A divina comédia, composta entre 1307 e 1321, é uma das maiores obras literárias de todos os tempos. Nas três partes do poema, escrito em tercetos encadeados, Dante Alighieri narra uma viagem alegórica ao mundo dos mortos.
Em um longo poema alegórico, Dante descreve sua peregrinação pelo Inferno, Purgatório e Paraíso, acompanhado do poeta latino Virgílio nos dois primeiros e da sua amada Beatriz no terceiro.
Resumo da obra
A divina comédia começa quando Dante tem 35 anos. Depois de viver em pecado, ele decide percorrer o caminho que leva à virtude. Encontra em um lugar inóspito Virgílio, cuja Eneida desperta grande admiração em Dante. O poeta anuncia seu propósito de guiá-lo pelo mundo dos mortos até Deus.
Travessia do rio Aqueronte
Dante e Virgílio se dispõem a atravessar o rio Aqueronte, que separa o mundo dos vivos do dos mortos. Eles fazem isso por meio da barca de Caronte, que se encarrega de levar os mortos de uma margem à outra.
O barqueiro pede que Dante se afaste dos mortos, já que ele ainda está vivo, mas Virgílio o tranquiliza explicando que Dante conseguiu permissão de Deus para fazer a viagem pelo além.
O Inferno
Depois de cruzar o rio, os peregrinos avistam o Inferno, que é como um grande agulheiro em forma de funil, com nove círculos concêntricos separados entre si; em cada um deles pessoas diferentes pagam seus pecados: avarentos, luxuriosos, violentos, mentirosos etc.
Cada um deles recebe um tipo diferente de tormento, em função de qual pecado os levou até ali. No Inferno, Dante e Virgílio encontram inúmeros personagens da Antiguidade clássica, como Paris, Helena, Cleópatra e Dido.
Também olham, de fora, uma terrível parte do Inferno, a cidade de Dite, onde Lúcifer é o rei. Nesse lugar, reservado aos hereges, moram criaturas horrorosas, como as Érinis, deusas da vingança, que têm o corpo coberto de sangue e a cabeça de cobras, e a Medusa, a assustadora criatura que petrifica quem olha para ela.
Os condenados ao Inferno
Através de diferentes lugares no Inferno, Dante tem a oportunidade de conversar com os condenados, que narram as ações que os levaram até lá.
Dessa maneira, ele se encontra com muitas pessoas que conheceu durante a vida e com uma multidão de personagens seus contemporâneos, conhecidos por sua participação na vida política de Florença ou relacionados com o Vaticano, como quando conversa com o papa Nicolau III, que está condenado no oitavo círculo por cometer simonia (crime de se beneficiar economicamente por meio das coisas sagradas, como sacramentos e benefícios eclesiásticos).
O Purgatório
Os peregrinos chegam ao Purgatório, lugar em que as almas se purificam antes de entrar no Paraíso. O Purgatório é representado por uma montanha muito alta em uma ilha, dividida em sete degraus — cada um simbolizando um dos pecados capitais —, um antepurgatório e o Paraíso em cima.
Visitam cada um dos degraus, onde veem os pesarosos, os descuidados, os avaros etc. Como o Purgatório prepara as almas para entrar no Paraíso, cada grupo de pecadores observa casos de virtude opostas ao seu pecado, e os põem em prática. Por exemplo, os glutões expiam sua culpa passando fome.
Aparição de Matilda e procissão alegórica
Depois de visitar o Purgatório, Virgílio se despede, pois como não viveu na Cristandade não pode subir ao Paraíso. Dante fica acompanhado de Matilda, dama formosa e cheia de virtude, que lhe explica como é o Paraíso. Junto a ela passa uma procissão que representa, com figuras simbólicas, a história da Igreja e suas glórias.
Beatriz e o Paraíso
No Paraíso, Dante é guiado por sua amada Beatriz, modelo de virtude. O Paraíso é formado por nove céus, e pelo empíreo, nos quais se vivem progressivos graus de felicidade e beatitude, de maneira que no empíreo fique Deus. Dante chega até ali pelas mãos de Beatriz e se deleita diante da contemplação de Deus.
Análise de A divina comédia
Por meio das pessoas que vai encontrando, condenadas ou beatificadas, Dante resume a história da humanidade e expressa a visão medieval do mundo, com seus problemas sociais, políticos e religiosos. Também julga, em sua viagem seus contemporâneos, especialmente os relacionados à política florentina da época, da qual Dante participou ativamente.
Pela ótica do humanismo cristão dos fins da Idade Média, não se pode ocultar a própria emoção diante da condição humana e dos dramas de seus semelhantes, o que acaba antecipando o humanismo renascentista.
A divina comédia tem um complexo significado alegórico. A peregrinação do poeta pelo Inferno, Purgatório e Paraíso simboliza o caminho que tem de fazer o homem pecador (Dante) desde o pecado até à pureza que o leva à graça, purificando as más inclinações.
O significado alegórico da obra se apoia em um poderoso sistema de símbolos: a própria estrutura do poema se baseia nos números simbólicos três e nove. O três expressa, na mentalidade cristã medieval, a perfeição divina, já que Deus é representado por três pessoas: Pai, Filho e Espírito Santo. As partes do poema são três.
Três são os versos de cada estrofe (chamada de terceto), nos quais, sendo versos de 11 sílabas, cada estrofe tem 33 sílabas. O nove, múltiplo de três, potencializa o valor desse último número e também determina a estrutura: cada uma das três partes da obra se divide em nove círculos.
Por: Wilson Teixeira Moutinho