Vestibulares como os da Unicamp e Unesp, no Estado de São Paulo, oferecem ao candidato a possibilidade de optar por uma carta. Sua abordagem é dissertativa e, portanto, deverá ser fundamentada por meio de evidências, juízos, exemplos – que poderão ser narrativos ou descritivos -, admitindo a expressão em 1ª pessoa.
Assim, qualquer que seja o assunto ou tema proposto, encaminhará o candidato à defesa de um ponto de vista que deve ser exposto de forma dissertativa, apresentando tese, argumentação e conclusão.
Observe que o vestibular avalia o corpo da carta, cujo conteúdo e linguagem atestarão a capacidade discursiva do aluno, sua opinião, seus argumentos, sua destreza linguística.
Caso o tema dado apresente como destinatário uma autoridade ou instituição, o vestibulando deverá empregar o pronome de tratamento adequado. Se for dirigida a um amigo, a linguagem poderá ser simples, em razão da intimidade do autor com o destinatário.
O candidato não deve assinar a correspondência, pois a carta no vestibular é sigilosa. Lembramos que o destinatário e o vocativo são opcionais.
Observações preliminares
- A carta sempre apresenta uma questão central: um pedido, uma comunicação, uma declaração etc. Para que essa questão seja apresentada, é necessário situar o interlocutor – aquele a quem a carta se dirige – na situação particular que motivou a existência da carta.
- Situar o interlocutor na questão é, em geral, um momento de narração, pois quem escreve vai expor a questão motivadora da carta.
- Feita a exposição do problema, é necessário argumentar, apresentar os motivos que fundamentam o pedido, a declaração etc., que é o tópico básico da carta, o porquê de ela existir. É o momento da dissertação.
- A linguagem deve ser adequada ao perfil do interlocutor.
- A carta precisa ter a indicação do local onde foi produzida – o nome da cidade – e a data, com o mês escrito por extenso.
Proposta comentada
Suponha que você não tenha podido prestar exames vestibulares em dezembro, ou que os prestou, mas não foi aprovado(a); suponha ainda que, em fevereiro, lendo nos jornais a lista de aprovados, você tenha descoberto que um número muito grande de vagas da Unicamp não foi preenchido; suponha finalmente que, preocupado não só com o fato de perder um ano, mas, sobretudo, com o desperdício representado pela manutenção de vagas ociosas em uma universidade pública, você tenha decidido escrever uma carta ao reitor da Unicamp, sugerindo a realização de novos vestibulares e argumentando a favor de tal proposta.
Comentários
O exemplo apresenta uma proposta em que o interlocutor é o reitor da Unicamp, e a carta deve apresentar motivos que fundamentem a realização de novos vestibulares, já que você não pôde prestar ou não foi aprovado no último exame feito pela instituição.
Nessa proposta, há um argumento já no enunciado: o número de vagas da universidade não teria sido preenchido no primeiro vestibular, decorrendo disso o desperdício representado pela manutenção de vagas ociosas em uma universidade pública.
Atenção ao pronome de tratamento (no caso, Vossa Magnificência) e à complementação de outros argumentos que, aliados ao que já está no enunciado, fundamentem a defesa de seu ponto de vista.
Principais pronomes de tratamento:
- Vossa Alteza para príncipe, rei.
- Vossa Eminência para cardeal.
- Vossa Excelência para arcebispo, bispo, deputado (federal e estadual), embaixador, general, governador de Estado, juiz, ministro, prefeito, presidente da República, secretário de Estado, senador, vereador.
- Vossa Magnificência para reitor.
- Vossa Majestade para rainha, rei.
- Vossa Reverendíssima para sacerdote.
- Vossa Santidade para papa.
- Vossa Senhoria para chefe de seção, diretor de repartição pública, funcionário público (abaixo de – ministro), major, oficiais até coronel, tenente, tenente-coronel.
Observe que ao utilizar na carta qualquer dos pronomes de tratamento o verbo deverá ficar na 3ª pessoa do singular, assim como os demais pronomes. Exemplo:
Vossa Excelência poderá ocupar o gabinete, tão logo seu pedido seja deferido.
Orientações para elaboração da carta
- Informar a respeito de onde e de quando tal carta está sendo escrita – cidade e data.
- Chamamento do interlocutor (atenção ao pronome de tratamento).
- Autoapresentação do remetente: o candidato deve apresentar-se e apresentar o motivo da correspondência – quem é o candidato e por que escreve para a pessoa. Essa autoapresentação, com o motivo, é a introdução e deve ser feita logo no primeiro parágrafo.
- Apresentação dos argumentos que fundamentam o ponto de vista de quem escreve, com utilização da coletânea de textos, se houver, e de elementos fornecidos pelo enunciado. É o desenvolvimento da carta e deve ter quantos parágrafos forem necessários para o bom desenvolvimento da argumentação.
- Finalização do texto, com as despedidas, explicitando que a carta chegou ao fim. Sempre é interessante uma reafirmação dos propósitos da carta nesse momento. É a conclusão do texto.
- Como, geralmente, o interlocutor não é conhecido de quem escreve, é preciso que haja um mínimo de distanciamento e de formalidade, seja no conteúdo, seja na linguagem, com a obediência aos princípios da norma culta.
Esquema:
- Informação de onde e quando se escreve a carta.
- Chamamento do interlocutor.
Esses dois itens fazem parte da estrutura canônica da carta.
- Autoapresentação do remetente e apresentação do assunto da carta.
- Argumentação – causas/exemplos.
- Despedida e reafirmação da finalidade da carta.
Esses três itens formam a estrutura canônica da dissertação: introdução, desenvolvimento e conclusão.
Por: Renan Bardine