Tratar do indivíduo e entendê-lo como um componente da sociedade é, antes de tudo, compreender que, para fazer parte dessa sociedade de forma plena, não basta nascer no seu interior é preciso haver um processo de socialização.
O nascimento biológico não é o social. Embora para os pais de uma criança o nascimento tenha um sentido e para a sociedade também, o recém-nascido não tem noção nenhuma disso, sendo um ser biológico marcado por instintos.
Os bebês iniciam seu processo de socialização com a mãe. Essa é a primeira comunicação que, em grande medida, estabelecerá o vínculo do recém-nascido com o mundo. A mãe é o fundamento da inserção da criança no universo social. Estudos psicanalíticos informam a importância dessa relação para o estabelecimento de padrões comportamentais da criança.
Aos poucos, a criança terá de aprender códigos, regras e a comunicação se dará em outro plano. Começa, assim, um processo de educação, de aprendizado que levará muito tempo e que, aos poucos, fará com que os sentimentos sejam nomeados e trabalhados em função das ações.
O ser humano não nasce pronto para a vida social; nasce dependendo do outro: é um ser gregário, mas não um ser social. A socialização é um processo que envolve instituições sociais como a família, a escola, a Igreja e o Estado, entre outras.
Compreender o processo de socialização é considerá-lo como algo eminentemente cultural. Embora o homem seja dotado de instintos que possam pontuar suas ações, é a assimilação de valores e regras que fornece as balizas da ação social e de pertencimento do indivíduo a uma determinada sociedade.
Podemos dizer que a socialização é uma espécie de hábito constituído por uma formação cultural dada a um ser que nasceu no interior de uma sociedade. É este hábito que lhe permitirá atuar nesta sociedade.
Para o estudioso Pierre Bourdieu, que desenvolveu o conceito de habitus, existe um sistema de disposições duráveis do indivíduo que define o processo de socialização. Este habitus é fruto de condições sociais passadas, de práticas e de representações.
A questão que se apresenta é: de que forma há a construção desse hábito que permite a integração do indivíduo à sociedade?
Socialização primária e secundária
Os pesquisadores deste processo costumam estabelecer dois níveis de socialização: primária e secundária.
A socialização primária corresponde aos primórdios do processo e se circunscreve à família e à escola. São os pais, os tios, os avós e os professores aqueles que passam as primeiras noções de regra, de comportamento aceito pela sociedade que deve ser repetido pela criança. Pode-se afirmar, também, que os meios de comunicação de massa e, em especial, os programas de televisão possuem atualmente um papel importante nessa socialização.
A socialização secundária pode ocorrer no universo produtivo, como trabalhador; no Estado, como cidadão; em uma instituição religiosa, como fiel etc. Essa socialização se faz num tempo diferente da primária e tem, geralmente, mais amplitude em termos institucionais.
Em ambos os casos, o que existe é a internalização de normas, de regras de conduta, de afirmação de visões de mundo e possibilidades de ação que encerram um horizonte cultural. Daí entendermos que, por ser a experiência social algo histórico, existem padrões de conduta específicos de determinadas sociedades. Por exemplo, estão presentes elementos na formação de um indiano que definem um espaço social diferente daquele desenvolvido por um norte-americano.
Isso não significa dizer que não haja conflitos, discordâncias, choques no interior de uma dada sociedade só porque existem referências culturais compartilhadas, mas pode-se afirmar a existência de um padrão de sociabilidade mais ou menos internalizado pelo indivíduo que o coloca como parte integrante desta ou daquela sociedade.
Bibliografia
Marialice M. Sociologia e sociedade: leitura e introdução à Sociologia. Rio de Janeiro: LTC, 1977
BERGER, Peter L.; LUCKMANN, Thomas. A construção social da realidade. Petrópolis: Vozes, 1985.
Por: Wilson Teixeira Moutinho