A depender do contexto ou uso, uma mesma palavra pode ter dois, três ou inúmeros significados distintos. A própria entonação ou mesmo origem que quem utiliza a palavra pode dar a ela um significado diferente – a isso chamamos de polissemia (poli = vários e semia = significado), ou seja, a possibilidade de uma palavra indicar ideias completamente diferentes.
Ainda que algumas palavras tragam essas diferenciações em descrições no dicionário, a verdade é que a polissemia pode ocorrer com praticamente qualquer palavra num idioma.
Exemplos de polissemia
A fala coloquial, a forma de nos expressarmos no cotidiano, cria polissemias que se tornam regras e, mais tarde, passa inclusive a compor descrições em dicionários. Alguns exemplos disso podem incluir:
O verbo “ver”
Podemos usar o verbo ver dentro do seu significado formal – de “enxergar” ou “observar”. Entretanto, em alguns contextos esse mesmo verbo pode ser utilizado com o significado de “verificar”, “dar” ou “passar”, por exemplo, como nas frases:
- Márcio, pode me ver o sal? (passar)
- O senhor me vê aquele pedaço mais avermelhado? (dar)
- Amanhã, vê se o médico está disponível para o fim do dia. (verificar)
Outros exemplos de significação polissêmica frequente incluem os verbos “dar” e “mandar”, como nas frases seguintes, onde o significado original desses verbos dá lugar a outro:
- Ele deu um pulo na cidade. (estar, aparecer)
- O relógio deu duas horas agorinha mesmo. (soou, bateu)
- Ele manda bem na cozinha. (desenvolver-se)
- Manda ver nesse projeto. (agilizar, ir em frente)
A propaganda abaixo também se vale do efeito gerado pela polissemia.
Nessa propaganda, há duas possíveis compreensões: quem lê o jornal fala bem dele, recomenda-o para os outros ou, então, quem o lê adquire bom vocabulário, por isso se expressa bem. A ambiguidade do verbo “falar”, nesse caso, é totalmente positiva, pois amplia a qualidade do produto anunciado.
Quando buscamos o significado de determinada palavra no dicionário, podemos nos deparar com diversos. Ali estão incluídos alguns significados originais de cada palavra, e outros que foram sendo adicionados com o tempo, pelo uso constante da polissemia no cotidiano da língua. Contudo, em outros casos ainda – gírias, regionalismos ou figuras de linguagem – a polissemia é utilizada de forma “não-oficial”.
Por exemplo, quando pegamos diferenças regionais drásticas – como aquelas existentes entre o portuguẽs brasileiro e o português europeu – a polissemia se torna ainda mais evidente. “Penso”, em Portugal, pode ser tanto o presente do indicativo do verbo “pensar”, na primeira pessoa, quanto um curativo do tipo band-aid. No Brasil, enquanto isso, a palavra “legal” ainda mantém o significado de algo relativo a leis, porém também significa algo bom, agradável, um sentido que não existe em Portugal.
Diferença entre homonímia e polissemia
A polissemia, no entanto, muitas vezes se confunde com a chamada homonímia. A homonímia ocorre, basicamente, quando duas palavras de origem completamente distinta, por acaso, têm a mesma grafia. Trata-se de origens distintas que levam à mesma grafia, e não de uma ressignificação de um vocábulo existente, como ocorre na polissemia.
É o caso de “manga” (de camisa) e “manga” (fruta), por exemplo. Os homônimos ainda ocorrem em três formas distintas – as palavras podem ser homófonas (mesma pronúncia, mas grafias distintas), homógrafos (mesma grafia, mas com diferentes pronúncias) e homônimos completos, quando as duas hipóteses ocorrem.
Referências:
- ALVES, Ieda Maria. Polissemia e homonímia em uma perspectiva terminológica. ALFA: Revista de Linguística, v. 44, 2000.
Por: Carlos Artur Matos