Publicada em 1934, Emília no País da Gramática faz parte da produção infantil de Monteiro Lobato (1882-1948), já nessa época tido como grande contista. A protagonista é a boneca Emília, que sugere ao grupo do Sítio do Picapau Amarelo uma nova aventura.
Viagem ao País da Gramática
A esperta boneca Emília, protagonista da obra, sugere, nesta obra de Lobato, uma nova aventura: uma viagem ao País da Gramática.
Com a ajuda do rinoceronte Quindim (que já aparecera numa aventura anterior, em Caçadas de Pedrinho, publicado em 1933), partem para lá Emília, Pedrinho, Narizinho e o Visconde de Sabugosa.
Quindim vai dando explicações, à medida que adentram o estranho país, situando e caracterizando, ainda à distância, as várias cidades que o compõem: Portugália, Anglópolis, Galópolis, Castelópolis, Italópolis, entre outras, que representam as línguas portuguesa, inglesa, francesa, espanhola e italiana, respectivamente.
As informações sobre cada parte da gramática vêm naturalmente, por meio dos personagens.
A Senhora Etimologia
O grupo de visitantes segue aprendendo pouco a pouco algo mais das estruturas internas que compõem a gramática. São apresentados aos substantivos, aos adjetivos, aos verbos e advérbios, seguindo-se as preposições, conjunções e interjeições.
Em determinado momento, o grupo passa pela casa da Senhora Etimologia, que explica a um bando de filólogos, gramáticos e dicionaristas a passagem de palavras do grego para o latim, e por aí afora. Quindim solta um tremendo “muuu!” pelo buraco da fechadura – onomatopeia que espanta todos os que estão ocupando a sala da velha Etimologia – e ela fica livre para dar atenção à turma do sítio. Emília, como sempre, a interrompe para solicitar explicações sobre a palavra “boneca”.
A reforma ortográfica da Emília
O lado visionário de Monteiro Lobato nada tinha de fantasioso; ao contrário, era o aspecto mais racional, político, patriota e questionador de sua personalidade inquieta. Por meio das falas de seus personagens infantis, o autor expunha seus pontos de vista, prevendo muitas vezes mudanças futuras.
Tal característica aparece nessa obra quando a turma visita a velhinha chamada Ortografia Etimológica.
No capítulo “Emília ataca o reduto etimológico”, a boneca faz uma revolução ditatorial, simplificando a grafia das palavras – para que as crianças leitoras possam aprender algumas regras da nova grafia. Mas isso ainda não é suficiente para Lobato.
Emilia danou.
– Não quero! Não admito E besteira da grossa. Eu fiz a reforma ortográfica para simplificar as coisas e eles com os tais acentos estão complicando tudo. Não quero, não quero e não quero.
De fato, após a publicação dessa obra, ainda houve diferentes reformas ortográficas, como Lobato previra. Quando retornam ao sítio, todos que viajaram para o País da Gramática voltam muito mais sabidos.
Lobato e o país do conhecimento
Não só os habitantes do sítio voltam das aventuras mais sabidos, mas também os leitores. Por meio de seus personagens, que viajam em busca do conhecimento, Lobato pretendia incitar nas crianças o desejo de aprender. O autor se preocupava em tomar o conhecimento algo divertido, conforme testemunha uma carta que escreveu a seu amigo Oliveira Viana, em 1934:
“Numa escola que visitei a criançada me rodeou com grandes festas e me pediram: ‘Faça a Emília no país da aritmética’. Esse pedido espontâneo, esse grito d’alma da criança não está me indicando um caminho? O livro, como o temos, tortura as pobres crianças – e no entanto poderia diverti-las, como a gramática da Emilia está fazendo. Todos os livros podiam tomar-se uma pândega infantil”, (in NUNES, Cassiano. Monteiro Lobato vivo.)
Essa carta também registra o quanto Emília no país da gramática fez sucesso entre os pequenos leitores.
Por: Paulo Magno da Costa Torres