Publicado em 1977, ano da morte da autora, A hora da estrela é um romance que apresenta três histórias superpostas dialogando por toda a narrativa. De cara o romance já surpreende, por apresentar 13 títulos possíveis.
Resumo do livro:
Primeira narrativa
A obra de Clarice Lispector apresenta três histórias. A narrativa central é a história de Macabéa contada pelo narrador Rodrigo.
O narrador apresenta Macabéa de forma demorada e descontínua. Ao sintetizar que “o seu viver é ralo” e afirmar que ela era “incompetente para a vida”, relata suas origens: nascera raquítica, no sertão de Alagoas. Ficara órfã aos dois anos, fora viver em Maceió com uma tia beata, que lhe dava cascudos no alto da cabeça e a privava da goiabada com queijo, a única paixão de sua vida.
Vou agora começar pelo meio dizendo que – que ela era incompetente. Incompetente para a vida. Faltava-lhe o jeito de se ajeitar. Só vagamente tomava conhecimento da espécie de ausência que tinha de si em si mesma.
Depois vieram para o Rio de Janeiro, a tia conseguiu um emprego para ela e veio a falecer posteriormente, Macabéa então foi morar com mais quatro colegas de quarto.
Tudo na pensão era muito sujo e triste e combinava com Macabéa, cuja única diversão era ouvir a Rádio Relógio, que dava “hora certa e cultura”, mas ela não sabia direito o que fazer com as informações.
Segunda narrativa
A segunda narrativa se desenvolve paralelamente, mas encaixada na narrativa principal. Conta a história do narrador, que se apresenta como Rodrigo S. M. e se coloca ao mesmo tempo como autor da primeira narrativa. Dessa forma, fala o tempo todo sobre ele mesmo, e sobre a elaboração da obra.
Terceira Narrativa
A terceira narrativa é metalinguística e, portanto, encaixada na narrativa paralela. Seria, pois, a história de se escrever uma história (dificuldades da criação, da estruturação, da escolha das palavras).
A vertente metalinguística promove o grande elo entre as duas linhas narrativas: escrever o livro é, para Rodrigo, escrever Macabéa e escrever a si mesmo.
A história de Macabéa
Certo dia, Macabéa resolve mentir ao chefe que precisa ir ao dentista e tira um dia só para si, No dia seguinte, caminhando pelas ruas, conhece um nordestino como ela.
Olímpico é tão insignificante quanto Macabéa, mas era orgulhoso, vaidoso. Dizia-se metalúrgico, pois achava mais importante do que “operário”,
O casal passeava e aproveitava o que era de graça: banco de praça pública, ruas e avenidas, e, às vezes, paravam para um café. O diálogo entre os dois era quase impossível.
Olímpico, pela falta de atração física pela namorada e mesmo de diálogo com ela, rompe o namoro ao conhecer Glória, colega de trabalho de Macabéa. Olímpico e Glória começam a namorar e esta, sentindo-se culpada, aconselha à Macabéa que procure uma cartomante, para que ela desfaça sua má sorte.
Madama Carlota, ex-prostituta, põe as cartas à nordestina e espanta-se com a vida horrível de Macabéa. Carlota, porém, diz que tudo iria mudar a partir do momento em que Macabéa saísse de sua casa. Conheceria um estrangeiro rico chamado Hans, que lhe daria muito amor; ela iria engordar e até teria mais cabelo. Macabéa sai de lá desorientada e feliz.
Quando sai da casa da cartomante, é atropelada por Hans, que dirigia um automóvel Mercedes-Benz, momento em que a vida se torna “um soco no estômago”.
Macabéa ao cair ainda teve tempo de ver, antes que o carro fugisse, que já começavam a ser cumpridas as predições de madama Carlota, pois o carro era de alto luxo. Sua queda não era nada, pensou ela, apenas um empurrão. Batera com a cabeça na quina da calçada e ficara caída, a cara mansamente voltada para a sarjeta. (…)
A morte dela é o momento em que Eros (Amor) se une a Tanatos (Morte), vida e morte, num momento doce, e sensual.
Chegamos, afinal, ao momento da epifania do narrador fundido à Macabéa: é a vida que grita por si mesma, independente da opressão e da marginalização social. O momento, entremeado com silêncio, da consciência a que se chega pelo ato de escrever.