | nojo – nojento, nojeira, enojado sujeito – sujeitar(-se), sujeição, subjetivo |
Uso do S
REGRA | EXEMPLOS |
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Nos sufixos -ÊS, -ESA, indicando nacionalidade, origem ou título | calabresa, português, marquês, baronesa |
Nos sufixos -ENSE, -OSO, -OSA (que formam adjetivos) | catarinense, circense, palmeirense, amoroso, horroroso, tedioso, deliciosa, gasosa, cuidadosa |
No sufixo -ISA (indicador de nomes próprios e de ocupação feminina) | Luísa, poetisa, sacerdotisa |
Após ditongo, quando houver som de /z/ | lousa, ausente, coisa, náusea |
Em palavras derivadas de verbos terminados em -NDER ou -NDIR | compreensão, compreensivo (compreender); suspenso, suspensivo (suspender); expansão (expandir); confusão (confundir) |
Em palavras derivadas de verbos terminados em -ERTER ou -ERTIR | inversão (inverter); diversão (divertir) |
Na conjugação dos verbos pôr (e seus derivados) e querer | pus, compôs, repusermos, supusemos, quiserem, quisessem, quis |
Em palavras derivadas de outras que já apresentam S | analisar (análise); pesquisa (pesquisar); alisar (liso) |
Uso do SS
REGRA | EXEMPLOS |
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Em palavras derivadas de verbos terminados em -CEDER | excesso, excessivo (exceder); intercessão (interceder); acesso (aceder) |
Em palavras derivadas de verbos terminados em -PRIMIR | impressão (imprimir); depressão, depressivo (deprimir) |
Em palavras derivadas de verbos terminados em -GREDIR | agressão, agressiva, agressor (agredir); progresso, progressista (progredir) |
Em palavras derivadas de verbos terminados em -METER | promessa (prometer); compromisso, compromissada (comprometer) |
Em sufixos formadores do superlativo sintético de alguns adjetivos | lindíssima, amicíssimo, altíssimo |
Nas desinências do pretérito imperfeito do subjuntivo de todos os verbos | estudasse, anotassem, lesse, vendêssemos, aplaudisse, repartissem |
Uso do X
REGRA | EXEMPLOS |
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Em palavras iniciadas por EN-, a não ser que derivem de vocábulos iniciados por CH- (encher – cheio) | enxaqueca, enxame, enxerido, enxerto, enxugar, enxurrada |
Em palavras iniciadas por ME- | mexer, mexerica, México Exceção: mecha (substantivo) |
Após ditongos | abaixar, ameixa, paixão, frouxo Exceções: recauchutar (e derivados); guache |
Em palavras de origem indígena e africana e em palavras aportuguesadas do inglês | xavante, xará, abacaxi (indígena); xingar, caxumba (africana); xerife, xerox (inglesa) |
Uso do Z
REGRA | EXEMPLOS |
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Nos sufixos -EZ, -EZA (formadores de substantivos abstratos a partir de adjetivos) | surdez (surdo); invalidez (inválido); limpeza (limpo); nobreza (nobre) |
Nos sufixos -IZAR (formador de verbos) e -IZAÇÃO (formador de substantivo) | civilizar, civilização; autorizar, autorização; utilizar, utilização |
Em palavras derivadas de outras que já apresentam Z | razoável, razoabilidade, arrazoar (razão); azulejar, azulejado, azulejador (azulejo) |
As dificuldades da ortografia do português
A ortografia portuguesa causa um desequilíbrio cognitivo que relativiza a ideia de equivalência entre sons e letras. Em alguns casos, um mesmo som é representado por letras diferentes: o som /z/, por exemplo, pode ser representado por três letras diferentes, como em vaso, exame e azul.
O contrário também acontece, ou seja, uma só letra representa mais de um som, como a letra X, em máximo (som de /s/), abacaxi (som de /ch/) e êxito (som de /z/).
Há ainda o caso de uma só letra representando dois sons (o X de táxi representa os sons /ks/) e duas letras para um só som (rr, ch, Iti, nh, qu, gu, ss, xc, sc, sç). Há até uma letra, o H, que não corresponde a nenhum som (homem).
A importância da ortografia
Em função dos problemas que envolvem a ortografia como convenção, mecanismo linguístico e fator discriminatório, muitos pesquisadores propõem uma convenção ortográfica essencialmente fonética, em que cada letra corresponda a um único som e vice-versa. O objetivo pretendido é fazer com que a ortografia seja um facilitador da comunicação. Todavia, outro empecilho, de mais difícil equação, surge: na hipótese de se estabelecer um projeto assim, as pronúncias das várias comunidades linguísticas fariam com que houvesse registros escritos diferentes, prejudicando a compreensão e afetando a comunicação.
Sob esse prisma, verifica-se que a ortografia é essencial para a manutenção da língua: é ela que preserva sua unidade, já que é imune à variedade geográfica que permeia a oralidade. Um texto escrito pode ser entendido por qualquer falante de uma mesma língua, independentemente da comunidade linguística em que é falada. Esse é, aliás, o grande argumento dos defensores da proposta de unificação da ortografia dos países lusófonos.
Resolvendo dúvidas de ortografia
Quando uma dúvida quanto à ortografia de uma palavra aparece, a solução mais apropriada é consultar um bom dicionário ou gramática.
Porém há ocasiões em que isso não é possível. Nesses casos, pode-se recorrer a alguns recursos, entre eles:
- substituir a palavra por um sinônimo que não cause dúvida quanto à grafia;
- reformular a frase para evitar o emprego daquela determinada palavra;
- procurar palavras de mesmo radical (quando possível). Por exemplo: aconselhar ou aconçelhar! Pensa-se em conselho; portanto, a grafia só pode ser aconselhar;
- escrever a palavra nas versões possíveis a fim de contrastá-las. Por exemplo: análise – análize. Por meio da diferença, busca-se na memória a lembrança de como a palavra estava escrita quando vista anteriormente.
Por: Paulo Magno da Costa Torres
Veja também:
- Regras de Acentuação Gráfica
- Emprego dos Sinais de Pontuação
- Uso da Vírgula
- Uso do Hífen
- Uso da Crase
- Uso dos Porquês