A indústria, com seu conteúdo tecnológico, passou a ditar o padrão da racionalidade e do consumo. Pode-se afirmar que, com o advento do capitalismo em sua fase industrial, a cultura da sociedade passou a ter, ao lado da cultura erudita e da cultura popular, uma terceira dimensão: a cultura de massa.
Embora o termo cultura de massa se relacione ao processo de concentração humana nas cidades, em especial das classes populares, a cultura de massa não pode ser confundida com cultura popular. Afinal, enquanto esta é, em boa medida, a expressão de resistência das camadas mais populares ao domínio da cultura erudita, a cultura de massa é típica das sociedades que passaram por uma mercantilização da produção cultural.
A cultura de massa é resultante da invasão dos produtos industriais no universo da cultura. Pode-se dizer que toda expressão simbólica ou material, como a moda, produzida para o mercado consumidor é cultura de massa. Esta visa entreter, preencher os vazios da vida nos tempos de descanso do trabalhador. Não há nisso, necessariamente, um conteúdo de oposição ou de comunicação com a cultura erudita como até então havia no jogo entre cultura popular e cultura das elites.
Jurgen Habermas escreveu:
“A cultura de massas recebe o seu duvidoso nome exatamente por conformar-se às necessidades de distração e diversão de grupos de consumidores com um nível de formação relativamente baixo, ao invés de, inversamente, formar o público mais amplo numa cultura intacta em sua substância”.
HABERMAS, Jürgen. Mudança estrutural da esfera pública. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1984. p. 195.
Nesse sentido, a cultura de massa não informa por si a confrontação entre produções culturais da elite e populares. Na verdade, é uma conjunção da cultura elitizada e da cultura do povo, que está orientada para a produção de uma expressão cultural que possa ser consumida, na sua totalidade, tanto pelo povo quanto pela elite.
A cultura de massa promove uma interação da cultura polida e ilustrada com a cultura informal e não instituída, com a finalidade de provocar o consumo extensivo de bens simbólicos.
É nessa descaracterização e diluição que se pode transformar a cultura em objeto de comércio e de ganhos econômicos, ou seja, a cultura de massa não pode ser dissociada da própria lógica capitalista do lucro. A cultura de massa é aquilo que também pode-se chamar de indústria cultural, afinal é produzida para ser consumida como produto, como mercadoria. Dessa forma, ela é desprovida dos antigos nexos entre a cultura erudita e a popular, funcionando como uma espécie de liquidificador cultural.
Cultura de massas e cultura para as massas
Para alguns autores, como Edgar Morin, a cultura de massa, formatada por interesses econômicos, opera na imposição de símbolos e mitos de fácil universalização: cria tipos reconhecíveis, mas descontextualizados e empobrecidos pela homogeneização.
Denys Cuche chama atenção para o fato de que a cultura de massa não pode ser entendida como sinônimo de “cultura das massas”, mas pode ser situada como “cultura para as massas”. É interessante notar que a cultura popular se encontra no espaço em que os produtores e disseminadores são o as classes populares, o povo. Num quadro histórico em que a maior parte da população está localizada nas cidades, é possível perceber que a cultura popular pode ser entendida como a “cultura das massas”. A “cultura para as massas” é aquela
dirigida pelo interesse econômico de produtores culturais – que de produtores têm muito pouco, ou seja, empresários que exploram o consumo da cultura pelas massas.
Algumas teorias de manipulação afirmam que os meios de comunicação de massa estabelecem valores, ditam a moda de consumo e participam ativamente da construção de uma cultura massificada. Tais teorias postulam que a população é uma espécie de massa amorfa sobre a qual poderes instituídos na lógica capitalista atuam sem que haja resistência.
No entanto, autores como Umberto Eco discordam dessa visão simplificadora do assunto. Para esse pensador, no que concerne à recepção, não se pode considerar que as pessoas sejam meros receptáculos passivos de manipulação, pois, se assim o fosse, não teriam existido transformações sociais que romperam com sistemas dominantes na história do século XX. Além disso, as formas de leitura, de assimilação da cultura produzida industrialmente, não são iguais para todos que participam dessa cultura de massa.
Atualmente, a cultura de massa já não é tão onipotente quanto era há algum tempo. A conscientização aumentou, por meio da ação de ONGs e movimentos sociais, da aceitação do uso de meios de mídia eletrônica por parte de grupos alternativos (rádios comunitárias, Internet e produção musical independente). Somem-se a isso as mudanças sofridas pela própria indústria cultural, pois a sociedade impõe-se por meio da interatividade, mas isso não significa dizer que a cultura de massa não seja muito operante.
Bibliografia:
- CUCHE, Denys. A noção de cultura nas ciências sociais. Bauru: Edusc, 1999.
- SEVCENKO, Nicolau. A corrida para o século XXI: no loop da montanha-russa. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.
Por: Wilson Teixeira Moutinho