Sociologia

A Imigração Ilegal Para os Estados Unidos

A fronteira dos EUA com o México tornou-se um ponto de encontro para imigrantes legais ou ilegais, que todos os dias tentam entrar nos EUA. A cada crise econômica mexicana, levas e levas de imigrantes tentam passar ilegalmente pela fronteira de 5.000 km de extensão, obrigando os americanos a criar um sistema de vigilância sistemático.

Trata-se principalmente dos “braceros“, mão-de-obra não-especializada que vai para os EUA em busca de trabalho temporário. Há, nos EUA e no México, redes de tráfico de mão-de-obra, explorando a condição de dependência dos migrantes ilegais, com práticas que vão desde a emissão de documentos falsos até o pagamento compulsório de taxas a seus “protetores”.

A fronteira entre os dois países é na atualidade um dos mais claros limites entre o mundo rico e o mundo pobre. Em quase toda essa faixa fronteiriça, existe um muro intercalado por trechos de arame farpado, controlado diuturnamente pela guarda de fronteira norte-americana e por sofisticados sistemas eletrônicos cujo objetivo é impedir a todo o custo a entrada de imigrantes ilegais nos Estados Unidos.

Causas e consequências da imigração ilegal

Fronteira entre México e EUAA cada dia, milhares de pessoas atraídas pela riqueza da maior potência econômica do mundo, tentam cruzar essa fronteira em busca de uma nova vida. Os que não conseguem, permanecem na região esperando uma nova oportunidade.

Esta situação gerou uma verdadeira “explosão demográfica” no norte do México, já que além dos próprios mexicanos, multidões de quase toda a América Latina para lá se dirigem. Essa situação gerou enormes bolsões de pobreza que nada ficam a dever às favelas brasileiras. Situação semelhante se repete, em menor escala, no lado norte-americano, como é o caso de McAllen (Texas), considerada a cidade com os piores índices de pobreza em todo os Estados Unidos.

Se o ritmo atual de imigração para o norte do México for mantido, analistas preveem que, em cerca de 25 anos, mais ou menos 40% dos mexicanos estarão vivendo nos estados localizados junto à faixa de fronteira. Atualmente, já vivem na região quase 20% dos mexicanos. Em 1990, eles não chegavam a 15%.

Esse expressivo crescimento demográfico se explica também pelo fato de que foi nesta área que, nas últimas décadas, se instalaram quase 2 mil fábricas de empresas norte-americanas, aproveitando especialmente a baixa remuneração da mão-de-obra mexicana. Conhecidas como “maquiladoras“, estas unidades fabris se localizam em cidades mexicanas junto à fronteira tendo do outro lado uma cidade “gêmea” dos Estados Unidos. De maneira geral, as maquiladoras funcionam da seguinte forma: do lado mexicano ficam as linhas de montagem e do outro lado da fronteira, os setores administrativos.

Há cidades “gêmeas” ao longo de toda a fronteira, como são os casos de El Paso (EUA) e Ciudad Juarez (México), Laredo (EUA) e Nueva Laredo (México) entre outras. A geração de empregos pelas maquiladoras e a emigração para os Estados Unidos aparecem como alternativas para a melhoria de renda da população pobre.

Imigrantes ilegaisO crescimento das maquiladoras contribuiu também para a formação de uma dinâmica região industrial no México setentrional, atividade que anteriormente estava quase exclusivamente concentrada na região central do país.

A cada dia cruzam a fronteira do México para os Estados Unidos cerca de 1 bilhão de barris de petróleo, 400 toneladas de pimenta, 240 mil lâmpadas, além de US$ 51 milhões de peças de todo o tipo.

O narcotráfico e o tráfico de imigrantes

A fronteira é também uma faixa de tensão geopolítica devido ao tráfico de drogas, armas e dos fluxos de imigração ilegal.

Escondidas em fundos falsos de caminhões, caminhonetes e vans viajam toneladas de remédios banidos por lei, sapatos feitos com pele de animais em extinção, armas de todos os tipos, além de heroína, maconha e cocaína. O combate aos cartéis do narcotráfico é um dos pontos centrais das relações entre México e os Estados Unidos.

O tráfico de imigrantes ilegais tornou-se também um problema de segurança nacional no México. Seu “comércio”, que movimenta cerca de US$ 5 bilhões anuais, é controlado por máfias com ramificações em todo o mundo.

Os “guias” desses imigrantes ilegais, conhecidos como coiotes, chegam a cobrar 5 mil dólares por travessia. Nas últimas duas décadas não foram poucos os imigrantes que perderam a vida na tentativa de chegar aos Estados Unidos. Embora parte deles seja capturada pela polícia de fronteira norte-americana e mandada de volta para o México, estimativas apontam que a cada ano transitam pela fronteira cerca de 1 milhão de imigrantes ilegais.

Entre outros fatores, é por isso que o Acordo de Livre Comércio da América Norte (Nafta), apenas refere-se aos aspectos de livre comércio entre os países membros. Em nenhum momento sugere a livre circulação de pessoas.”

Os riscos e consequências da travessia ilegal

Riqueza, saúde, bem-estar, etc. São esses os fatores que atraem imigrantes ilegais para os Estados Unidos. Principalmente, do México e de países latinos. Mais é isso que eles encontram lá?

Um deserto, um rio, uma forte polícia na fronteira, muito calor de dia e muito frio a noite. Se eles conseguirem sobreviver a tudo isso, terão que passar por empregos que podem ter abusos de todo tipo, geralmente de baixa remuneração, trabalhos pesados e até jornada diária mais longa do que o permitido.

Cenas da novela “America” mostraram todo esse sofrimento. Mas, nem sempre na vida real há um final feliz, como nas novelas:

“Geralmente, os imigrantes morrem na fronteira ou são capturados. Várias pessoas gastam entorno de 30 mil reais para fazer uma viagem que não dará em nada e ainda tentam novamente.”

É tentação demais para os mexicanos, que, desde que os americanos optaram por reforçar a fronteira californiana, passaram a ir para o Arizona, onde a divisa é pouco policiada, gerando uma situação cujo potencial explosivo só agora começa a ser avaliado. Na falta de guardas de fronteira, os fazendeiros da região, irritados com os imigrantes ilegais – que, garantem, cortam cercas, danificam bombas de água e deixam lixo em pastagens -, assumiram o policiamento.

São várias as histórias de imigrantes ilegais que tentam entrar no país pelo Arizona e são mortos por fazendeiros. Um deles, atingido por um disparo na virilha ao se aproximar de um fazendeiro, implorando por um gole d’água, foi abandonado no deserto, onde sangrou até morrer. Um dos fazendeiros, Roger Barnett, proprietário de uma área na fronteira, chegou a capturar cerca de 3 mil imigrantes ilegais em apenas 5 meses. No Arizona, os imigrantes ilegais custam cerca de US$ 15,5 milhões anuais às cidades da fronteira, em despesas com processos envolvendo acusações de roubo e outros delitos.

Os perigos, contudo, não desestimulam os candidatos a um emprego nos EUA, onde o salário, mesmo para quem não tem documentação, pode superar os US$ 6 por hora, contra US$ 2 ou menos por dia no México. Hoje em dia, um em cada nove mexicanos vive nos Estados Unidos. Imigrantes respondem por 31% da mão-de-obra não-especializada empregada no país. Mais da metade dos 2,5 milhões de trabalhadores rurais nos EUA são imigrantes ilegais.

É com isso que sonham tantos brasileiros que vêm pros Estados Unidos: riqueza, conforto, segurança ou, no mínimo, um emprego com bom salário. Mas é a morte o que muitos encontram no caminho, como mostra um comercial da patrulha de fronteira americana.

Há muitas razões para cruzar a fronteira, nenhuma vale mais do que a sua vida“, prega o comercial.

Deixei minha esposa, meu filho de dois meses e meio, minha mãe”, conta um brasileiro.

Passamos frio, fome, fomos maltratados, muito maltratados. Eu me perguntei diversas vezes o que eu estava fazendo ali. Por que depois que você chega ali é que você vê. Eu não tinha a necessidade de estar ali. Voltar era pior”, diz uma mulher.

Estes brasileiros já haviam cruzado a fronteira quando os encontramos. Ao chegar aos Estados Unidos, exaustos, se entregaram à patrulha e foram presos.

Durante 30 dias, sob um sol escaldante, atravessaram o México, passando por lugares infestados de cobras.

“A mulher foi picada por uma cobra, os coiotes tiveram que assassinar ela. E perguntaram ao noivo dela e o noivo deixou que atirassem nela”, relata o homem.

Para os imigrantes ilegais, esta é a última etapa antes de entrar nos Estados Unidos: a fronteira com o México. O que os separa do sonho americano é apenas um rio. Menos de 50 metros de distância aqui neste ponto. É para atravessá-lo que tantos brasileiros arriscam tudo, inclusive a vida.

A fiscalização da fronteira

Mais de 15 mil agentes fiscalizam a fronteira. Toda a extensão do rio é monitorada por câmeras e iluminada durante a noite. Caminhões que entram nos Estados Unidos passam por aqui. Parece um prédio, mas é um gigantesco equipamento de raio-x que revela o que existe por trás até mesmo de metal. É para descobrir se, no compartimento de carga, há drogas, contrabando ou imigrantes.

Os patrulheiros que percorrem o rio de barco vão armados com fuzis militares M-16. De vez em quando têm que enfrentar contrabandistas e traficantes de drogas. Mas uma das principais missões deles é salvar pessoas que caem no rio. Apesar de ser estreito, é bastante profundo. Num trecho são 20 metros de profundidade e em alguns pontos a correnteza é bem forte. Por isso, quem cai aqui corre o sério risco de se afogar. A cruz na beira é uma lembrança disso.

Todos os anos, dezenas de pessoas são encontradas mortas pela patrulha nesta região. Os patrulheiros sobem e descem o rio em busca dos lugares preferidos para travessia. Num dos trechos, eles avistam sinais. Encontram roupas, sacos com remédios, pertences deixados para trás na tentativa desesperada de entrar nos Estados Unidos.

Por toda a região, a patrulha instalou sensores embaixo do solo. Quando alguém passa, o alarme dispara e os imigrantes são presos.

Os brasileiros que o jornal encontrou na rodoviária de McAllen já haviam passado por tudo isso. Estavam esperando um ônibus para uma cidade no norte dos Estados Unidos. Eles tiveram os passaportes apreendidos e foram soltos, sob a condição de se apresentar à Justiça daqui a seis meses.

“A maioria não se apresenta. Aí você passa a ser procurado. Aí a vida complica mais ainda”, diz um imigrante.

Levarão uma vida de foragidos. Se forem encontrados, serão deportados ou irão para a cadeia.”

Bibliografia:

http://noticias.terra.com.br/mundo/interna/0,,OI491818-EI318,00.html
http://noticias.terra.com.br/mundo/interna/0,,OI371563-EI318,00.html

Por: Renan Bardine

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