Vocativo é o termo dentro de uma oração cuja função é a de evocar, chamar, convocar ou nomear algo ou alguém. Gramaticalmente, o vocativo é geralmente um “caso”, sendo que no português ele não acarreta qualquer declinação, ou seja, não gera nenhum tipo de mudança ortográfica ou morfológica no substantivo que é “evocado”.
Ao contrário do que ensinam algumas escolas, o vocativo pode estar no início, no final ou no meio da oração. Reconhece-se o vocativo geralmente pela entonação que o caracteriza, o que inclusive explica o nome desse caso gramatical (pois ele é “vocal“).
No português, contudo, a expressão vocativa não gera modificações e inflexões no restante do texto. Desse modo, o vocativo na língua portuguesa não configura exatamente um “caso”, mas sim uma função sintática do substantivo ou do pronome.
Na escrita, o vocativo deve vir isolado por sinais de pontuação – geralmente vírgulas. Como ele independe do restante da oração e não influi na informação do restante do texto, é graficamente colocado em separado na oração.
Nos exemplos, é importante verificar como, se excluído, o vocativo (em negrito), não modifica o significado do restante da oração:
- Bem-vindo, irmão!
- Explique-me, meu amigo, como essa conta chegou a esse valor.
- Jefferson, já reservou as passagens?
- Sente-se, Marcelo.
Outro aspecto importante do caso vocativo é a forma com que ele pode evidenciar o próprio narrador. De forma simples cada um desses casos é possível supor as relações humanas existentes entre o narrador e o interlocutor, assim como o tipo de discurso. No primeiro caso, pode se tratar de um irmão dando as boas vindas a outro, ou podemos estar nos referindo a um culto, seita ou grupo que dá as boas vindas a um novo membro.
Na segunda frase, o termo “amigo” parece estar sendo usada de forma irônica. Pode se tratar de um cliente em um restaurante, questionando o garçom a respeito do valor da conta. Na terceira frase, “Jefferson” pode estar sendo cobrado pela esposa a respeito das passagens.
Em termos de entonação, geralmente o vocativo carrega de forma mais acentuada a entonação de toda a oração. Por exemplo, se a oração for uma pergunta, o vocativo receberá de maneira mais acentuada essa entonação. Numa frase que represente uma ordem, o peso mais autoritário estará no vocativo. Se representar um pedido, o vocativo terá um tom de súplica e assim por diante. O vocativo também pode também vir precedido de interjeição (eh!, olá!, ó), caracterizando-se por natureza exclamativa.
- Ei Ana, tira essa roupa do varal.
- Eh! Maurício, você é um homem de sorte!
O vocativo é, portanto, uma unidade linguística à parte da estrutura oracional, pois não se relaciona sintaticamente com outro termo de sua formação. Veja a tirinha abaixo:
Nessa tirinha, Sofia conversa com seu livro e o interpela, chama-o pelo vocativo “meu amigo”. Perceba que essa unidade linguística não diz respeito a nenhum outro termo da oração em que está inserida, mas, sim, a seu interlocutor, o livro.
Vocativo e aposto
Vocativo e aposto, às vezes, podem ser confundidos, como em:
- Você, minha amiga, está certa do que quer?
A dificuldade começa quando a maioria dos professores afirma que o “aposto está sempre entre vírgulas”. Contudo, “minha amiga” na frase anterior não introduz qualquer tipo de explicação ou informação nova à frase, e claramente tem como objetivo realizar uma “evocação” ou chamar a atenção do interlocutor. Nesse caso, estamos lidando com um vocativo.
Diferença de vocativo e aposto
O aposto anexa-se a um substantivo ou pronome, esclarecendo-o, resumindo-o ou desenvolvendo-o. Isso significa que o aposto sempre introduzirá uma informação nova à oração. Vamos usar a construção anterior de outro modo, para mostrar como um aposto seria diferente.
- Você, funcionária de longa data nesta empresa, está certa do que quer?
Ao substituir “minha amiga” pela expressão anterior, excluímos o vocativo e introduzimos um aposto. Agora, há muita informação sendo incluída na oração em relação ao sujeito “você”. O trecho em negrito também não pretende “chamar” ninguém, trata-se mesmo de algo introduzido na frase para qualificar e especificar o pronome “você”.
Cuidado com a vírgula
Não usar vírgulas em trocas de mensagens instantâneas é comum no contexto informal desse tipo de diálogo. Entretanto, especialmente na comunicação escrita e no seu viés mais formal, a supressão de pontuação pode tornar-se um problema de comunicação.
Imaginemos uma troca de mensagens informal. E consideremos duas frases bastante similares:
- O carro, velho, não está dando partida.
- O carro velho não está dando partida.
Na primeira oração, temos alguém se referindo a um amigo como “velho”, simplesmente falando que o carro – que ambos parecem já saber do que se trata – não liga. Na segunda frase omitimos apenas as vírgulas, e o vocativo desapareceu – agora temos apenas um automóvel velho que não quer dar a partida.
A simples omissão das vírgulas no vocativo pode levar a frases truncadas nas quais o significado ou intenção se torna difícil de ser percebido – em alguns casos impossível.
Por: Carlos Artur Matos