O longo poema I-Juca Pirama (aquele que há de morrer), é considerado por muitos o melhor poema indianista brasileiro (apresenta índios como personagens).
Gonçalves Dias, o autor, é o primeiro grande poeta do Romantismo brasileiro, sua poesia caracteriza-se pelo equilíbrio e pela harmonia.
O sentimento religioso, o patriotismo, o gosto pela natureza e a simpatia pela raça indígena dizimada são, no plano estilístico, resultante de uma longa vivência com a tradição poética em língua portuguesa, o que confere aos seus versos o equilíbrio adequado entre a intenção e a expressão, isto é, entre o que o poeta deseja escrever e o que efetivamente escreve.
Resumo
I-Juca Pirama narra a história de um guerreiro tupi que conduz o pai cego pela floresta. Quando este lhe pede comida e bebida, o filho, à procura de alimentos, cai prisioneiro dos timbiras.
Os guerreiros timbiras, num ritual antropofágico, devoravam os inimigos, desde que ele não manifestasse covardia.
Durante o ritual, num determinado momento, chamado de Canto de Morte, o prisioneiro deveria dizer quem era e se era um bravo. Foi nesse momento que o guerreiro tupi pediu que não fosse devorado, dizendo ser apoio de um pai cego.
Se fosse considerado bravo, ele seria devorado, porque os timbiras acreditavam que se fortaleceriam com a ingestão da carne do inimigo. Se fosse considerado covarde, seria libertado, porque temiam ingerir a fraqueza de um covarde.
Os timbiras entendem tratar-se de um covarde e o libertam, pois um guerreiro bravo não poderia chorar e pedir por piedade na hora da morte.
Libertado, o filho retorna ao pai. Este, ao saber que o filho chorara em presença da morte, maldiz o filho e o leva de volta à aldeia timbira para que seja devorado. Sozinho, o guerreiro tupi desafia todos os guerreiros timbiras, demonstrando, assim, sua coragem.
A história é narrada por um “velho timbira”.
Análise
A primeira geração poética do Romantismo brasileiro tem como tema principal o indianismo. A ideia da bondade natural dos primitivos tem sua origem nos Ensaios de Montaigne e, posteriormente, no “mito do bom selvagem” de Rousseau.
O índio brasileiro, visto pelos primeiros viajantes que aportaram nas terras brasileiras ora como um ser dócil, ora como um selvagem canibal, transformou-se, para a primeira geração romântica, em elemento de simplicidade que contrasta com a malícia e a hipocrisia do europeu.
Como ocorre em I-Juca Pirama, o índio será o símbolo do espírito livre, da coragem e da integridade de caráter, dotado de princípios morais rígidos, capaz de comparar-se ao mais nobre dos cavaleiros medievais europeus.
Por: Wilson Teixeira Moutinho