A peça Auto da Compadecida, escrita por Ariano Suassuna em 1955 e publicada em 1957, reúne a tradição dos autos medievais, a literatura picaresca espanhola e a literatura de cordel, tão difundida no Nordeste brasileiro.
É perceptível que o Auto da Compadecida recebeu grande influência dos autos de Gil Vicente. Porém, a peça de Suassuna também se aproxima do pitoresco ao ter a presença de um anti-herói, que é João Grilo, personagem popular que devido à esperteza e ingenuidade dá à peça um caráter cômico.
O protagonista dribla a má sorte de uma vida de miséria e fome no sertão do Nordeste com sua esperteza e trapaças, ao seu lado sempre está o amigo Chicó. É importante frisar que João Grilo e Chicó são recriações das personagens da Comedia dell’Arte italiana e de personagens da literatura universal.
Resumo do Auto da Compadecida
Como o próprio Ariano Suassuna (1927) declara no prefácio do livro, seu teatro “é mais aproximado dos espetáculos de circo e da tradição popular do que do teatro moderno”. Por isso o comando do espetáculo fica a cargo de um palhaço, que funciona como elo entre a história a ser contada e a plateia.
Tendo João Grilo como personagem principal, o auto apresenta 15 personagens, entre eles a Compadecida (Maria, mãe de Jesus), o Encourado (demônio) e Manuel (Jesus Cristo). Chicó, famoso por suas mentiras, é o melhor amigo de João Grilo, e com ele fará a dupla picaresca da história.
As travessuras de João e Chicó
Uma das travessuras de Chicó é mentir para que o padre benza o cachorro já doente da mulher do padeiro, patrão de Chicó. No entanto, o animal acaba morrendo. Então a mulher exige que o padre enterre seu cachorro numa cerimônia em latim. Dessa vez é João Grilo que mente, dizendo que o cachorro deixara um testamento.
Padre João enterra o cachorro, o Bispo descobre a maluquice do padre, mas quando ia suspendê-lo, novamente João Grilo mente sobre o testamento.
Grilo dá uma punhalada na bexiga. Com a sugestão, Chicó cai ao solo, apalpa-se, vê a bexiga e só então entende. Ele fecha os olhos e finge que morreu.
Enganado pela dupla, Severino ordena a um de seus homens que atire nele e em seguida toque a gaita para fazê-lo renascer. Após o tiro o cangaceiro toca a gaita, mas percebe que ela não funciona. Chicó e João Grilo o atacam e João lhe dá uma facada na barriga, mas ao saírem, já com o testamento que pegaram de Severino do Aracaju, o cangaceiro, que ainda não estava morto, atira e mata João Grilo.
O julgamento
Após a morte de João Grilo e a lamentação de Chicó, o palhaço retorna, indica a posição que os defuntos devem assumir e anuncia o início do julgamento. Entram, o Encourado e, pouco depois, Manuel. Como ele veio com a aparência de um negro, João Grilo estranhou.
Embora Manuel ouvisse com carinho as acusações, a situação de todos estava muito ruim, e o inferno parecia já muito próximo. Até que João Grilo chama por Nossa Senhora, a Compadecida, que intercede por todos.
Manuel os perdoa e encaminha para o céu Severino, o cangaceiro; os outros cinco ficarão no purgatório.
A João Grilo foi permitido voltar para a Terra.
Quando Grilo aparece a Chicó, este pensa se tratar da alma do amigo. Certificando-se de que ele estava vivo, fica muito feliz, assim como João Grilo, que só lamenta que teria de dar o dinheiro do testamento da cachorra a Nossa Senhora, em paga da promessa que fez para que ela o salvasse.
Estrutura da Obra
Tempo: é psicológico, pois é atemporal ao representar uma situação que foi e continua a ser vivida pelo nordestino.
Espaço: O espaço físico é Taperoá, no interior da Paraíba. O espaço psicológico é o Tribunal Celeste após a morte do protagonista.
Personagens: as personagens de Suassuna são tipos heróicos que integram o cômico, satírico e picaresco. Tipos que misturam a literatura de cordel, a oralidade, os cantadores e os autos populares religiosos.
Referência Bibliográfica
- SUASSUNA, Ariano. Auto da Compadecida. 34 ed./3ª imp. Rio de Janeiro: Agir, 1999.
- Auto da Compadecida. Análise comentada. Disponível em: <http://sejaetico.com.br/novo/professor/em/analise-de-livros>. Acesso em 10 fev. 2013.
Por: Miriã Lira